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Capacitação, inclusão e superação

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Capacitação, inclusão e superação


Com treinamento especial de instrutores, SENAR MINAS tem sucesso na qualificação de alunos com deficiência

“Você conquistou esse certificado com muita dedicação e por ter feito um trabalho perfeito. Esta é mais uma oportunidade para você acreditar ainda mais em si mesmo, não só pela coragem, mas por ter aprendido técnicas e métodos eficazes que não oferecem risco à sua segurança e à segurança do animal.” O reconhecimento é do instrutor Marco Antônio Chaves para o participante do curso Aparação de Cascos e Ferrageamento Guilherme Barros da Silva, de 30 anos, que não tem o braço e a mão esquerda por deficiência congênita. O jovem é um dos ex-alunos com deficiência que fizeram os cursos do Sistema FAEMG/SENAR/INAES.

“Trabalho com animais há muitos anos e nunca tive uma visão como essa. Foi uma experiência maravilhosa, por meio da qual pude aprender técnicas que me permitem trabalhar com mais proteção. O fato de ter apenas o antebraço não me impede de fazer absolutamente nada, mas foi no curso que constatei que eu era totalmente despreparado e trabalhava de qualquer jeito. Agora será diferente. Que venham outros cursos porque quero continuar aprimorando meus conhecimentos”, disse Guilherme, morador de Caxambu.

Capacitação, inclusão e superação - SENAR MINAS
Guilherme, de Caxambu, trabalha com animais há muitos anos

Visando à inclusão de pessoas com deficiência permanente ou temporária e a preparação de instrutores de Formação Profissional Rural e Promoção Social, o SENAR Nacional criou o Programa Especial Apoena, que, em tupi-guarani, significa “aquele que enxerga longe”. A intenção do programa é que instrutores estimulem a capacidade de superação na diversidade, a autoestima e a confiança das pessoas com deficiência.

“O Apoena nos permite vivenciar situações como se a gente também fosse um deficiente visual, auditivo ou sem um dos membros. Durante o curso, que tem entre 24 e 32 horas, conhecemos as dificuldades do outro. Somos levados a entender que a pessoa com deficiência é que vai saber sua limitação e demandar auxílio. Precisamos nos colocar à disposição no que for preciso e facilitar o aprendizado”, explicou a gerente pedagógica do SENAR MINAS, Mírian Rocha.

Segundo ela, a instituição é uma das mais trabalharam com o programa, que é ministrado por profissionais de Brasília. O número de instrutores que participaram do Apoena equivale a 50% do quadro total. São cerca de 300 profissionais já treinados. “Nossa intenção é ampliar a formação aos mobilizadores, mas precisamos aguardar já que os encontros são presenciais, não sendo possível durante a pandemia.” 

Inclusão

Uma das premissas do SENAR MINAS é sempre buscar soluções para que todos possam ter acesso ao mercado de trabalho, garantindo a oportunidade de geração da própria renda. “Por meio dos cursos e capacitações, via Programa Apoena, promovemos a verdadeira e completa inclusão social, pois, além do resgate da autoconfiança e capacidade técnica, podemos gerar a independência financeira dessas pessoas, que poderão prestar serviços remunerados a partir dos ensinamentos adquiridos nos treinamentos do SENAR MINAS”, destacou o superintendente do SENAR MINAS, Christiano Nascif.

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Turma do curso Corte e Costura ao lado da instrutora, Luzia Jardim, e do mobilizador, Kelson Pablo Almeida Nogueira

‘Fiz das minhas mãos os meus olhos’

Um dos ex-alunos é Isaías Lucas Evangelista, de 29 anos, que convive com a Doença de Stargardt, uma condição genética rara que provoca a degeneração da retina e, consequentemente, a perda da visão. Segundo ele, enxerga “muito pouco de ambas as vistas”, sendo o olho esquerdo o mais afetado.

