Pesquisa será base para campanha sobre descarte de EPIs domésticos
Pesquisa online lançada pelo Projeto Coral Vivo quer descobrir se os brasileiros sabem se existe em suas cidades uma forma de fazer o descarte adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs) contra a covid-19, entre os quais máscaras, luvas e toucas, e se estão informados sobre esses locais. A pesquisa ficará disponível para receber contribuições das pessoas até o próximo dia 27.
A coordenadora de Educação do Projeto Coral Vivo, Thaís Melo, disse hoje (17) à Agência Brasil que há suspeita de que esse material não está sendo descartado da maneira correta. Para confirmar essa suspeita, o projeto está pedindo a ajuda das pessoas, porque muitos EPIs domésticos usados na proteção contra o novo coronavírus estão sendo descartados, inclusive nos oceanos, como resíduos comuns. “Só que eles podem estar contaminados e deveriam ser tratados como lixo hospitalar. Tem que ter um descarte adequado”, apontou. Ressaltou também que os garis e catadores podem ter contato com esse material e acabar sendo contaminados.
Segundo destacou Thaís Melo, o Projeto Coral Vivo tem uma dupla preocupação com o descarte incorreto de máscaras e luvas, principalmente. A primeira está ligada ao fato desse material estar contaminado e virando um problema de saúde pública. A segunda preocupação é a questão física da máscara que acaba indo parar nas praias e nos mares, o que tem gerado grandes prejuízos aos organismos marinhos.
Campanha nacional
A partir do resultado da pesquisa, que vai traçar um panorama da realidade, o Projeto Coral Vivo pretende fazer uma campanha nacional de descarte correto, buscando parcerias com o Poder Público, prefeituras, empresas. “Para que a gente tenha um olhar para isso e consiga desenvolver ações que minimizem os impactos que esse material contaminado possa estar gerando, não só para a sociedade, mas para o ambiente”, afirmou Thaís.
O Projeto Coral Vivo é patrocinado pelo Programa Petrobras Ambiental e desenvolve vários projetos de combate ao lixo marinho, desde trabalhos educativos com alunos, professores e gestores em unidades escolares, ações de política pública e ações mais pontuais como, por exemplo, limpeza de praias, onde o lixo é categorizado e parte dos resíduos é enviada para reciclagem. “A gente vai transformando essas ações em ações de ciência cidadã porque a gente tem no resultado a porcentagem de cada tipo de resíduo. A gente não faz só a limpeza das praias, mas depois a gente tem toda essa classificação desse resíduos que foram coletados”, manifestou a coordenadora.
Em razão da pandemia, o Projeto Coral Vivo não realizou a limpeza das praias e mares este ano e no ano passado. Mas de acordo com levantamento divulgado pela organização não governamental (ONG) Ocean Conservancy em dezembro do ano passado, estão sendo jogadas nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico 129 bilhões de máscaras descartáveis e 65 bilhões de luvas plásticas por mês. E ninguém sabe ainda em quanto tempo esse material será decomposto. A forma mais recomendada de descartar esses materiais é embalando-os em um saco plástico, que deve ser fechado antes de ser jogado na lixeira.
Ingestão
Em entrevista ao Jornal da Universidade de São Paulo (USP), o professor Alexande Turra, do Departamento de Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico da USP, chamou a atenção para os sérios riscos que correm os organismos marinhos diante do descarte incorreto desses materiais, que podem ser ingeridos pelos animais, inclusive quando se degradam no longo prazo gerando fragmentos conhecidos como microplásticos. Turra observou que a ingestão desses resíduos “leva, normalmente, a uma falsa sensação de que o organismo está saciado em termos de alimentação e isso leva os animais a um processo de inanição que acaba, muitas vezes, levando à morte”.
A pesquisa do Projeto Coral Vivo objetiva ainda conscientizar a sociedade sobre a importância do cuidado com o próximo e com os seres marinhos, muito afetados pelo grande volume de equipamentos de proteção pessoal que chega aos oceanos.
O Projeto Coral Vivo trabalha com pesquisa, educação, políticas públicas, comunicação e sensibilização para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos ambientes recifais e coralíneos do Brasil. Concebido no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), hoje é realizado por catorze universidades e institutos de pesquisa. Está vinculado ao Instituto Coral Vivo, que é o coordenador executivo do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais).
Edição: Aline Leal