CT de Hortifruticultura debate produção de bioinsumos nas propriedades
A produção de produtos biológicos “on farm”, ou seja, dentro da propriedade rural, esteve no centro dos debates da reunião da Comissão Técnica (CT) de Hortifruticultura da FAEP, realizada nesta quarta-feira (27), por meio de uma videoconferência.
Os produtos biológicos, ou bioinsumos, são aqueles de origem vegetal, animal ou microbiana (como vírus, fungos e bactérias), destinado ao uso na produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agropecuários. Um exemplo bastante conhecido é o Bacillus thuringienis, bactéria que sintetiza toxinas que possuem ação inseticida e pode ser usada para combater diversos tipos de insetos. Outra modalidade é os macro organismos, como predadores e parasitoides, a exemplo de joaninhas, ácaros, etc.
Ocorre que esta produção precisa ser bem conduzida, de acordo com parâmetros técnicos e científicos, para evitar contaminações e obter a eficácia desejada dos produtos. Para abordar questões relativas à infraestrutura necessária e equipe técnica para uma produção eficaz e segura, foi convidada Rose Monnerat, pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das maiores referências no assunto.
Segundo Rose, o Brasil possui uma agricultura diferenciada de outros países produtores, com presença de clima quente constante, cultivos sucessivos e pragas polifagas, que são aquelas que se alimentam de diferentes culturas agrícolas. Por outro lado, estas mesmas condições permitem que tenhamos à nossa disposição diversos agentes biológicos de controle.
A pesquisadora destacou na ocasião a importância de um sistema de produção correto destes insumos. Muitos produtores vêm produzindo produtos biológicos dentro das propriedades de forma improvisada, o que – via de regra – compromete a eficácia dos produtos além de trazer outros riscos. “Vemos muitas produções inadequadas em propriedades, que podem acarretar produtos de baixa qualidade, bem como proporcionar a proliferação de patógenos indesejáveis a animais, seres humanos e ao meio ambiente”, observa.
Com objetivo de orientar produtores interessados na produção destes insumos biológicos, a Embrapa disponibilizou cursos e desenvolveu protocolos para o controle de qualidade destes agentes. Esse movimento não é descolado da realidade brasileira. Segundo a pesquisadora o mercado brasileiro de biopesticidas foi de R$ 1,17 bilhão em 2020, crescimento de 70% em relação a 2019.
Para produzir bioinsumos com qualidade e segurança dentro das propriedades, Rose destacou quatro aspectos essenciais: Estrutura física, equipamentos e insumos de boa qualidade; Coleção de trabalho contendo microrganismos bem identificados; Metodologia de produção bem estabelecida, e Corpo técnico capacitado.
Estes preceitos foram seguidos à risca pela Itaueira Agropecuária S.A., localizada no Ceará, que produz diversos produtos agropecuários, como melão, pimentão e camarão. Segundo o CEO da empresa, Tom Prado, que também fez uma apresentação na CT de Hortifruticultura, a companhia possui hoje biofábricas para produção de macro agentes, como um ácaro predador; e também micro agentes, como fungos e bactérias. Na sua opinião, uma necessidade imperativa para quem deseja produzir bioinsumos on farm é o controle de qualidade. “Começamos a usar os produtos biológico comprando de indústrias. Mas quem garante a qualidade daqueles produtos? Então no laboratório de teste de qualidade identificamos que nem todos aqueles produtos eram eficazes. Fizemos as contas e vimos que poderia valer a pena criar uma biofábrica própria”, relata.
Na equipe da Itaueira existem profissionais nos laboratórios, mas também em campo, monitorando as lavouras para verificar na prática a eficácia dos bioinsumos produzidos. “Se não der resultado no campo, mesmo que dê resultado no laboratório, não adianta nada”, reflete o CEO.