Search
Close this search box.

Conceito de paz é maior que ausência de guerras, diz ministra alemã

Compartilhe

Conceito de paz é maior que ausência de guerras, diz ministra alemã


Os impactos da pandemia de covid-19 no mundo, os efeitos das mudanças climáticas, as ameaças no ciberespaço e a propagação de fake news (notícias falsas) estão entre os assuntos em destaque na Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, que é considerada o maior fórum sobre segurança internacional da América Latina. O evento, que começou hoje (16), tem como tema central Ausência de Guerras Significa paz? Estratégias de Segurança Internacional em Uma Nova Ordem Geopolítica Mundial.

Organizada pela Fundação Konrad Adenauer (KAS), pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais e pela Delegação da União Europeia no Brasil, a conferência reúne até amanhã (17) especialistas da Europa e da América Latina que participam de painéis transmitidos virtualmente e ao vivo, para o público inscrito.ebcebc

Ao participar do evento, a ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, afirmou que a ausência de guerras é apenas uma parte da paz, que hoje é um conceito é mais abrangente. Segundo a ministra, atualmente a paz é ameaçada não apenas por armas convencionais, e somente canhões não são suficientes para proteger a população. Para Annegret, a pandemia da covid-19 representa a maior crise global desde o fim da segunda guerra mundial, e seus efeitos são sentidos em todas as áreas da vida e do exercício da política.

“A saúde é um bem supremo, foi e continua ameaçada pelo vírus de forma particular. A covid-19 mostrou que não são necessárias armas violentas para levar sofrimentos incalculáveis aos homens”, disse a ministra alemã. Ela ressaltou que muitos subestimaram esse perigo por muito tempo, “apesar dos sinais alarmantes e dos efeitos visíveis e catastróficos na China e na Europa”. Annegret citou os que fizeram de sua ignorância uma virtude populista e acusou de covardia os que desdenhavam da gravidade da situação. “Com isso, colocaram em risco a segurança da própria população e acumularam em sua consciência o peso de muitas mortes. No Brasil, o vírus espalhou-se drasticamente, ceifou muitas vidas, polarizou a sociedade e desacelerou a economia. Não foi um caso de guerra, porém abalou a paz entre as pessoas”, afirmou.

Para a ministra, outro exemplo de como a inação pode ser perniciosa na vida das pessoas são as mudanças climáticas, que ameaçam a segurança e a estabilidade no mundo todo, de forma diversa. Annegre citou como exemplos enchentes que surpreendem moradores, incêndios florestais e derretimento de gelo. Além disso, o mundo atravessa ameaças no ciberespaço e a propagação de fake news facilitada com o uso cada vez maior de computadores e celulares. “Descobrir o responsável por um atentado continua sendo um dos grandes desafios, e quando não há um ataque ou um atacante explícito é difícil contra-atacar. O ciberespaço é apenas uma das vertentes das formas híbridas de guerra que estamos vendo com frequência cada vez maior nos últimos anos.”

A covid-19 também foi lembrada pelo embaixador da União Europeia para o Brasil, Ignácio Ybañez, destacando que a doença age como um multiplicador de ameaças e é fonte de instabilidade, por deixar as relações entre os principais atores cada vez com mais confrontos e unilateralismo.

“É necessário ter uma cooperação cada vez mais multilateral e baseada no direito, especialmente, também na área de segurança. A União Europeia deu passos relevantes avançando nos últimos anos no âmbito da segurança e da defesa. De fato, a União Europeia e seus estados-membros decidiram implementar um pacote de novos instrumentos para aprimorar a eficiência das suas ações neste domínio, tais como novas estruturas de comando para treinamento militar ou políticas para fortalecer a dimensão civil da defesa de defesa e segurança”, disse Ybañez.

Banalização

Na visão do contra-almirante Guilherme Mattos de Abreu, diretor do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra (ESG), o conceito de guerra foi banalizado no mundo, mas não foi alterada a finalidade do confronto com o uso de todos dos meios militares e não militares, letais e não letais para levar o inimigo a submeter-se ao que se deseja.

Para Abreu, os contenciosos de qualquer tipo passaram a ser tratados como guerra e, por isso, a banalização se estendeu a vários tipo de confrontação, sendo travados em múltiplos campos de batalha, como as guerras nuclear, financeira, diplomática, comercial, de informações, ideológica, psicológica, de bancos e do tráfico de drogas, direcionando as mentes a seu enfrentamento pelo emprego dos instrumentos mais poderosos de coerção do Estado, que são as Forças Armadas. “Isso, além de falacioso, não é eficaz para todos os contenciosos. Trata-se da mera securitização do processo”, completou o contra-almirante, que representou o Ministério da Defesa na conferência.

De acordo com Abreu, o confronto externo entre nações não necessariamente chegará ao ápice com o enfrentamento no campo de batalha, uma vez que é possível interromper o fornecimento de energia elétrica de uma cidade, provocar caos em rede telefônica, no trânsito de veículos, nos sistemas bancário e de saúde, na distribuição de água, atacando os seus centros de controle, sem que, para isso, seja necessário entrar nas edificações que abrigam tais serviços.

Abreu ressaltou que o confronto pode configurar uma guerra sem limites e com múltiplas frentes, onde “os guerreiros serão agentes contaminando redes de computadores ou capturando informações; agentes financeiros especulando com capitais, ou induzindo o mercado de ações a um colapso; operadores de mídia manipulando notícias e disseminando rumores que resultem na flutuação do câmbio, na exposição comprometedora de líderes de um país, na perda de confiança dos consumidores quanto à qualidade de alimentos, ou distorcendo conceitos como direitos humanos e ecologia; cientistas divulgando falsa ciência ou liderando agentes microbiológicos em seus laboratórios; os terroristas e as organizações criminosas”, afirmou, ressaltando que são confrontações de amplo espectro.

Direitos Humanos

O ministro da Defesa do Uruguai, Javier García Duchini, observou que seu país começou um processo de cooperação no sentido firme de gerar bem-estar social, tendo como direcionamento a paz.

“Avançar em termos democráticos e institucionalidade com estados, enfim para a separação dos poderes, eleições livres, a justiça independente e a imprensa sem censura. Isso é imprescindível. Por si só isso não garante a paz, mas apoia os direitos humanos”,afirmou Duchini.

O presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, José Pio Borges, disse que o tema deste ano não poderia ser mais oportuno e que a conferência vai contribuir fortemente para o estreitamento da cooperação multilateral entre os países da América do Sul e da Europa, visando à gestão da paz e da segurança internacionais, uma vez que o evento representa um espaço plural e aberto ao diálogo. “Mesmo em um cenário de polarização, a busca pela paz permanece um ideal a ser perseguido, e nosso papel é colaborar com esse propósito.”

Muitos participantes do encontro estarão em seus países e vão debater a partir os temas do encontro de suas residências ou gabinetes, em “mesas virtuais”. Para garantir mais inclusão e melhor compreensão para todos, o evento tem tradução simultânea nos idiomas português, espanhol, inglês e alemão e também na língua brasileira de sinais (libras).

De acordo com a organização, no ano passado, a conferência teve recorde de público, com participação de milhares de pessoas de 45 países. Na edição anterior, o tema foi Novas Fronteiras e Soberania Frente aos Desafios Globais, com debates sobre fronteiras tradicionais, econômicas e digitais,  cooperação internacional, multilateralismo, proteção e compartilhamento de dados.

Edição: Nádia Franco

Fonte:

Mais Notícias de POLÍTICA

Curta O Rolo Notícias nas redes sociais:
Compartilhe!

PUBLICIDADE