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Documentário narra vivências de premiado fotógrafo de guerra botucatuense

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Documentário narra vivências de premiado fotógrafo de guerra botucatuense

Documentário narra vivências de premiado fotógrafo de guerra botucatuense

A cena do documentário é de tirar o fôlego. Na Líbia, em 2011, um grupo de guerrilheiros dispara tiros de canhão, de lança-foguetes, rajadas de metralhadora e de fuzis contra prédios. As cápsulas são ejetadas das armas em ritmo frenético, em cascatas de metal que retinem sobre o asfalto quente. De repente, um dos rebeldes joga uma bola e o grupo começa a fazer uma linha de passe de futebol, dar embaixadinhas. Sem deixar de disparar um segundo. Como se fossem imortais. Imunes a tiros. Como se não houvesse amanhã. E para muitos, não houve.

A brincadeira surreal dos rebeldes que lutavam contra o ditador mais longevo da África, Muamar Kadaffi, só foi documentada porque um repórter fotográfico estava lá. A façanha, já que as balas pipocavam também ao lado dele, é do botucatuense André Liohn, um dos mais premiados fotógrafos de guerra do mundo.

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Pois em breve será possível conferir essa cena e outras do documentário Você Não É um Soldado (You’re Not a Soldier, no original em inglês), que retrata a trajetória profissional de Liohn e alguns de seus dilemas pessoais.

Paulista de Botucatu, ele foi um adolescente rebelde, sem rumo – mas sempre um humanista, algo palpável para quem o conhece. Assim foi até migrar para a Europa, onde trabalhou como lenhador na Noruega e arriscou suas primeiras fotografias, ao documentar a rotina de usuários de heroína.

O gosto por retratar a humanidade em sua crueza e dor o levou à África, onde trabalhou como cinegrafista e produtor jornalístico na guerra civil da Somália. De contrato em contrato, como freelancer, Liohn ingressar na Líbia em 2011, durante a Primavera Árabe. Ali, ao acompanhar a rotina de motoristas de ambulância, fez algumas das mais impactantes imagens de guerra da história moderna. Tanto que lhe renderam a medalha de ouro no prêmio Robert Capa, possivelmente a mais prestigiada honraria destinada a fotógrafos de guerra.

Foi também na Líbia que ele testemunhou a morte do britânico Tim Hetherington e do norte-americano Chris Hondros, colegas documentaristas. Os dois morreram em consequência de um disparo de morteiro, e seus corpos foram retirados da Líbia por esforço de Liohn, que ajudou a tirá-los, de barco, do campo de batalha.

A Primavera Árabe migrou do continente africano para a Ásia em 2012, e Liohn foi junto. Entrou na Síria, foi detido por rebeldes, passou maus bocados. Dali se dirigiu ao Iraque, onde atuou em três temporadas. Acompanhou a ascensão e queda do grupo terrorista Estado Islâmico, o que constitui a espinha dorsal das cenas de combate no documentário Você Não É um Soldado.

A maior parte das cenas do filme foi captada pelo próprio Liohn, em duas décadas de profissão. Um jovem cinegrafista que o acompanhava registrou várias cenas dramáticas do fotógrafo em meio ao bombardeio. De perder a respiração.

Este é o primeiro longa-metragem internacional da diretora, roteirista e jornalista Maria Carolina Telles, que já assinou o média-metragem A Verdade da Mentira (2020), sobre as fake news. Produzido pela Elo Company (que produz e distribui conteúdos para canais globais, como History Channel e Discovery), o filme aprofunda os dilemas de Liohn ao ser confrontado com a morte de colegas, dos riscos que ele mesmo corre e a contrariedade dos filhos (ainda pequenos) com sua escolha por áreas de guerra. Hoje, quando não está em serviço, o fotógrafo passa grande parte do tempo com suas crianças numa cidadezinha no interior da Itália. As filmagens também abrangem Botucatu e mostram a delicada relação de Liohn com os pais, assim como seus traumas de adolescência.

Conversamos com Liohn (que virá em breve ao Brasil para ministrar um workshop de fotojornalismo) e com Carolina a respeito do filme. O repórter fotográfico diz que jamais pensou em se tornar personagem biográfico. Gosta de ser reconhecido, é claro, mas não ao ponto de se tornar tema central de um filme. Concordou com o projeto de documentário pela amizade com a cineasta.

Como em quase toda produção, rolou estresse e houve dúvidas entre o personagem retratado, a diretora e a produtora sobre o destino do filme. A divulgação está aquém do que seria de se esperar. Sem passar por festivais brasileiros, mas exibidos em eventos internacionais como o Doxa e o Hot Docs, no Canadá, e o Docs Edge, na Nova Zelândia, Você Não É um Soldado teve exibições comerciais restritas e tem previsão de chegar a um serviço de streaming nos próximos meses.

Trata-se de um filme pleno, pleno de humanismo. É um retrato de seres confrontados em situações-limite, com sangue, suor e lágrimas. Como se propôs a ser – e conseguiu.

Fonte: GZH

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