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Mediunidade: treinamento, farsa ou dom?

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Mediunidade: treinamento, farsa ou dom?


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Mediunidade: treinamento, farsa ou dom?
Redação João Bidu

Mediunidade: treinamento, farsa ou dom?

“Todo aquele que sente, em um grau qualquer, influência dos espíritos é, por esse fato, médium”. A definição do pedagogo e filósofo francês Allan Kardec para identificar indivíduos capazes de interagir e se comunicar com espíritos desencarnados é simples e direta.

Entretanto, quando explorada em todos os seus aspectos, a conjectura que envolve a mediunidade traz à tona diversas dúvidas e incertezas que intrigaram até mesmo o codificador do Espiritismo.

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De acordo com a Doutrina, qualquer pessoa é um médium em potencial, mas nem todas são capazes de desenvolver a sensibilidade necessária para exercer a função. Afinal, acredita-se que as habilidades mediúnicas são decorrência de inúmeras reencarnações, nas quais o espírito vai adquirindo conhecimentos e experiências à medida que interage com seus “irmãos de caminhada”.

Desse modo, a predisposição independe do sexo, da idade e do temperamento, bem como da condição social, da raça, da cultura e até mesmo da religião. Porém, quanto mais qualidades morais, melhor instrumento o médium se tornaria. E, de forma semelhante, ocorre com o desenvolvimento intelectual: quanto maior for seu grau de inteligência, mais os espíritos superiores poderiam aproveitar de seu conteúdo para expressar suas pretensões.

Já para a visão clássica da ciência, ver e ouvir entidades de outro plano espiritual não tem nada de sobrenatural: tudo não passaria de criação no nosso próprio cérebro. Tanto o corpo do indivíduo como a personalidade, a inteligência e o caráter têm o mesmo fim quando morremos, sem deixar possibilidades para almas ou fantasmas aflorarem.

Contudo, nas últimas décadas, a mediunidade tem protagonizado diversos estudos científicos em diferentes áreas do conhecimento. E, por mais que as conexões cerebrais sejam frequentemente acusadas de ocasionar as vozes e visões, as pesquisas ainda não sabem dizer como isso acontece – fato que legitima ainda mais a opinião de quem crê nesse tipo de fenômeno. 

Pioneiros

As narrativas de contato entre humanos e seres de outras dimensões são tão antigas quanto nossa própria existência. Supõe-se que os médiuns façam parte da nossa civilização há pelo menos 100 mil anos, quando os homens Neandertais começaram a enterrar seus mortos. Como o mundo não era fácil para o homem pré-histórico, quem tinha alguma sensibilidade  especial acabava virando um líder que ajudava na hora de curar doenças, arranjar comida ou enfrentar grandes períodos de chuva ou seca. Assim surgiram os xamãs, profissionais dedicados a conversar com o “lado de lá” para resolver os problemas do “lado de cá” – seja por meio de sacrifícios ou também de orações.

Desde então, a crença de que é possível interagir com mortos, deuses, anjos e demônios se disseminou ao longo dos anos, evidenciada nas mais diversas vertentes espirituais, como na cultura egípcia, na greco-romana, na judaico-cristã e também em correntes orientais, como Hinduísmo e Budismo tibetano. Dessa forma, na segunda metade do século XIX, quando Allan Kardec codificou princípios da ciência, filosofia e religião para compreender as interações entre os planos físico e transcendente, a mediunidade ganhou uma nova perspectiva sob a égide da Doutrina Espírita.

Sinais e classificações da mediunidade

A prática mediúnica espírita é exercida com base nos princípios da Doutrina e dentro da moral cristã. Sendo assim, o médium não pode cobrar dinheiro ou qualquer tipo de recompensa por suas atividades. De acordo com os relatos mais comuns, a iniciativa geralmente parte do espírito que deseja se comunicar. 

Depois de entrar em contato com a mente de um intermediário ativo, a comunicação pode ocorrer por várias formas: pela fala (psicofonia), pela escrita (psicografia) ou pela vidência (aparecendo ao médium). Fenômenos de ordem física também podem ocorrer, como levitações e batidas de mãos em mesas. 

Além disso, como dito anteriormente, o dom mediúnico se apresenta bem evidente em algumas pessoas, com efeitos patentes; em outras, por sua vez, aparece de forma mais sutil. Mas muitos se perguntam: quais são os sinais de uma mediunidade acentuada? Para os especialistas, um dos principais indícios é a capacidade da alma em captar energias de natureza não-física.

