Análise: Fim da privacidade “em nome do bem”
Que o governo chinês mantém sua população sob vigilância cerrada não é segredo para ninguém. Segundo informações da emissora estatal CCTV, desde 2017 foram instaladas cerca de 20 milhões de câmeras por todo o país, mas, será que dá para confiar nesses dados?
De acordo com levantamentos da IHS Markit Technology, a China possui um aparato de controle muito maior, podendo chegar a 350 milhões de câmeras. Durante a pandemia, além dos dispositivos já existentes nas vias públicas, mais câmeras foram instaladas em frente às portas das casas, impondo 24 horas diárias de monitoramento. Em alguns casos, a instalação foi feita dentro de residências particulares, mesmo sem o consentimento dos moradores.
A medida, segundo o governo chinês, ajuda a monitorar pessoas em quarentena, porém, a vigilância não se atém apenas aos infectados, pois tem sido feita aleatoriamente, conforme determinação governamental. Ainda assim, ao que tudo indica, Xi Jinping, presidente da China, não está satisfeito em controlar apenas 1,4 bilhão de pessoas.
Agora, o líder chinês quer pressionar o mundo a implantar um controle global por meio de QR Codes que conteriam informações de saúde, como atestados médicos, para “ajudar” a agilizar viagens e negócios internacionais. Tudo isso, claro, “em nome do bem” e visando “apenas” a saúde da população mundial, afinal de contas, o tal controle, “ajudaria a conter a propagação do coronavírus”.
O que me pergunto é: onde estava toda essa preocupação com a saúde mundial quando a China detectou o vírus, abafou a questão e calou, na marra, quem tentou alertar o mundo? Onde estava toda essa preocupação quando, como medida de contenção da doença, a China proibiu os voos domésticos, mas continuou permitindo voos internacionais? Ninguém podia voar de Wuhan para Pequim, por exemplo, mas qualquer pessoa, sem nenhuma restrição, pode viajar tranquilamente para qualquer parte do mundo.
E não só isso, afinal de contas é bem difícil de entender como o país natal do coronavírus construiu um hospital no epicentro da pandemia em apenas 10 dias. Chega a ser inacreditável que não houve nenhum planejamento prévio, incluindo treinamento de pessoal, armazenamento de materiais e insumos e tudo mais que uma obra daquele porte demanda para ocorrer em um prazo inédito como esse.
E como explicar que um país tenha – em estoque – tamanha quantidade de EPIs, respiradores e máscaras capaz de atender a demanda de boa parte do mundo? Para quem não sabe, a China, sozinha, exportou – somente em máscaras – o que o Brasil exporta em soja e carne. Lembrando que o nosso país é o maior exportador de soja e carne bovina do mundo. Até outubro, foram mais de US$ 40 bilhões apenas com a exportação desse único produto, fora todo o resto. Consulte o PIB das maiores economias do mundo e veja que, em plena pandemia, enquanto as economias ao redor do mundo despencaram, a China cresceu em um ritmo assustador. E adivinhe qual país se apresentou como o mais promissor na corrida pela vacina? Faça as contas da injeção monumental de dinheiro que a China terá com a exportação de bilhões de doses da CoronaVac.
Mas mesmo diante de tudo isso, há quem acredite que está tudo bem e que medidas como essas realmente são para o bem da humanidade. E, como de costume, quem tenta alertar sobre os perigos de um controle absoluto, tal qual se cogita impor, são taxados de ignorantes, negacionistas e inimigos da ciência. Só que desta vez a coisa foi tão longe que nem mesmo a ciência está dando conta de explicar…
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.