Marília Mendonça: piloto que se comunicou com equipe presta depoimento
A conversa se deu por rádio, na frequência local. É um procedimento normal nos cerca de cem voos por mês que são feitos no Aeroporto de Caratinga. Detalhe: ele fica na fronteira com o município de Ubiporanga. Então, para alguns, é o Aeroporto de Ubiporanga. Aeroporto não, ele é um aeródromo, sem voos comerciais, o que o desobriga de ter torre de comando, entre outros protocolos.
Era nele que o avião que transportava a cantora Marília Mendonda e outros dois passageiros, além do piloto e do copiloto, deveria ter pousado na tarde da última sexta-feira (5). Tudo indica que o acidente aconteceu dois minutos antes de a aeronave estar em solo. O “tudo indica” passa por uma conversa entre o piloto que guiava o avião e outro piloto da região.
Os dois se comunicaram por radiofrequência naquela tarde. O piloto, que opera alguns aviões de empresários locais e por isso é experiente no mapa cartográfico de lá, inclusive deu seu dempoimento para os órgãos responsáveis por investigar as possíveis causas do acidente.
Segundo ele, que prefere ficar no anonimanto, o piloto do avião da PEC Táxi Aéreo comunicou por radiofrequência que estava “pegando a perna de vento”. O jargão técnico da aviação significa que ele estava na última etapa do pouso, a reta final para alcançar a pista. Subadministrador do Aeroporto de Caratinga, Roni Macedo calcula que a aeronave estava a 4,8 km na hora da queda. Calculando em tempo de voo, isso dá em torno de dois minutos.
Ainda no depoimento, o piloto de Caratinga disse que, diante dessa informação, respondeu que também tinha intenção de pousar no mesmo local, mas que ainda faltava cerca de dez minutos para isso. Depois desse diálogo, não houve mais qualquer interação.
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— É tempo mais que suficiente para acontecerem os dois pousos em segurança. Tanto que o outro piloto chegou como previsto — explica Macedo.
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Aeródromo pequeno e terceirizado
O aeródromo de Caratinga é pequeno, categoria 1 pela classificação da Anac. Como faltam recursos para o poder público dos dois municípios bancarem sua manutenção e sobram aviões particulares na região, há cinco anos a administração foi terceirizada, por decreto. Segundo Macedo, é uma gestão não remunerada. Ou seja: quem cuida não ganha, mas também não gasta.
Como assim? Seguinte: o aeroporto é custeado por empresários locais, nume espécie de vaquinha. O valor varia de um mês para o outro, dependendo do que precisa ser feito.
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— Tudo de uma maneira muito amistosa, conversado em almoços entre os empresários — conta ele.
O dinheiro arrecadado nos encontros é empregado em reparos da pista, manutenção paisagística, iluminação etc. Ao longo dos anos, a estrutura vem passando por ugrades. Um hangar foi construído, assim como banheiros e uma pequena lanchonete. O horário de funcionamento é: “entre o nascer e o por do sol”. Não há voos noturnos em Caratinga. Na rotina diária do aeródromo, três funcionários dão expediente.
Manual de funcionamento
Não é preciso fazer “reserva” para usar a pista de Caratinga. Basta avisar por radiofrequência que pretende fazê-lo minutos antes do pouso. Caso nenhum outro piloto manifeste a mesma intenção no mesmo horário, a autorização está automaticamente dada.
Mas é obrigatório que o piloto consulte um documento chamado “carta de aproximação”. Nele ficam registrados os obstáculos existentes no perímetro de 4 km do aeródromo. No de Caratinga, constam um conjunto de morros e a chaminé de uma cerâmica. As torres da companhia elétrica Cemig não estão lá, pois ficam fora da obrigatoriedade de registro. Uma das hipóteses para o acidente é que a aeronave em que estava Marília tenha batido num fio de uma dessas torres, e o fio teria se enrolado no eixo existente entre a hélice e um de seus dois motores.
Macedo ressalta: “Nunca nenhum avião foi visto voando tão baixo próximo das torres. A grande pergunta é: por que isso aconteceu?”.