Com diversas histórias publicadas e o livro “Céu Sem Estrelas” com os direitos comprados para uma adaptação cinematográfica, Iris Figueiredo chega na 26ª edição da Bienal do Livro como escritora confirmada na programação oficial. O evento sempre teve extrema importância na trajetória da autora, já que foi em uma das edições em São Paulo que compreendeu que poderia tornar a paixão pela escrita uma profissão.
Em entrevista exclusiva ao iG Gente, Iris relembra o momento marcante da adolescência em que conheceu a Thalita Rebouças na primeira Bienal do Livro que frequentou e exalta como a escritora incentivou a jornada dela neste universo. “Foi aí que eu percebi que poderia escrever, porque ela é nova. Achava que escritor era só senhorzinho de cabelo branco, muito velhinho. Não pensava que eu poderia escrever um dia. Queria escrever, mas achava que era algo que eu ia fazer quando eu me aposentar… eu sonhava com a minha aposentadoria”, conta entre risadas.
“Conheci a Thalita Rebouças quando ela ainda estava no comecinho da carreira, publicando os primeiros livros pela Rocco. Ela apresentou os livros para mim e para minhas colegas [da escola], falou deles e foi super simpática. Fiquei super animada”, relata Figueiredo, que segue explicando como só havia “juntado dinheiro para o ingresso e para comer uma pizza e um refrigerante” para a Bienal, então, fez com que uma amiga comprasse o livro da autora.
“Ela [a amiga] leu e depois me emprestou. E foi assim que eu me apaixonei pelos livros da Thalita e também me apaixonei por Bienais. Porque foi ali que eu vivi uma experiência que eu nunca teria vivido de outra forma. Foi mágico, foi a compreensão de que eu poderia escrever. Conheci uma autora viva, falei com ela, ela trocou ideia comigo e disse que eu podia ser o que eu queria ser. Então tudo isso é de suma importância”, destaca.
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De leitora à escritora na Bienal
No dia 2 de julho, Iris Figueiredo participa da Bienal do Livro com um debate sobre famílias e amizades na literatura jovem, ao lado de Vitor Martins e Ilustralu. Escrevendo profissionalmente desde os 19 anos, a autora descreve o evento como “grandioso” e ainda expõe que “a Bienal consegue conectar as pessoas através dos livros”.
“Amo conversar com leitores presencialmente. Penso que é uma oportunidade única de fazer leitores novos, de conquistar pessoas que nunca me leriam. Tem muitos leitores que eu tenho até hoje que foram conquistados no chão de Bienal”, analisa Iris, que ainda diz estar “super orgulhosa” por compor a programação oficial do evento.
Figueiredo também celebra a possibilidade deste contato presencial após tantos eventos virtuais: “Para mim, uma das coisas mais importantes é você ter esse contato. Estava morrendo de saudade e estou muito feliz, porque eu não aguentava mais na internet […] Eu gosto de ter as pessoas por perto, de ouvir as histórias. Porque, muitas vezes, esse corpo a corpo e essa presença acaba trazendo as pessoas a serem mais honestas sobre si mesmas. Elas falam de coisas que não teriam coragem na internet, desabafam um pouco mais e também criam um vínculo diferente”.
Família e saúde mental
Iris defende a relevância de debates como o que participa na Bienal, sobre famílias e amizades: “São conversas muito interessantes para a gente ter com adolescentes, com jovens, com qualquer um. Eu gosto muito de falar com pais e eu acho que uma coisa muito legal da bienal é que ela não impõe limites que a internet às vezes impõe. Claro que ela tem limites geográficos, mas eu gosto muito de evento presencial porque você consegue falar com pessoas de idades diferentes e que talvez nunca chegassem no conteúdo pela internet ou por alguma barreira”.
“Eu acho mega importante, porque sinto que, especialmente nesses últimos anos que a gente ficou confinado, passamos muito tempo dentro dos nossos próprios núcleos familiares e isso fez com que muitos jovens não tivessem uma relação tão saudável com a família por motivos diversos, seja sexualidade, transtornos, uma coleção de coisas”, diz a escritora, que continua ressaltando como é transformador observar famílias imperfeitas em livros.
