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O candidato do PSOL ameaçado de punição por receber doação de Arminio Fraga

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Divulgação/Laís Dantas/ BBC NEWS BRASIL

O candidato do PSOL ameaçado de punição por receber doação de Arminio Fraga


Negro, evangélico, anticapitalista e liderança do morro do Sapo, em Duque de Caxias (RJ), o candidato a vereador do PSOL Wesley Teixeira atraiu o apoio de expoentes da elite brasileira, irritando parte do seu partido.

Um dos doadores da sua campanha é Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso. Hoje sócio da Gávea Investimentos, ele desembolsou R$ 30 mil para a campanha do psolista.

Teixeira recebeu também doações de João Moreira Salles (R$ 15 mil), membro do Conselho de Administração no Grupo Itaú Unibanco, e de Beatriz Bracher (R$ 30 mil), escritora e também herdeira do banco.

Depois desses apoios, parte do PSOL passou a defender que Teixeira não deve concorrer pelo partido, a menos que devolva os recursos.

O argumento é que o estatuto da sigla proíbe doações “provindas, direta ou indiretamente, de empresas multinacionais, de empreiteiras e de bancos ou instituições financeiras nacionais e/ou estrangeiros”.

Na noite de quinta-feira (01/10), Teixeira disse que não devolverá o dinheiro e, por isso, acredita que haverá uma representação formal contra sua candidatura.

Em uma reunião com sua equipe e apoiadores, o candidato disse que a aliança com expoentes da elite brasileira é “estratégica” e que não foi condicionada a mudanças na sua atuação política.

“Esse é o momento de unir todos contra o fascismo. Existe escala de a liança, sim. Existem aqueles que são mais parecidos com o que eu penso, e existem alguns que são aliados próximos, e existem aqueles até que eu divirjo, mas que em momentos estratégicos são aliados contra (os que são) nossos adversários mais ainda”, afirmou.

“Nesse processo, nós não rebaixamos o nosso programa. A gente não negociou nada. Nós dissemos (aos doadores) exatamente o que nós acreditamos. Eu acredito que é possível transformar o mundo e o sistema que nós estamos vivendo. Eu acredito que é possível superar o capitalismo”, defendeu, em fala emocionada.

O candidato de 24 anos, seguidor da Igreja Evangélica Projeto Além do Nosso Olhar e filho de uma pastora, ressaltou ainda sua defesa do Estado laico e a necessidade de mais negros em espaços de poder.

“Com racismo não tem democracia”, concluiu.

Apoio foi selado após encontro virtual

Parte do PSOL passou a defender que Wesley Teixeira não deve concorrer pelo partido, a menos que devolva doações

Parte do PSOL passou a defender que Wesley Teixeira não deve concorrer pelo partido, a menos que devolva doações

BBC NEWS BRASIL

A aproximação entre um “anticapitalista” e personalidades ligadas ao setor financeiro foi viabilizada pelo apadrinhamento da candidatura por Pedro Abramovay, diretor da Open Society Foundations para a América Latina, e Sueli Carneiro, diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra.

Os dois organizaram “uma reunião online com algumas pessoas do topo da pirâmide no Brasil”, para apresentar Teixeira, contou Abramovay por meio de sua conta no Facebook.

Segundo ele, os convidados a participar do encontro eram pessoas “que estão preocupadas com o crescimento do autoritarismo no Brasil e também com o racismo”. Além do objetivo de conseguir recursos para a campanha, o evento foi organizado devido à preocupação com a segurança de Teixeira, que concorre em um município violento, com presença de milícias.

Para Abramovay, dar mais visibilidade ao candidato pode protegê-lo de eventuais ameaças. Em 2018, a vereadora carioca Marielle Franco, também do PSOL, foi assassinada — o Ministério Público ainda investiga quem seriam os mandantes do crime, mas suspeitas recaem sobre integrantes de milícias do Rio de Janeiro.