Morador de Bias Fortes, Isaías é criador de cavalos por hobby e já participou de cursos de Doma Racional de Equídeos, Preparação e Apresentação de Animais em Pista, Inseminação Artificial de Bovinos e Vaqueiro, entre outros. O mais recente foi o de Aparação de Cascos e Ferrageamento. Mesmo apontando algumas dificuldades, como verificar o aprumo do animal e a modelagem da ferradura, Isaías destaca a importância da sua participação. “Nos cursos anteriores, sempre havia uma dificuldade. Nesse, foram muitas devido ao alto número de detalhes, mas consegui porque fiz das minhas mãos os meus olhos.”

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Isaías Lucas Evangelista, que convive com a Doença de Stargardt

O instrutor Marco Antônio trabalhou o desenvolvimento da sensibilidade de Isaías por meio do tato. “O início foi difícil. Percebia sua insegurança ao trabalhar com a lupi, ferramenta usada no preparo da sola do casco. Fui orientando e, às vezes, segurando sua mão e seus dedos para ele sentir a profundidade do corte que deveria ser feito. Com a confiança sendo trabalhada, ele conseguiu.”

Superação

O professor da Escola Municipal de Itaboca, na zona rural de Santa Rita de Jacutinga, João Marques de Oliveira Silva participou, de forma ativa, do Programa SOS Primeiros Socorros nas Escolas. “Foi muito importante porque nos ensina como agir em situações difíceis e salvar vidas. Nunca tivemos casos de alunos passando mal ou ocorrências graves, mas me sinto seguro sabendo que poderei agir com sabedoria se necessário, seja na escola ou em casa. A instrutora me passou confiança, fazendo com que eu superasse as dificuldades por eu não ter um dos braços.”

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Professor João Marques, de Santa Rita de Jacutinga, com a instrutora Juliane Mariano e a turma do Programa Primeiros Socorros nas Escolas

Adaptação

Moradora de Piedade do Rio Grande, a ex-aluna do curso de Confecção do Vestuário Feminino, Marta Aparecida Vieira, de 47 anos, lembra com carinho das aulas. “Foi um curso muito bom com uma instrutora muito atenciosa. A mesa foi adaptada para mim, e o pedal da máquina foi conduzido por minha mão. Antes do curso, eu fazia pouca coisa, como bainhas e pequenas bolsas. Hoje, faço blusas e pijamas para mim”. Marta tem pouca mobilidade na parte inferior do corpo devido à paralisa infantil que a acometeu aos três anos. 

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Marta Vieira e a instrutora Luzia Jardim

Acompanhamento

“Quando nos deparamos, em nossas turmas, com alguém que apresenta alguma deficiência, mostramos que ele é capaz de aprender, de se qualificar e se apresentar ao mercado de trabalho.” – Marco Antônio Chaves, instrutor

“Quando encontro participantes com limitações, observo as habilidades que a pessoa já desenvolveu ao longo da vida. Dedico um tempo ao aluno, observando de perto os movimentos e verificando se não há risco de acidente. Recebo a pessoa com deficiência como pessoa, independente da limitação, seja física ou cognitiva. Acolho as dificuldades e promovo a superação de forma conjunta: eu e o participante.” – Luzia Jardim, instrutora do curso Confecção do Vestuário Feminino

“Trabalho as qualidades e as habilidades e, sobretudo, estimulo autonomia e força de vontade. Busco, ainda, passar confiança e trabalhar a motivação, visto que alguns já chegam ao curso pensando que não conseguirão executar alguma atividade. O que percebo é que, no decorrer das aulas, os participantes com alguma deficiência buscam formas de adaptação para atingir o objetivo. Ao final, todos se emocionam com os resultados. Não há limites para as conquistas. Todos somos capazes.” – Juliane Márcia Pereira Mariano, instrutora de cursos na área da saúde

Veja depoimentos de dois ex-alunos:

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25% da população

De acordo com o artigo 2º da Lei de Inclusão Brasileira (Lei 13.146 de 6 de julho de 2015), a pessoa com deficiência é “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. 

Segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo menos 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, o que representa quase 25% da população do país.

Fonte: CNA Brasil

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