China e Brasil: o pragmatismo que salva economias
Como um Rambo de olhos puxados, o ator chinês Wu Jing, especialista em artes marciais é comparado a exaustão a seu derivado americano, vivido em áureos tempos por Sylvester Satallone. Jing protagoniza a série de filmes Lobo Guerreiro, um sucesso retumbante nas telas chinesas. O tal Lobo Guerreiro é um herói nacionalista, pronto a destruir os inimigos da China, sejam eles, por exemplo, malvados mercenários americanos e outros estrangeiros.
Mas, as aventuras bélicas dos cinemas devem ficar na fantasia dos jovens chineses. No mundo dos negócios, tanto a China, como seus parceiros comerciais precisam rapidamente entender os gigantescos obstáculos econômicos do planeta enfrentará em 2021, ainda sob o impacto da pandemia, quando o mundo vislumbra sua maior crise econômica desde o pós-guerra. É hora de fazer as economias andarem, parcerias se multiplicarem, acordos serem facilitados e a roda girar. E a palavra de ordem a ser grifada com tintas fortes nos manuais de comércio exterior é apenas uma: pragmatismo.
É esse pragmatismo que deve mover as ações comerciais entre Brasil e China. Trazer polêmicas do campo ideológico para o ambiente de negócios só traz ruídos desnecessários e perda de dinheiro. Brasil e China apresentam balanças comerciais com mútuas dependências, embora com vantagem para os chineses.
Desde 2009, mostra um levantamento do Estadão, a China ultrapassou os Estados Unidos como maior parceiro comercial brasileiro e de janeiro e outubro desde, a China comprou um terço de tudo que o Brasil vendeu ao exterior, enquanto que, segundo dados do ano passado, os brasileiros venderam 3,8% de todas as compras chinesas no exterior. Daí, questões de ordem ideológica se tornam obsoletas e rarefeitas. A China é comunista, mas desde o ressurgimento, com fôlego de trialteta, de seu setor privado nos anos 70, o país ostenta mais de 100 empresas entre as de maior faturamentos do mundo segundo a revista Forbes e produz bilionários em ritmo de bólido de Fórmula 1. De cada 5 bilionários do mundo, pelo menos um é chinês. Eis aí o comunismo chinês.
Num mundo completamente globalizado, novos mercados pululam em segundos e a ascensão de Joseph Biden ao poder americano esfria as hostilidades entre a China e os Estados Unidos, encerrando uma troca de farpas entre o governo Trump e os asiáticos, de certa forma reproduzida pelo governo brasileiro. O que isso quer dizer, que os Estados Unidos se apresentam como player poderoso no comércio com a China e concorrente, entre outros, do próprio Brasil.
Os números não mentem e acenam para, mais uma vez, desculpem a insistência, a necessidade do pragmatismo. Ainda segundo o Estadão, neste ano as exportações brasileiras para a China subiram 11% até outubro.
Criar arestas nesse momento pode parecer suicídio. A China precisa do Brasil, sim, mas o Brasil também precisa, e muito da China. Há questões delicadas, como a disputa entre Estados Unidos e os chineses na implementação da tecnologia de quinta geração (5G), internet móvel ultra rápida. Trump acusava a líder mundial no ramo de tecnologia, a chinesa Huawei, de espionagem e roubo intelectual, e pressionava aliados como o Brasil a não considerarem a empresa na hora implantação do 5G em seus países. A empresa chinesa já opera no Brasil, mas não se sabe ainda como será sua participação na implementação da tecnologia no país.
São dilemas que devem ser resolvido com a resiliência de um sábio chinês, e não com os disparos toniturantes do Lobo Guerreiro. Que 2021 seja o ano da inteligência e paciência, no difícil xadrez diplomático mundial.