Diagnosticada com autismo na vida adulta: “Não queria estar viva”
“Sempre soube que eu não conseguia me encaixar com as outras crianças, mas eu tentava muito. Isso é algo que, inclusive que chamamos de ‘masking. O que cansa muito, principalmente quando você é criança. Com dez anos de idade já tinha episódios depressivos, eu chorava todos os dias ao chegar em casa da escola.
Eu estava exausta as outras crianças que eu era como elas, mas eu não era. O barulho, a luz, a sensação térmica, tudo isso me incomodava. Em muitos dias, almoçava dentro do banheiro porque não queria estar com outras crianças. Eu não queria o barulho.
Aos seis anos de idade comecei a fazer terapia devido a episódios depressivos. Minha mãe teve que ir e voltar comigo da terapeuta. Na época era muito difícil encontrar um profissional adequado para diagnosticar o autismo em meninas. A maior parte dos especialistas acreditavam que o autismo só era presente em meninos. Nunca chegaram a considerar o autismo no meu caso. Para mim, apesar, da minha mãe ter me colocado na terapia desde a primeira infância. Ela sabia que eu tinha algo de diferente que ninguém conseguia dizer o que era. Ela sabia que, para mim, era difícil viver socialmente
A minha mãe é coordenadora de uma APAE, (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) tem pós-graduação em psicopedagogia e está fazendo uma segunda pós-graduação em autismo. Ela já lidou com diversos tipos de deficiência e sempre achou que eu tinha todos os sinais do autismo. No entanto, ela não conseguia fazer nenhum profissional olhar para isso de verdade.
Só anos mais tarde, na minha vida adulta, consegui procurar um especialistaEm uma consulta, afirmei que tinha todas as características e que preenchia todos os critérios do espectro autista desde a primeira infância. Disse ainda que minha mãe poderia atestar isso e que tentava conseguir um diagnóstico desde os meus 6 anos, mas nenhum profissional deu atenção”.
Eu passei a minha infância inteira sofrendo muito na escola, porque eu não tive acomodação nenhuma. Todos tentaram fazer com que eu fosse igual as outras crianças, quando, na verdade, a minha experiência era muito mais difícil.
As pessoas não costumam ouvir as crianças, acham que crianças não têm compreensão do que está acontecendo. Na verdade, ha compreensão sim. Me lembro muito bem que, aos dez anos, eu já não queria estar viva de tão difícil que era estar em sociedade
”
Falo que o processo do diagnóstico foi bem simples, porque eu procurei um especialista em mulheres e adultos. Fui diagnosticada com autismo, transtorno de ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo.
No entanto, o meu laudo foi feito por uma psicologa. Por isso, o meu processo de diagnóstico ainda não acabou. Não tenho um laudo médico e, consequentemente, nenhum direito legal ainda assegurado
No começo desse ano tentei ir a um psiquiatra, o que acabou não resultando em nada. Ela queria que eu fosse em outra terapeuta, que não era uma especialistae que eu deveria voltar lá depois de três meses.
Tenho interesse em mudar minha documentação para garantir que eu tenha todos os direitos legai previstos. Então, para conseguir esse laudo, tenho consultas marcadas com um neurologista e outros psiquiatras.
Ir aos médicos é sempre um processo muito irritante. Os profissionais sempre me olham e perguntam: ‘Por que você acha que precisa de um laudo médico?’ ou ‘Você está conseguindo viver até hoje’ estou conseguindo viver até hoje aos tropeços.
Existem direitos meus que não estou tendo. É muito chato dizer tudo isso a alguém e ouvir que estou exagerando em querer direitos, ou mesmo dizerem que eu ‘falo normal’ ou ‘pareço normal’, questionando o porquê de eu querer os meus direitos como pessoa com deficiência. Não é porque eu consigo me passar por neurotípico que a minha vida é mais fácil”.