“Uma das candidaturas mais importantes para mim esse ano é a de Wesley Teixeira para vereador em Caxias. Jovem, mas com mais de dez anos de militância, negro, evangélico, líder de um movimento de cursinhos pré-vestibulares e de alguma forma cria de uma geração de jovens na Baixada (Fluminense) que cresceu inspirado pela Casa Fluminense, organização que faz uma das discussões mais sérias sobre políticas públicas e desigualdades no Brasil”, escreveu Abramovay, no Facebook, ao explicar sua mobilização pelo candidato.

O diretor da Open Society também fez críticas à esquerda e defendeu que alianças são necessárias contra o “Bolsonarismo”.

“O fascismo não será derrotado sem diálogo com outros setores”, reforçou.

Arminio Fraga: ‘Fiquei muito bem impressionado’

À BBC News Brasil, Arminio Fraga disse que viu em Teixeira “uma pessoa de imenso potencial” e elogiou sua visão sobre “grandes temas sociais” como “racismo e pobreza”. Em um momento de grande polarização política, ele também gostou da preocupação do candidato com “a qualidade do ambiente político em geral, o desejo de ver um debate mais aberto”.

“Eu conheci o Wesley através de uma pessoa em que eu confio muito, tive uma longa conversa com ele e fiquei muito bem impressionado. É um candidato com uma mensagem de renovação, de abertura”, disse ainda.

Questionado sobre o posicionamento “anticapitalista” do seu patrocinado, Fraga considerou que isso não “tem nada a ver com a atuação que ele teria como vereador”. O ex-presidente do BC reconheceu a necessidade do capitalismo ser “aperfeiçoado”, mas argumentou que “não existe na história da humanidade alguma nação que tenha se desenvolvido plenamente sem uma economia de mercado”.

“Essa declaração (anticapitalista) é forte, eu obviamente não concordo com ela, mas eu também sempre entendi que o mercado faz muita coisa, mas não faz tudo. Ele requer uma regulação, uma certa supervisão. Acho que ele (Teixeira) está formando as ideias dele e, se eu mais adiante tiver oportunidade com ele, vou me aprofundar um pouco nessa ideia”, disse também.

Fraga não quis comentar as críticas dentro do PSOL, apenas disse: “não sou banqueiro”.

Seu apoio a um candidato negro é uma novidade e ocorre em um momento em que a defesa do antirracismo tem ganhado mais visibilidade no país.

Informações disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral mostram que o ex-presidente do BC fez doações a candidatos nas últimas cinco eleições (desde 2010), sempre para homens brancos, na sua maioria do PSDB, DEM e Cidadania (antigo PPS).

No pleito de 2018, quando fez onze doações no valor total de R$ 420 mil, passou também a patrocinar candidatos do Novo e apoiou um concorrente do PSB. Neste ano, até o momento, Fraga doou também R$ 25 mil para Pedro Duarte Jr., que tenta se eleger vereador do Rio de Janeiro pelo Novo.

PSOL enfrenta acusações de racismo

A direção nacional do PSOL não quis se manifestar sobre a situação de Teixeira. A BBC News Brasil tentou contato com a direção estadual do partido, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

Nas redes sociais, o candidato recebeu a solidariedade da principal liderança do PSOL no Rio de Janeiro, o deputado federal Marcelo Freixo, de Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, e de personalidades como o humorista Gregorio Duvivier. Alguns dos seus apoiadores acusaram de racismo a crítica à doação.

“Não tem que devolver dinheiro nenhum. Tem que ganhar a eleição para lutar pelo povo preto e pobre de Caxias. O PSOL quer só mais um pretinho pra juntar votos pra caixinha dos brancos. Não terão! Atacar @wesleyteixeiras é atacar pretas e pretos em todo Brasil. Vai custar caro”, escreveu no Twitter Douglas Belchior, fundador da Uneafro Brasil.

Divulgação/Laís Dantas/ BBC NEWS BRASIL
Fonte: R7

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