Search
Close this search box.

Indústria de alimentos do Paraná cresceu mais que a média nacional

Compartilhe

Indústria de alimentos do Paraná cresceu mais que a média nacional


Não é de hoje que o agronegócio caminha na contramão da crise. Em diversos momentos de turbulências, recuos e inflexões da economia, o campo se mostra a galinha dos ovos de ouro brasileira. Afinal, o mundo precisa de alimentos e o Brasil possui as condições para atender a essa demanda.

De modo geral, a indústria brasileira de alimentos e bebidas teve bom desempenho em 2020, com crescimento de 12,8% no faturamento e de 1,8% no volume de produção em relação a 2019, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). A distância entre estes dois percentuais se explica pela desvalorização do real frente ao dólar e ao peso das exportações nesse segmento. O aumento das vendas reais foi de 3,27% no período.

No caso do Paraná, a indústria de alimentos teve desempenho superior à média nacional, pelo menos no que se refere à produção física. Segundo o economista Evanio Felippe, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em 2020 o setor cresceu 9,3%. Uma exceção na atividade industrial paranaense, que de modo geral sofreu um recuo de 2,6% na produção no primeiro ano da pandemia.

“A indústria de alimentos como um todo foi muito bem. Não só não sentiu a crise que outras atividades sentiram, mas cresceu quase dois dígitos”, afirma Felippe. Segundo ele, este setor tem grande importância na economia paranaense, respondendo por 34% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Estado. “Se pegar o Brasil, a indústria de alimentos representa 22,5% do PIB industrial. Assim, podemos deduzir que essa indústria é mais importante para o Paraná do que para o Brasil”, sugere.

Esse desempenho paranaense superior à média nacional reforça a importância da agropecuária estadual, responsável pelo fornecimento da matéria-prima para as indústrias de alimentos. “A fonte primária de produtos é o campo. E os produtores rurais do Paraná, mesmo com a pandemia, mantiveram o trabalho para a manutenção do fornecimento de produtos. Isso garantiu a continuidade de todos os elos da cadeia produtiva”, destaca Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Além dos desafios

Mesmo enfrentando algumas dificuldades, como infraestrutura precária, incertezas jurídicas e outros males que compõem o chamado “Custo Brasil”, o Brasil é o campeão mundial em exportação de frango, carne bovina, suco de laranja e açúcar, sendo que nos dois últimos itens também aparece como maior produtor do mundo. Óleo de soja, café, carne suína, bombons e doces também estão entre os segmentos nos quais o Brasil é um gigante internacional.

Isso só acontece porque toda cadeia produtiva está bem amarrada, desde a produção rural até a transformação em alimento para o consumidor. No caso do suco de laranja, no qual o Brasil desponta como líder isolado respondendo por 75% do comércio mundial, a engrenagem que envolve citricultores tecnificados, grupos empresariais e um sistema logístico com terminais e navios dedicados para movimentação de suco concentrado em granel fornece este grau de competitividade.

“É uma soma de fatores. A questão climática ajuda, temos produtores muito bons, inclusive o Paraná tem se mostrado um produtor muito eficiente. Mas somos um player de muita tradição, nossa primeira exportação de suco foi em 1974”, ressalta Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional de Sucos Cítricos (CitrusBR).

Em 2020, o consumo de suco de laranja foi impactado com o fechamento dos serviços de bares e restaurantes e da rede hoteleira por conta da pandemia do coronavírus. “Neste período houve um avanço significativo no varejo e perda grande no food service. Quando você observa o quanto um ganhou e o outro perdeu, o resultado é levemente positivo”, afirma Netto, que não arrisca adiantar alguma cifra em relação ao desempenho no ano passado.

Cooperativismo

Neste universo, as cooperativas paranaenses têm papel fundamental, pois respondem por parte significativa da industrialização da produção agropecuária estadual. De modo geral, o resultado também foi bom para estas organizações em 2020. “Foi um ano que superou as expectativas. O faturamento das cooperativas nesse período aumentou mais de 30%, em decorrência do aumento dos preços dos produtos agrícolas, em especial milho e soja”, adianta Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). “Não apenas grãos, mas nas proteínas animais também houve aumento na demanda com preços melhores”, diz. No que tange à industrialização de alimentos, ou seja, produtos que vão direto para a prateleira do supermercado, as cooperativas paranaenses produzem uma infinidade de itens como cortes de carne de aves e de suínos, peixes, produtos lácteos, óleo de soja, margarina, farinha de trigo, entre outros. “Só em cooperativas existem 11 indústrias que produzem óleo de soja [e também farelo e ração]”, afirma Turra. “A cadeia da soja é a mais importante, depois vem a indústria de proteína animal, com destaque para o frango”, completa.

No que se refere à fatia da produção de alimentos que cabe às cooperativas, Turra adianta que não é uma conta fácil. “No frango, [as cooperativas respondem por] cerca de 40% da produção industrial do Estado, trigo, 35%. Malte, como só existe uma maltaria e está dentro de uma cooperativa, 100%”, enumera. A industrialização dos produtos também tem peso significativo nas contas das cooperativas. “No global, 48% do faturamento das cooperativas são oriundos das receitas das suas indústrias”, afirma.

