AgroNordeste: De funcionário a dono do próprio negócio
Sebastião Mineiro da Silva, ou somente Tião, tem 20 anos de total dedicação à atividade rural. Boa parte deste período foi como funcionário em propriedades na região de Grão Mogol, onde já fez de tudo um pouco. Nos últimos dois anos, ele passou por uma grande transformação quando decidiu se dedicar e investir no próprio negócio rural após contar com a ajuda da assistência técnica e gerencial do Projeto AgroNordeste. Hoje, Tião vive totalmente da própria produção de leite e queijos.
“Espero não precisar ser empregado mais. Pretendo seguir valorizando e apostando no que é meu. É uma luta de domingo a domingo, mas ela é boa. Quando anunciei que sairia da fazenda para tocar o negócio próprio, todos gostaram aqui em casa. Era o sonho de todos, mas eu não tinha o suporte para começar. Então fui segurando a peteca, devagarzinho, até que o técnico do ATeG chegou aqui na região”, lembrou.
O produtor conta com 14 vacas em lactação, que rendem uma produção média de 200 litros de leite por dia. A produção de queijos tem clientes garantidos, especialmente em São Paulo. Para chegar aos bons resultados, foi preciso muito empenho e se arriscar pelo sonho de ver o próprio negócio em pleno funcionamento. Tião, que está na bovinocultura de leite há três anos, foi beneficiado pela ATeG após o antigo empregador precisar sair do programa, quando decidiu encerrar as atividades no Norte de Minas.
“Fui convidado a entrar no lugar, já que conhecia o programa e vinha participando das visitas à fazenda, onde eu estava como gerente. Quando recebi a proposta, fiquei com um pouco de receio de não dar certo, mas tudo fluiu bem. Ajustamos a parte da alimentação dos animais, ofertando concentrado, realizei o plantio para silagem, milho e sorgo. A minha propriedade é pequena e, aos poucos, fizemos algumas coisas, dentro das condições financeiras”.
Segundo o técnico Zaqueu Carvalho, que atuou na propriedade, Tião sempre se mostrou bastante entusiasmado com a produção de leite. Aliado às boas práticas que já adotava, o ATeG somou em qualidade. “Ele tem um ótimo rebanho. Trabalhamos, principalmente, a nutrição para suprir as necessidades dos animais. Inicialmente, tínhamos animais com escore acima do recomendado (muitas vacas gordas), caracterizando excesso de fornecimento de concentrado. Também melhoramos a cria e recria das bezerras. Com a melhoria do manejo das novilhas, aumentamos rapidamente a quantidade de vacas do rebanho e a produção, que tinha média de 56 litros no primeiro ano da assistência”.
Tião fez parte do grupo que encerrou neste mês o ciclo de dois anos da assistência técnica e gerencial do Projeto AgroNordeste. Na média, os produtores atendidos obtiveram aumento de 57% na margem líquida da atividade. No caso de Tião, os novos conhecimentos adquiridos com o ATeG, em especial a parte gerencial, uniram-se às diversas capacitações que ele já fez com o Sistema FAEMG ao longo dos últimos anos.
“Quero agradecer o Sistema FAEMG. Desde que fui trabalhar na fazenda, em 1998, participei de vários cursos e capacitações pelo SENAR. Fui aprimorando minha experiência e tudo isso foi importante. O aprendizado que tenho foi todo por meio dos cursos e só ajudou quando o ATeG chegou”, afirmou o produtor rural.
Atividade que ganha hectares
Na região da Serra Geral, não foi diferente. O ATeG AgroNordeste mudou a realidade de vários produtores de leite. Um deles é Gilson Alcântara Borges, que tem uma pequena propriedade em Verdelândia. Por lá, o produtor sempre se dedicou aos tratos da fruticultura, especialmente com o plantio de bananas, atividade muito reconhecida na região. Aos poucos, Gilson foi expandindo o espaço para a bovinocultura do leite, que ganhou hectares e atenção especial.
“A atividade do leite tem me dado um retorno interessante. Meu pai já atuava com leite, e incrementei a produção nos últimos três anos, com a compra de mais animais. Hoje temos 90 matrizes, com uma produção média de 200 litros de leite por dia. Essa quantidade dobrou após a implementação das técnicas e manejos do ATeG, como controle zootécnico, anotação da produção de leite e dos períodos de cio das vacas, com melhoria na nutrição a partir do fornecimento de proteinado e sal mineral. Além disso, fiz o planejamento forrageiro para garantir o alimento ao longo do ano”.
Muito desse desempenho também está na conta final do grupo na região, que foi apresentado durante reunião de benchmarking, no encerramento do ciclo. Segundo a técnica de campo Ana Cláudia Maia, entre o primeiro e o segundo ano de assistência, o grupo movimentou mais R$ 7 milhões, número que é motivo de comemoração para a especialista, já que os produtores conseguiram manter uma boa média de produtividade, mesmo com adversidades.
“Foi uma média constante boa. No primeiro ano, pegamos instabilidade grande no mercado do leite. Nesse período, muitos laticínios pararam de pegar o leite, a comercialização caiu e o preço também. Mesmo assim, eles conseguiram manter a média, diante da oscilação do mercado e alta no custo da produção”.
Novamente o avanço do grupo sobre gestão do negócio chamou a atenção. “A média de produção foi constante, mas a margem bruta e líquida do grupo melhorou muito, assim como indicadores de eficiência produtiva, que é a quantidade de litro de leite por hectare ao ano. Isso mostra eficiência, que é reflexo da gestão. Estes produtores passaram a direcionar mais os gastos e a planejar mais as ações”.
Com os custos exatos do que entra e sai do caixa, os produtores passaram a ter em mãos ferramentas poderosas de planejamento. No caso de Gilson, já é possível vislumbrar um novo cenário na atividade, para novos investimentos.
“Com o ATeG, passamos a ver o custo exato de tudo e identificar o que pode diminuir ou gastar mais. Estão nos nossos planos aumentar a área de silagem e instalar piquete irrigado, por exemplo. Já estamos trabalhando com a ideia de aumentar a produção e manter a qualidade ao longo do ano. Essa avaliação positiva dos resultados dá mais ânimo, uma maior certeza com a atividade”, finalizou o produtor rural.
AgroNordeste
O projeto AgroNordeste é uma iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em parceria com o Sistema CNA/SENAR. Em Minas Gerais, o AgroNordeste é desenvolvido pelo Sistema FAEMG/SENAR/INAES em parceria com os Sindicatos Rurais.