Fabio Assunção fala de envelhecimento e descarta rótulo de galã
Fabio Assunção aguarda o momento em que as palavras “velho”, “novo”, “bonito” e “feio” — definidas por ele como “instrumentos de julgamento antigos” — cairão por terra. O ator acha graça da maneira com que usava tais adjetivos ao imaginar o próprio futuro quando era adolescente. “Pensava que ter 50 anos era uma coisa de outro mundo”, ri. Pois bem, Assunção está prestes a completar 51 anos, em agosto, e não esconde o orgulho em se sentir “completamente disponível”, como diz, para o que der e vier.
“Sou um adolescente, um jovem que ainda tem um bebê para criar”, ele gargalha.
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Enquanto aguarda a estreia da segunda temporada de “Desalma” — a produção, que agora conta com sua participação no elenco, chega ao Globoplay no dia 28 de abril —, o homem de olhos cristalinos já mira e engatilha outros trabalhos: ele grava a série inédita “Fim”, baseada no livro homônimo de Fernanda Torres; prepara-se para a novela “Olho por olho”, de João Emanuel Carneiro; e elabora um projeto no teatro. Tudo ganha forma em meio à nova rotina com a filha Alana Ayó, fruto do casamento com a advogada Ana Verena. Perto de comemorar 1 ano, a menina que aprendeu a andar na última terça-feira enche o pai com mais fôlego.
“Não acho o envelhecimento uma questão. As pessoas estão com 80, 90 anos e seguem aí fazendo coisas brilhantes. Sempre penso na Fernanda Montenegro, com uma idade avançada e tão lúcida, ativa, inteira, presente. Isso quebra qualquer tipo de ideia de que, a partir de tal idade, morreremos em vida”, discorre ele, que também é pai de João, de 19 anos, e Ella Felipa, de 10. “São várias conversas diferentes e que me ensinam muito. João, que está numa pegada de ator e também cursa Relações Internacionais, virou um brother e é melhor do que eu em tudo. Com Ella, começo a ter os primeiros assuntos mais adultos, mas ainda com a questão lúdica da criança. E, com Alana, é totalmente diferente ter uma filha de 11 meses sendo um homem de 50 anos. Penso: das referências que passei pro João e pra Ella, quais ainda são importantes?”, diz.
Reflexões sobre o tempo — e, por que não?, a morte — se tornaram inescapáveis. Na nova leva de episódios da série “Desalma”, Fabio Assunção encarna um sujeito imortal. No drama sobrenatural criado e escrito por Ana Paula Maia e com direção artística de Carlos Manga Jr., o personagem Traian Troader é um bruxo de origem romena que atravessou alguns séculos — transmutando-se numa figura animalesca —, e que agora busca Haia (interpretada por Cássia Kis) para um acerto de contas.
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“O personagem está vivo, mas sem impulso. Como ultrapassou a morte, está condenado à vida. É alguém que sofre o processo erosivo de 300 anos ou mais, perde as referências e cai numa espécie de niilismo. Ele vive uma morte em vida e é expressão do estado de desalma”, explica o ator, que tem um visual soturno na ficção.
Galã em transformação
Principal galã da TV nos anos 1990, Fabio Assunção celebra o fato de o ideal de beleza enaltecido no passado — algo que ele hoje vê como espelho de certos padrões — ter se desdobrado em outras cores e formas. E contenta-se em ultrapassar os tais conceitos de belo/feio, jovem/velho.
“Em meus dez primeiros trabalhos, eu era o galã. Falava: ‘Quando vão me chamar de ator?’. Hoje sou ator, né? E aí digo: ‘Pô, por que não me chamam de galã?'”, ele brinca. “Ao longo da carreira, entendi que ser ator é melhor negócio do que ser galã. Acho bonita a renúncia estética em função de personagens. Esse sacrifício é muito mais valoroso do que estar dentro de um padrão ‘x’ ou ‘y’ de beleza”.
Mas Fabio Assunção ainda chama atenção pelos traços físicos. Basta olhar os comentários de fãs em redes sociais. De dois anos pra cá, desde que precisou emagrecer 27 quilos —com o acompanhamento de uma profissional — devido à série “Fim”, o artista transformou radicalmente os próprios hábitos. Hoje, ele acorda diariamente às 5h, dorme às 23h (“no máximo”, avisa), faz treinos de musculação, evita fritura e açúcar, leva marmita para os sets, bebe quatro litros de água por dia… É um homem disciplinado com a saúde.
“São coisas que mexeram com o meu emocional, e eu trouxe para a minha vida. Tudo isso acabou me trazendo mais estabilidade frente às adversidades da vida”, reconhece. “Mas não sou um cara que gosta de treinar. Naturalmente, não iria à academia. Se você me falar para eu fazer o que quiser, não é para lá que eu vou (risos). Pela demanda do trabalho, acabei pegando gosto. Mas não virei marombeiro! Minha proposta não é essa”.