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Congregação da Unesp presta homenagem ao centenário do Prof. Montenegro

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Congregação da Unesp presta homenagem ao centenário do Prof. Montenegro

Congregação da Unesp presta homenagem ao centenário do Prof. Montenegro

A reunião ordinária da Congregação da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp) realizada nesta sexta-feira, 10 de março, foi marcada por um momento de homenagem ao Professor Emérito Mário Rubens Guimarães Montenegro.

Exatamente nesta data comemora-se o centenário de nascimento de um dos pioneiros na criação da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), que posteriormente se integraria à fundação da Unesp – Universidade Estadual Paulista.

Coube à Professora Dra. Luciane Alarcão Dias-Melicio, chefe do Departamento de Patologia da FMB, a leitura da biografia que retrata a trajetória de vida de Montenegro, desde a sua formação na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o destaque como um dos principais especialistas do país na área de Patologia até sua chegada a Botucatu para construir aquela que viria a se transformar em uma das principais escolas médicas do país.

A homenagem foi acompanhada por docentes e servidores do Departamento de Patologia que tiveram o privilégio de trabalhar ao lado do Professor Montenegro. Também marcou presença a Professora Emérita Edy de Lello Montenegro, viúva do homenageado, que agradeceu à direção e aos membros da congregação pela lembrança em uma data tão significativa. A vice-diretor da FMB, professora Jacqueline Caramori fez a entrega de um mimo em nome da instituição.

“Estou extremamente emocionada e grata por esse carinho de vocês. Somos muito orgulhosos do Mário Rubens, por tudo que fez e principalmente porque era um homem que pensava nos outros, não nele. Todos os dias ainda converso com ele”, declarou a professora Edy.

Prêmio

O centenário de nascimento do Professor Mário Rubens Guimarães Montenegro motivou a direção da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp), a instituir um prêmio que levará o seu nome e, anualmente, será outorgado a um docente que se destaque em atividades de ensino, pesquisa, extensão e/ou gestão.

As regras para concessão do Prêmio “Prof. Mário Rubens Guimarães Montenegro” estão inseridas na Portaria 040, de 14 de fevereiro de 2023, assinada pela diretora da FMB, Professora Associada Maria Cristina Pereira Lima.

O prêmio, de caráter permanente, será destinado todos os anos a um único docente pertencente aos quadros da FMB, que se encontre na ativa ou Professor Senior. Cada departamento fará a indicação dos docentes que concorrerão à premiação, cabendo à chefia a responsabilida de em apresentar um memorial descritivo sobre o indicado com a aprovação do conselho departamental.

As indicações serão analisadas por uma comissão externa composta por três professores de “notório saber” e carreira de mérito em universidades públicas, indicados pela direção da FMB. O docente escolhido receberá premiação a ser definida e um certificado de honra ao mérito. A entrega do prêmio será realizada em reunião ordinária da Congregação.

O calendário da primeira edição do Prêmio “Prof. Mário Rubens Guimarães Montenegro”, a ser entregue em 2023, já foi definido. Até 30 de março, os departamentos farão as indicações dos docentes e encaminharão os nomes para a Diretoria Técnica Acadêmica (DTA). No dia 10 de março serão anunciados os membros da Comissão Externa e dado ciência dos nomes à Congregação. A análise das indicações será feita de 04 de abril a 11 de maio. A divulgação do resultado final acontecerá na reunião da Congregação de 19 de maio. A entrega do prêmio está programada para 16 de julho.

Biografia

Mário Rubens Guimarães Montenegro nasceu em 10 de março de 1923. Homem de personalidade extremamente marcante e, em muitos aspectos, bastante peculiar. Inteligente, habilidoso na solução de problemas, educado, generoso e de convívio fácil. Foi um dos principais nomes da pesquisa e ensino na disciplina de Patologia no Brasil.

Na juventude, destacou-se como esportista, praticando nado, pólo aquático e vela. Perto de completar 18 anos, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Durante o curso médico foi carinhosamente apelidado de “Monte”. Um de seus colegas de turma, o famoso ortopedista e traumatologista Manlio Mário Marco Napoli, ressalta outra característica marcante de Montenegro: a coragem.

“Ele lutava por tudo o que acreditava. No comício estudantil feito em 1942, no qual nosso grito de protesto era ‘morra Getúlio’, fomos recebidos a tiros, e Montenegro estava à frente, de peito aberto, carregando a bandeira da faculdade e a do Brasil. A valentia dele era evidente, não tinha medo de nada, enfrentava todos os desafios”.

Gradou-se em Medicina no ano de 1946. Logo após sua formatura, ingressou como assistente no Departamento de Anatomia Patológica da FMUSP, à época chefiada pelo professor Ludgero da Cunha Motta. Em 1954 foi agraciado pela Kellogg’s Foundation com bolsa de estudos para aperfeiçoamento nos Estados Unidos. Trabalhou por quase dois anos no Departamento de Patologia do Peter Bent Brigham Hospital da Harvard University. Em seis meses de curso foi promovido de residente a assistente do departamento e integrou um dos grupos de pesquisa sobre nefropatologia.

