A impressionante história do distrito de Vitoriana e sua relação com a ferrovia e a hidrovia
O povoado que deu origem ao distrito de Vitoriana passou a ser percebido pelas autoridades políticas em 20 de junho de 1888, quando a estação ferroviária de Victoria foi inaugurada e o local passou a ser estruturado pela municipalidade como ponta de linha. Porém, oficialmente, foi elevado a distrito em 1928, ainda com o nome de Victoria e apenas em 1945, passou a ser reconhecida com o nome de Vitoriana.
A chegada da ferrovia ao distrito trouxe ao distrito seu período de apogeu, os funcionários da estrada de ferro passaram a transitar pela região e conviver com a população local de forma efetiva, trazendo inovações e desenvolvimento. Em pleno crescimento econômico e político, em 1 de junho de 1893, a estação passou a ser também ponto de saída para o ramal de Porto Martins, às margens do rio Tietê.
O porto era fundamental. Ele recebia cargas vindas pelos rios Piracicaba e Tietê, provenientes dos portos às margens desses rios ou da estação de João Alfredo (atual Ártemis, em Piracicaba). Além disso, a estação de Vitoriana servia de ligação da linha-tronco com o então ramal de São Manuel, construído pela Ituana e incorporado mais tarde pela Estrada Sorocabana.
O posicionamento estratégico do distrito, que fica na raiz da serra com altitude de 525 metros acima do nível do mar, também incentivou revoltosos, da Revolta Paulista de 1924, que também foi chamada pelos nomes de Revolução Esquecida, Revolução do Isidoro, Revolução de 1924 e de segundo 5 de julho, ou seja, a segunda revolta tenentista, usassem o local como acampamento.
Foi também por volta de 1924, que surgiu a semente da primeira igreja católica no distrito, com Elizabeth Maria, filha do Conde de Serra Negra, contraindo uma grave doença. Dono de posses na região o Conde explorava o café e tinha uma das maiores plantações do Mundo na localidade. Ele utilizava o porto e a ferrovia para distribuir o resultado de suas colheitas pelo mundo, exportando para a Europa.
Sua filha foi tratada em Paris, e a mãe da garota, a Condessa de Serra Negra prometeu que caso ela se recuperasse, a família construiria uma igreja para Nossa Senhora no Brasil.
A saúde de Elizabeth foi reestabelecida, e o Conde trouxe da França a planta da igreja e entregou o projeto de construção ao seu administrador, senhor Francisco Grande (Pai das Senhoras Chada e Cida do atual Bar da Chada em Vitoriana), que construiu a igreja.
A igreja está no Distrito até hoje e o interessante é que ela causou uma grande polêmica em sua época de construção pois suas torres eram voltadas para a parte de trás do templo. No Brasil todas as igrejas católicas possuem suas torres na frente, porém a igreja de Vitoriana, seguiu fielmente a planta francesa, e sua única torre fica nos fundos.
Para inaugurar o templo uma imagem de Nossa Senhora foi trazida da França pela Condessa de Serra Negra, e tanto a igreja quanto a imagem receberam o nome de “Nossa Senhora das Vitórias”, santa que se tornou a Padroeira do distrito.
Vale lembrar que o Conde de Serra Negra colocou o distrito de Vitoriana em destaque em todo o mundo devido ao café, ele envolveu-se ativamente na propaganda e divulgação do café paulista na Europa, investindo fortunas na divulgação do produto.
Ele instalou no centro de Paris, o “Café São Paulo”, com diversas filiais nas províncias e convidou em 1900 o pintor Antônio Ferigno para passar uma temporada em Vitoriana onde criaria obras de arte para a propaganda do produto brasileiro em Paris.
O Conde, encomendou doze quadros retratando a sua Fazenda Victória, que ficava no distrito, mostrando os processos de cultivo e produção do café. Esses painéis serviam de decoração de seus stands nas exposições internacionais em que participava. Ele queria que os visitantes conhecessem vitoriana e pudessem saber a origem do café que estavam tomando.
O Casarão do Conde de Serra Negra, hoje é rodeado por plantações de cana de açúcar e pertence à Usina São Manuel, suas ruínas ainda existem, sendo um ponto de visitação turística pouco explorado.
Outra personalidade ilustre que nasceu em Vitoriana e que levou o nome do distrito para todo o mundo foi a escritora Maria Leandro Duprê, autora do livro que originou a novela da Globo, ” Éramos Seis”, que ficou conhecida como Maria José Duprê.
Duprê nasceu em 1898, na Fazenda Bela Vista, filha de Antônio Lopes de Oliveira Monteiro e de Rosa de Barros Fleury Cardoso.
Em 1954 a história do distrito passou por mudanças. Com a construção do trecho de ferrovia que ligava Juquiratiba a Botucatu, todo o antigo ramal que chegava à Vitoriana foi suprimido, ocorrendo ainda a desativação da navegação fluvial da Sorocabana nos rios Tietê e Piracicaba e da passagem do trem na estação do distrito.
Atualmente, o que sobrou do prédio da estação foi conservado e transformado em escola a EMEF Raymundo Cintra, vale lembrar, a rua em frente à escola se chama João Jacob Karan ou Rua Turma 6, ali, no passado era o leito trafegável da ferrovia, ou melhor onde estavam instalados os trilhos.
Porto Martins teve um fim mais triste. Quando ocorreu a extinção da navegação fluvial, o porto perdeu importância, e entrou em decadência, sendo extinto em 1959. Até que ocorreu a inundação da área pela barragem de Barra Bonita, levando Porto Martins para debaixo das águas, onde suas ruínas estão até hoje. Tudo o que sobrou do porto foi o cemitério.
A inundação do porto pela Usina Hidrelétrica de Barra Bonita, ocorre no início dos anos 1960, por volta de 1963, ano em que a usina iniciou suas operações. entretanto, segundo o navegador Ruy Pirré, que nasceu em Porto Martins, a inundação começou por volta de 1958.
Atualmente o distrito de Vitoriana tem uma população estimada em torno de 3 mil pessoas, que tem no cultivo de laranja e nas atividades granjeira ou aquícola, sua principal fonte de renda.
Os acessos ao distrito são precários tendo como uma das vias a rodovia Geraldo de Barros (SP-191) com o asfalto em péssima conservação.
A vicinal Alcides Soares é mais conservada, entretanto não possui acostamento, mas apresenta uma beleza ímpar pois é toda arborizada em suas margens. A extensão dela que liga o distrito até Botucatu é de cerca de 12 quilômetros com muitas curvas.
O distrito também não possui Agências Bancárias, porém conta com atendimento bancário em lotéricas, entretanto, casos mais específicos fazem com que os moradores tenham a necessidade de virem até Botucatu.
Por Renato Fernandes