Após novas restrições, comércio prevê efetivar menos temporários
O setor comerciário vem se posicionando contra o endurecimento de algumas regras de quarentena, como a redução de horário de funcionamento, e defende que haverá consequências para as empresas e para a economia. Uma delas é a redução da efetivação dos cerca de 220 mil trabalhadores temporários que ocupam vagas abertas para o período de fim de ano.
Representantes de entidades afirmaram ao R7 que o número de funcionários que continuarão empregados deverá sofrer uma baixa em relação aos cerca de 20% previstos anteriormente. Consequência direta da possível perda de faturamento.
O maior impacto é esperado em São Paulo, que voltou para a “fase amarela” de seu plano de combate à covid-19, reduzindo o funcionamento do comércio de 12 para 10 horas diárias e o horário máximo de funcionamento de bares e restaurantes de 23h para 22h, entre outras regras.
Outras localidades também ampliam as restrições com o avanço da pandemia e deixam o comércio em alerta. Em Belo Horizonte (MG), passou a valer na segunda (7) uma proibição de consumo de álcool em bares e restaurantes. Também nos últimos dias, Campo Grande (MS) reduziu o horário de funcionamento do comércio até 21h, e o estado de Santa Catarina implantou restrições de circulação pelas ruas de madrugada.
Para Jaime Vasconcellos, assessor econômico da Fecomercio-SP, o novo endurecimento em São Paulo afeta empresas que estavam num momento de retomada neste segundo semestre. “Medidas mais duras têm a capacidade de frear o otimismo do empresário em voltar a empregar”, afirma.
Perto do fim, programa que reduz salário tem o menor nível de adesão
Ele exemplifica com números. No pior momento da pandemia, de março a junho, foram fechados 143 mil postos de trabalho no comércio de São Paulo. Já de julho a outubro, houve geração de 67 mil vagas. Para o fim do ano, muitas empresas já contrataram em outubro e novembro para aproveitar o pagamento do 13º salário e o movimento da Black Friday. Por isso, o endurecimento das regras da quarentena não deve afetar os números de contratação dos temporários, opina, mas pode influenciar na efetivação.
“O saldo positivo de dezembro fica mais arriscado e a capacidade de efetivação desses trabalhadores temporários também. Estimamos que seriam contratados de 15% a 20%; mas esse percentual deve cair se tivermos regras rígidas”, diz.
A Fecomercio-SP critica parte das medidas estabelecidas pelo governo paulista, com a diminuição de 12 para 10 horas de funcionamento, o que tende a aumentar a concentração de pessoas e o risco em relação à covid-19, defende.
Bares e restaurantes
A preocupação é compartilhada pelo setor de bares e restaurantes. Segundo Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), esperava-se uma “explosão” do trabalho intermitente com a retomada da economia, mas o atual cenário, com mais restrições, já não permite essa previsão. Segundo ele, 65% do setor está com prejuízo.
“A situação é muito ruim. E há uma série de medidas sem sentido que dificultam a vida do empresário. Em todo lugar do mundo buscou-se usar calçadas, espaços abertos, em São Paulo, por exemplo, aconteceu o contrário”, diz. Como vai contratar em definitivo se corre o risco de fechar as portas?”, questiona.
Ele afirma que as restrições de horários noturnos, com as 22h ou 23h em muitas cidades, não são a maior preocupação no momento. Mas sim a possibilidade de fechamento total do comércio e medidas que afastam totalmente os clientes, como a proibição do consumo de álcool em bares e restaurantes de Belo Horizonte.
Trabalho temporário
A estimativa de que 220 mil vagas de trabalho temporário seriam criadas entre novembro e dezembro é da Asserttem (Associação Brasileira de Trabalho Temporário). A associação já havia previsto um dezembro pior em relação ao ano passado por conta da pandemia de covid-19. A expectativa considerando apenas o último mês do ano é gerar 90 mil vagas – 10 mil menos que em 2019.
O presidente da entidade, Marcos de Abreu, discordou do diagnóstico dos empresários e afirmou ao R7 que espera uma efetivação de 22% dos trabalhadores temporários, em nível até maior que os 15% do final ano passado. Ele argumenta que as empresas passaram o ano com quadro reduzido, em razão das incertezas trazidas pela pandemia.
“Em abril, as empresas em geral reduziram quadro de pessoal ou jornada. Depois viu-se que a coisa não era tão feia como a gente achava. Gradativamente as empresas começaram a contratar temporários, porque estavam inseguras quanto ao futuro. Assim, elas estão estão com quadro reduzidíssimo”, afirma.
Abreu afirma que, nesse cenário, o trabalho temporário é uma boa aposta para entrar no mercado. Ele recomenda ao trabalhador buscar uma agência de trabalho temporário. A Asserttem disponibiliza em seu site uma lista de agências associadas e registradas no Ministério da Economia. Veja aqui a lista.