‘Existem problemas maiores no mundo que um homem usando salto alto e saia’
Há cinco anos, o engenheiro mecatrônico Mark Bryan , 61, mudou completamente seu modo de se vestir. Ele passou a adotar o salto alto e saia como parte de seus visuais diários e os usa para ir ao trabalho e em eventos sociais. Homem hétero, ele se tornou um defensor das roupas de gênero neutro e da liberdade de se usar o que quiser no corpo.
O primeiro contato dele com os sapatos de salto alto aconteceu há quatro décadas. Em uma entrevista exclusiva ao iG Delas, ele conta que a primeira vez que usou os sapatos foi quando ele tinha cerca de 21 anos, quando estava na faculdade. Na época, ele morava com uma namorada que ficava muito maior que ele quando usava os sapatos .
“Ela gostava de dançar música lenta à noite e gostava de usar saltos para isso. Para ficar do mesmo tamanho que ela, eu a acompanhava e usava saltos também. A primeira vez que usei um salto foi para dançar com ela”, conta Bryan.
As saias vieram muito tempo depois, quando já tinha implementado os saltos como uma peça recorrente. O estadunidense radicado na Alemanha conta que usava os sapatos com calças e ouvia comentários de pessoas perguntando quando ele usaria uma saia para acompanhar. “Eventualmente eu comprei uma saia, vesti e pensei ‘é, eu não fico tão ruim em saias’. Isso faz quatro anos e eu as uso desde então”, diz.
O engenheiro conta que é apoiado pelos amigos homens, pela esposa e pelas filhas, que até o ajudam a criar composições estilosas para experimentar. Ao iG Delas, ele revelou que possui cerca de 50 pares de sapatos de sato alto. Mark chegou até mesmo a compartilhar seus looks em um perfil no Instagram , em que ele é seguido por mais de 245 mil pessoas.
Muitas pessoas podem achar que seu gosto dele or saltos e saias é exótico e até mesmo algo proibido. Mas para Bryan essa noção se deve à atribuição de gênero que é dada para as peças de roupa.
“Quando as pessoas me olham elas automaticamente podem pensar que sou gay, que sou feminino . Eu também já vi muitas mulheres héteros escutarem na rua que são lésbicas por gostarem de usar ‘roupas de homem’, por experimentarem algo diferente”, relata.
Ele analisa que essa ligação entre gênero e peças de roupa já não fazem mais sentido para ele. Além disso, ele afirma que passar a usar ” roupas femininas ” não fez com que sua orientação afetivo-sexual fosse alterada. “Não me sinto diferente e nem ajo de maneira mais feminina quando uso as saias”, explica. “Eu sou a mesma pessoa que era há 20, 30 anos atrás.”
O engenheiro garante que não está nem um pouco incomodado com o que pensam sobre isso, já que ele sabe que não está fazendo nada de errado. Para ele, a sociedade precisa abrir a mente para o que é diferente e aceitar que ninguém é exatamente igual.
“Existem problemas muito maiores no mundo do que um homem que usa saia e salto alto, como o racismo e os conflitos religiosos no mundo, por exemplo”, afirma.
Mark comenta que espera que a situação de homens que usam salto alto e saia se compare ao que antes era para as mulheres, quando não eram permitidas a usar calça. “Demorou muito tempo para deixar de ser uma peça de homens e se tornar uma peça neutra. Acredito que, uma hora, as pessoas vão abrir a mente nesse mesmo sentido para o salto alto e a saia”, opina.
Perguntado sobre se ele teria conselhos para passar para homens que querem adotar salto alto e saia no dia a dia, ele afirmou que o importante é fazer o que sente vontade. “Se você prefere usar apenas dentro de casa, então faça. Se você quer sair em público, sim, você vai receber algumas encaradas e coisas assim, mas vejo as pessoas que fazem piadas como fracas e inseguras com elas mesmas”, diz Bryan.
Além disso, o que o ajuda a seguir usando o salto alto e saia é fazer isso de maneira destemida e com confiança. Por esse motivo, as pessoas acabam sentindo mais medo do que estranheza em relação a ele.
Ele ainda compara a situação ao mundo animal, em que a lei do mais forte ganha. “Se você mostrar fraquezas, você se abre para os ataques. Se você mostrar que é forte e confiante, a maioria das pessoas vão te deixar em paz”.