Cansaço materno: especialistas explicam a síndrome de burnout
Thaila Ayala usou as redes sociais nesta semana para desabafar sobre o cansaço materno que vem sentindo após dar à luz seu primeiro filho, Francisco, de seis meses, fruto do casamento com Renato Góes . No entanto, ela não é exceção quando o assunto é maternidade. A chamada síndrome de burnout materno afeta milhares de mulheres ao redor do mundo, que se sentem extremamente cansadas e desamparadas durante o exercício da maternidade.
A psicóloga Bianca Spinola Lapa explica que o burnout é um constante sentimento de cansaço e estresse, em que a vítima se sente extremamente sobrecarregada. No caso do recorte da maternidade, esse sentimento vem da sobrecarga da criação dos filhos ou do acúmulo de uma dupla jornada.
“Especialmente após a pandemia, período em que muitas famílias tiveram suas rotinas modificadas, de forma a conviver muito mais de perto com os filhos, o burnout aparece como o sintoma da sobrecarga de mulheres, de quem ainda é esperado que se dê conta de todas as questões que envolvem os cuidados com os filhos. Por ainda se esperar, em muitas situações em que as mulheres sejam dotadas do falacioso ‘instinto materno’, isso faz com que elas não sejam só sobrecarregadas de tarefas, mas que também se sinta muitas vezes envergonhadas de dizer que não sabem ou não se sentem dispostas a se doar totalmente ao papel da maternagem”, diz a psicóloga.
Segundo dados divulgados pelo Atlas Político em 2021, 80% das mães brasileiras se sentem mais sobrecarregadas desde o início da pandemia, enquanto apenas 48% dos pais dizem o mesmo. Além dessa pesquisa, um levantamento feito pelo Google revelou que as buscas “cansada mentalmente” e “cansada psicologicamente” foram recorde naquele ano.
Esse boom do burnout não está apenas restrito ao Brasil: o estudo “Women in the Workplace 2021”, feito pela McKinsey em parceria com a LeanIn, mostra que 42% das mulheres estadunidenses e canadenses entrevistadas sentem os sintomas do burnout, isso é 10% a mais do que no ano anterior. Em contraste, novamente o número de homens que se sentiam da mesma maneira é inferior ao das mulheres, ao todo, foram 32% dos entrevistados.
Como evitar o burnout materno?
O médico ginecologista Dr. Rogério Tabet pontua o importante papel das redes de apoio para a saúde da mulher na maternidade e ela não deve ser reduzida apenas ao papel de cuidadora. A nova mãe precisa ser humanizada e receber apoio sem julgamentos, com uma vida social e de cuidados próprios.
“Redes de apoio são de extrema importância. Manter contato com os familiares e amigos, ter uma vida social, deixar um momento a sós para se cuidar e se amar. Além disso, é importante ter momentos para um esporte, lazer e fazer uma boa alimentação. A maternidade é um momento muito delicado, de muitas inseguranças, por isso a mulher precisa ser acolhida e humanizada”, fala o ginecologista.
Ele também destaca para estar atento a outros sinais além do cansaço extremo, como insônia; insegurança; sentimento de derrota; negatividade constante; irritabilidade; falta de apetite e dores de cabeça.
Para psicóloga Bianca, a garantia dos direitos da mulher e da criança são de extrema importância para a manutenção da saúde dessas mães, já que as desigualdades sociais e o desamparo do estado afetam principalmente as mães solos ou na autonomia feminina.
“A busca por direitos é importante porque abrange pensão alimentícia, afastamento do trabalho, acesso à saúde, dentre outros pontos que são importantes para que a mãe possa ter suporte para se dedicar a outras questões do cuidado”, defende Bianca.
Ela também ressalta ser necessário ter expectativas realistas sobre a maternidade, que está tudo bem precisar de ajuda e que a perfeição não existe. Por isso, não existe necessidade das mães se cobrarem tanto ou serem julgadas por não saberem de tudo.
“É preciso trabalhar internamente e nas relações de quem participará da maternagem as expectativas e as reais possibilidades de oferta de cuidado. É importante que a mãe saiba que não vai e não precisa dar conta de tudo, nem resolver tudo imediatamente, que pode falhar, não saber, pedir ajuda, e é importante que também existam pessoas que possam reafirmar isso a ela e acompanhá-la sem julgamentos”, finaliza a profissional.