Ao regressar ao Brasil continuou a desenvolver intensa atividade científica com repercussões no exterior. Envolveu-se com os estudos internacionais sobre arteriosclerose. Surgiu daí sua tese de livre-docência no Departamento de Anatomia Patológica da FMUSP. Na vanguarda da Patologia, nessa mesma época defendia a introdução e a valorização das biópsias por agulha, particularmente de fígado, como importante arma diagnóstica.

Em 1962, desligou-se da FMUSP e transferiu-se para o interior, aceitando o desafio de ser um dos pioneiros na instalação da recém-criada Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), posteriormente, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP). Nesta nova escola desenvolveu grande capacidade de gestão, mas nunca lutou por cargos de direção, de poder, mantendo sempre atuação essencialmente acadêmica, universitária.

A professora emérita e ex-diretora da Faculdade de Medicina de Botucatu, Dra. Dinah Borges de Almeida, foi aluna de Montenegro na FMUSP e trabalhou com ele por quase 40 anos. E assim o descreve: “Ele era uma pessoa compreensiva e entendia a dificuldade que todos tínhamos para mudar radicalmente nossas vidas pessoais e profissionais. Montenegro foi fundamental para o curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, a FCMBB que antecedeu a criação da Unesp, buscou professores e montou a estrutura física adequada, pois quando a faculdade foi fundada ficava em um prédio vazio que havia sido construído para sediar o Hospital de Tuberculose; à medida que a faculdade se desenvolveu e solidificou, o professor pôde se dedicar mais à sua área, a Patologia, transformando a faculdade de Botucatu em um pólo do ensino dessa disciplina”.

Na FCMBB trabalhou na implantação de um modelo de ensino que priorizava a qualidade, levando em conta princípios que considerava imprescindíveis como a disponibilidade em tempo integral dos docentes. A grande maioria dos professores pioneiros foi atraída a Botucatu pelo seu dinamismo e magnetismo. Um pequeno grupo de patologistas, sob sua condução, praticamente a partir do nada, edificou aquele que viria a ser um departamento de patologia que exerceu grande influência na história da especialidade no Brasil.

De acordo com um de seus discípulos, o professor Marcello Fabiano de Franco, “sob a visão e o estímulo do mestre, tivemos todas as oportunidades para crescermos nas três áreas de atuação acadêmica: docência, assistência e pesquisa. Assim foi possível construir um departamento moderno, contemporâneo, que aglutinou e formou numerosos professores, anatomopatologistas e pesquisadores, hoje espalhados em vários centros médicos país afora”.

Além de sua inteligência, visão ampla da patologia como especialidade multidisciplinar, sua enorme capacidade de aglutinar, Montenegro foi um mestre altamente generoso. Vibrava com as vitórias e conquistas de seus alunos. Dedicou-se a três projetos que foram revolucionários e inovadores: 1) Projeto Nutes-Clattes, que propiciou treinamento e formação em pedagogia médica; 2) Elaboração de um livro de patologia geral conciso, que pudesse ser utilizado pelos professores e alunos dos vários cursos da área de saúde; 3) Criação do Grupo de Estudo de Paracoccidioidomicose do campus de Botucatu.

Foi pioneiro na utilização de modelos experimentais da micose para a integração dos achados morfológicos e da resposta imunológica do hospedeiro. Essa abordagem levou a formação do grupo multidisciplinar de paracoccidioidomicose de Botucatu, consolidando-o internacionalmente.

Seu último legado acadêmico foi a fundação do Curso de Pós-Graduação em Patologia, que trouxe renovado vigor à pesquisa na instituição, pois agregava um grupo de pesquisadores não-médicos, ressaltando assim a importância da pesquisa em patologia com profissionais de diferentes formações.

Aposentou-se relativamente cedo como professor emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp), a fim de que sua vaga pudesse ser ocupada por uma jovem patologista do grupo. Porém, mesmo após a sua aposentadoria, continuou trabalhando normalmente, participando da rotina das reuniões de autópsia e como consultor em patologia do sistema nervoso central.

Teve ainda, importante atividade na vida da comunidade botucatuense, tendo sido presidente do setor de natação da Associação Atlética Botucatuense e recebido o título de cidadão botucatuense por sua contribuição para o desenvolvimento do Campus da UNESP, em Botucatu.

Esposo e pai muito dedicado e amado, foi casado em primeiras núpcias com Maria Silvia Alves de Lima (falecida), tendo com o ela o filho Roberto Alves de Lima Montenegro. Casou-se em segunda núpcias com a Professora Emérita Edy de Lello Montenegro. Dessa união nasceram os filhos Álvaro e Renata, e os netos Érico, Silvana, Roberto e Karina.

Mário Rubens Guimarães Montenegro faleceu no dia 11 de fevereiro de 2005, aos 82 anos. Em Botucatu sua atuação e influência foram tão amplas e marcantes que a Congregação da Faculdade de Medicina decidiu dar o nome de “Casa de Montenegro” à instituição, de modo similar à FMUSP, que é a “Casa de Arnaldo. Seu nome é também honrado como patrono da cadeira nº 4 da Academia de Medicina de São Paulo.

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