Resultado na pandemia

Uma das indústrias de alimentos que obteve bom desempenho em 2020 foi a Jasmine Alimentos, localizada em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Com uma linha com mais de 130 produtos voltados para alimentação saudável, as vendas da empresa cresceram 20% em 2020 na comparação com o ano anterior. “Uma coisa que impulsionou nossos resultados foi a procura do consumidor por alimentos que reforçam a imunidade, preocupados com a questão do vírus”, avalia Rodolfo Tornesi Lourenço, diretor de inovação e transformação da Jasmine.

No primeiro ano da pandemia, a empresa também notou um aumento na procura por embalagens maiores de granola, farinha de trigo e de outros produtos. “Isso acontece porque as pessoas estão cozinhando mais em casa. Isso gera uma necessidade de desenvolver a tua cadeia para atender essa tendência, e isso começa lá no campo”, afirma, referindo-se à necessidade de certificar os produtores que fornecem a matéria-prima. “Por serem produtos muito especializados, como orgânicos, que exigem certificação, temos um trabalho muito forte de ir aos produtores, acompanhar, desenvolver esses fornecedores para que eles possam entregar a matéria-prima da forma que precisamos”, explica.

O bom desempenho da Jasmine em 2020 levou a empresa a contratar pessoal para a linha de produção, aumento de 10% no quadro de funcionários diretos. “Apesar de termos um processo bem moderno e automatizado, precisamos de mais pessoas, como o faturamento cresceu bastante. Teve impacto em todos os setores da empresa”, afirma.

Reflexo no emprego

A empresa de Campina Grande do Sul não foi um caso isolado no que se refere à criação de postos de trabalho. Segundo a Fiep, em 2020 a indústria paranaense respondeu por 47% das vagas de trabalho formal no Paraná, com a criação de mais de 24 mil novos postos de trabalho. O setor de alimentos foi, disparado, o que mais contratou, com mais de 12 mil trabalhadores admitidos entre janeiro e dezembro do ano passado. Ou seja, praticamente metade de todas as vagas geradas na indústria paranaense. Segundo Evanio Felippe, da Fiep, 31% da mão de obra empregada na indústria de transformação paranaense têm origem no setor alimentício. O Paraná responde por 12% da mão de obra da indústria alimentícia nacional.

Preços em alta

O analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste, explica que o dólar alto somado ao cenário positivo do preço internacional levou a uma condição extremamente favorável à cotação do milho. “A indústria de carnes está tendo bastante dificuldade nesse patamar que está se sustentando [o preço do milho]. Podemos ter uma situação de muitas integrações terem dificuldade nesse primeiro semestre”, analisa.

Motter prevê que só vai haver alguma perspectiva de queda nos preços se haver uma boa segunda safra no Brasil. “Imaginamos que daqui até junho vai se manter alto, talvez até acima dos R$ 70 a saca. E considerando a conjuntura econômica intervencionista do governo, é possível prever que os preços não vão voltar tão cedo a patamares inferiores, de R$ 40, como tínhamos nessa mesma época, no ano passado”, aponta o analista.

PIB agropecuário cresceu 24,3% em 2020

No ano passado, o setor agropecuário foi o único segmento que apresentou resultado positivo na composição do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com crescimento de 2%. Os demais setores amargaram quedas, como a indústria (3,5%) e serviços (4,5%). Nesta leitura promovida pelo IBGE é computado apenas aquilo que é produzido dentro da porteira e considerada apenas a evolução do volume.

Porém, quando verificamos as análises de outros órgãos, como o PIB Agropecuário produzido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o bom desempenho do campo irradia resultados positivos para outros elos da cadeia produtiva.

Neste cálculo são considerados os diversos ramos que compõem a cadeia produtiva do agronegócio, como insumos, agrosserviços, agroindústria, além do setor primário. Na análise de 2020, o PIB do setor avançou 24,31% em 2020 frente a 2019, respondendo por 26,6% no PIB brasileiro. Traduzindo em valores monetários, o PIB brasileiro totalizou R$ 7,45 trilhões, dos quais R$ 2 trilhões vem do agronegócio.

“Esse panorama reforça o que já sabíamos há muito tempo: quando o campo vai vem, todo o restante vai bem”, pontua o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.

De acordo com a análise do Cepea/CNA, em 2020 o faturamento da indústria de fertilizantes e corretivos de solo aumentou 10,65% na comparação com 2019. Esse resultado está diretamente ligado ao bom desempenho da agricultura.

Da mesma forma, na indústria de máquinas agrícolas, o faturamento anual cresceu 5,61% na produção em 2020, marcando uma das maiores renovações da frota agrícola brasileira dos últimos anos segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Na indústria de rações houve avanço de 12,28% dos preços reais na comparação entre 2019 e 2020.

Fonte: CNA Brasil

Mais Notícias em Agronegócio

Curta O Rolo Notícias nas redes sociais:
Compartilhe!

PUBLICIDADE