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“Quando a gente vê famílias imperfeitas na literatura, a gente vê famílias de verdade. Porque nenhuma família é ideal, as famílias têm falhas e acertos, e eu gosto de tratar isso na minha literatura, porque eu gosto que a gente olhe com um olhar humano”, conta.
Iris ainda exemplifica citando a história de uma leitora que se identificou com um de seus livros: “No primeiro dia em que ‘Céu Sem Estrelas’ foi publicado, a gente foi para Flipop. Uma menina tinha comprado o livro na noite anterior, ela leu, amou o livro e falou que tinha se visto ali pela primeira vez, que viu uma relação dela com a mãe, umas questões ali e que sentiu uma acolhida naquele livro”.
“A gente vê papéis de familiares na nossa sociedade que a gente não questiona e que a literatura às vezes nos ajuda a pensar […] Meu objetivo como escritora é mostrar que os meus leitores podem criar as próprias famílias, os próprios vínculos. Eles podem entender melhor as próprias famílias, o que não significa aceitar as todas as decisões só porque são feitas pelos familiares deles. Mas compreender melhor o universo em que eles vivem e talvez achar um abraço que falte para eles na vida real”, pontua.
Além de questões familiares, Iris Figueiredo também é conhecida por abordar questões de saúde mental nas obras, algo que ela descreve como “natural” no processo de escrita. “Talvez por ter sido uma pessoa que desde adolescente lidou com questões de depressão e ansiedade, então, eu sentia muita falta de ver isso nas histórias que eu lia. Só que eu nem sabia que eu sentia falta disso, porque o debate de representatividade surgiu muito mais tarde. Hoje em dia a gente fala muito das histórias que a gente quer ler e se enxergar na literatura”, comenta.
Prestes a lançar uma reedição do livro “Confissões On-line” (2011), pela Editora Seguinte, Figueiredo analisa que compreendeu a importância de abordar a temática da saúde mental na obra. “Podendo revisitar esse livro para ser relançado, eu tenho mexido bastante nessa parte, porque é uma área que mexe bastante comigo”, conta.
Adaptação cinematográfica
Inspirada em obras de Sylvia Plath como “A Redoma de Vidro” para escrever “Céu Sem Estrelas”, Iris relembra que descobriu que o livro seria adaptado durante a Bienal do Livro virtual de 2020. Um dia antes de participar remotamente do evento, ela soube do interesse da Elo Company, produtora que comprou os direitos para a adaptação, em transformar a história em um filme.
“Fiquei a mesa inteira morrendo de vontade de abrir a boca e dizer que provavelmente poderia ter um filme. E aí a gente fechou contrato no início do ano seguinte [2021], com renovação agora. Eles estão escrevendo roteiro, mas não temos ainda atualizações sobre elenco, não sei de quase nada. A gente ainda está no começo, no início da pré-produção, mas eu tô muito animada, eu espero que o filme consiga sair pelo financiamento de fomento”, destaca.
Iris continua contando detalhes dos bastidores: “Estou torcendo muito para o filme ser realidade, porque uma coisa que a produtora está muito empenhada é em manter a essência do livro e as representatividades, que são tão importantes. Eles colocaram até em contrato que a Cecília tem que ser uma atriz gorda. São pedidos que a gente fez com muito cuidado para que o livro seja respeitado em sua essência”.
“Sei que, se o filme acontecer, vai ser um filme visto de uma forma linda e que fale diretamente pelas pessoas que se envolveram com ‘Céu Sem Estrelas’ e chegaram na história da Cecília. Estou como supervisora do roteiro, então, sempre vou estar aprovando as coisas. A essência do livro eu sempre vou querer que eles respeitem, eu penso que para mim o mais importante é que o filme aconteça de fato e passe essa alma”, conclui.
Fonte: IG GENTE