Em situações negativas, por exemplo, o próprio corpo poderá acusar por meio de formigamentos, calafrios, perda de sono ou crises de choro – tudo isso sincronizado com outras questões como ambientes carregados, aromas, presença de vultos, sonhos reveladores e intuição aflorada. Por outro lado, também há intensificação de características positivas. A compaixão com o sentimento alheio pode se acentuar, assim como a capacidade em ser um grande ombro amigo. Para os estudiosos, perdoar com facilidade, rejeição a multidões e mudanças no ciclo de amizade também podem ser traços de uma mediunidade em evolução.

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Assim, quanto mais aperfeiçoadas tais características, maior será a eficiência em compreender a realidade espiritual, prever acontecimentos ou produzir – conscientemente ou inconscientemente – fenômenos parapsicológicos com efeitos físicos. Conforme as classificações espíritas, as diferentes reações aos sinais também proporcionarão os diferentes tipos de médiuns.

Tipos de mediunidade

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec aborda a multiplicidade de experiências que a mediunidade proporciona: “concebe-se que deve ser bastante raro que a faculdade de um médium seja rigorosamente circunscrita a um só gênero; o mesmo médium pode, sem dúvida, ter várias aptidões, mas há sempre uma que domina e é a que deve se interessar em cultivar, se for útil”.

Dezenas de tipos já foram verificados, sendo que os mais comuns e famosos são:

  • Incorporação : é quando a entidade toma conta do corpo do intermediário. A sintonia pode ser parcial ou integral. No primeiro caso, o médium fica consciente e observa o espírito controlar seu próprio corpo e raciocínio. Já na segunda, fica totalmente inconsciente, perde a noção de tempo e não se lembra de absolutamente nada do que passou.
  • Vidência: é o tipo de mediunidade que permite ao médium ver as entidades e suas irradiações. Costuma ser muito comum desde a infância.
  • Clarividência: neste caso, fatos que ocorreram no passado e que ocorrerão no futuro são vistos com frequência. Os clarividentes podem ver os corpos astral e mental de outras pessoas, além de tomar conhecimento da vida em outros planos espirituais. É um dos tipos de mediunidade mais raros de ser encontrado. 
  • Cura : este gênero de mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar ou por um gesto – e sem a necessidade de qualquer medicação. 

Ciência

No passado, os fenômenos mediúnicos costumavam ser confundidos com doenças do sistema nervoso. A interação com espíritos não era vista como uma habilidade, mas sim como traços de alucinação – não à toa, esteve durante muito tempo associada à esquizofrenia.

Entretanto, em 2005, um estudo de psiquiatria, realizado pela Universidade de São Paulo e comandado pelo professor Alexander Moreira, mostrou que, de modo geral, os médiuns são saudáveis. Eles não são influenciados pelas vozes que ouvem ou pelas coisas que veem. Mais do que isso: geralmente, são pessoas inseridas socialmente e membros ativos em seus círculos sociais, não apresentando sintomas de perturbação emocional. Ou seja: levam uma vida “normal”, ao contrário dos esquizofrênicos, os quais necessitam de cuidados e medicamentos especiais. Além disso, o esquizofrênico não consegue acrescentar à sua personalidade os conhecimentos e características das figuras que diz ver. Contudo, para os kardecistas, o médium pode incorporar toda a personalidade do espírito que recebe e os seus conhecimentos são manifestados por meio dele.

Alguns cientistas espíritas defendem a mediunidade com uma justificativa biológica. Para eles, a glândula pineal dos médiuns teria mais cristais de apatita que o normal. Isso seria um sensor que faz ondas eletromagnéticas virarem as sensações relatadas pelos intermediários. Além disso, tomografias mostraram que, durante orações ou intensa concentração, o lobo parietal – responsável pela nossa orientação – é quase desativado. Isso explicaria a descrição de estar “fora de si” de quem passa por transes mediúnicos.

Outras pesquisas da medicina, psicologia e até da física quântica também têm explorado com seriedade o assunto da mediunidade. Afinal, com tantos desdobramentos sociais e implicações na saúde humana, todo tipo de esclarecimento é bem-vindo – seja para os curiosos de plantão ou, principalmente, para os adeptos do Espiritismo.

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