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Polícia investiga se mortes em casa de repouso foram por maus-tratos

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Policiais da 35ª DP (Campo Grande) interditaram, neste domingo (7), a Casa de Repouso Laço de Ouro, após denúncias de maus-tratos contra idosos
Divulgação

Policiais da 35ª DP (Campo Grande) interditaram, neste domingo (7), a Casa de Repouso Laço de Ouro, após denúncias de maus-tratos contra idosos

A Polícia Civil vai investigar se mortes que ocorreram na Casa de Repouso Laço de Ouro, em Guaratiba, Zona Oeste do Rio, foram causadas por maus-tratos. Anteontem, agentes da 35ª DP (Campo Grande) receberam relatos de estagiários do estabelecimento. Na unidade, policiais encontraram o local em péssimo estado, inclusive com idosos passando fome. Há quatro meses trabalhando na Casa de Repouso Laço de Ouro, o técnico de enfermagem Joseph Borges disse que ele e seu colega de trabalho estavam há algumas semanas reunindo provas para denunciar a clínica às autoridades. Ao longo do tempo que trabalhou no endereço, ele acredita ter presenciado quatro óbitos de pacientes que não eram bem cuidados.

“Teve paciente que morreu com escaras muito grandes porque muitas vezes não tinha material para fazer curativo. Uma foi internada às pressas, mas acabou morrendo. O que foi levado para a UPA de Campo Grande neste domingo era outro caso de que estávamos falando há um bom tempo. Parece que queriam deixá-lo morrer ali. O paciente vai definhando. Um médico ia uma vez ao mês, mas não olhava os pacientes. Não tínhamos recursos para trabalhar”, disse.

Duas pessoas foram presas em flagrante: a dona da casa de repouso, Vanessa da Silva Ferro e Manoel Alves Paulino, um funcionário. A autuação foi pelos crimes de tortura, sequestro e cárcere privado e maus-tratos contra idoso. O técnico de enfermagem Rafael Venâncio foi detido, mas não foi autuado e acabou liberado após prestar depoimento.

“Vamos ouvir os parentes desses idosos, funcionários da casa de repouso, além da rede de apoio da prefeitura, que tem habilitação técnica para colaborar. A investigação prossegue para apurar outros crimes. Como, eventualmente, a administração de medicamentos controlados e a questão dos benefícios previdenciários”, afirma o delegado Marcus Vinícius Lopes.

Ao todo, 29 idosos foram encontrados na casa de repouso. Ontem, após avaliação médica, 20 voltaram para casa com seus familiares, três foram levados ao hospital e seis encaminhados para abrigos públicos da prefeitura do Rio.

Funcionário pegou sarna

Trabalhando há quatro meses na Casa de Repouso Laços de Ouro, interditada pela Polícia Civil do Rio neste domingo após denúncias de maus tratos, o técnico de enfermagem Joseph Borges disse ao GLOBO que ele e seu colega de trabalho estavam há algumas semanas reunindo provas para denunciar a clínica às autoridades. A chegada da polícia e a interdição no local não foi surpresa para Joseph. Ele conta que os idosos passavam fome na casa de repouso e comiam poucas proteínas. No lanche, eram “três biscoitos com pouco suco”.

“Lá era um descaso em todos os sentidos: na alimentação os pacientes não comiam praticamente nenhuma proteína. Eles passavam fome. Tinha dias que a comida tinha um cheiro de estragado, mas se não déssemos aquilo eles passavam fome”, diz.

Local foi multado e parcialmente interditado pela prefeitura

Vanessa da Silva Ferro Souza, dona da casa de repouso Laço de Ouro, interditada pela Polícia Civil, é ré por maus tratos desde abril de 2022. Neste domingo Vanessa Ferro e um funcionário da unidade foram presos em flagrante. O local foi multado três vezes pela Vigilância Sanitária do município e foi interditada parcialmente duas vezes nos últimos cinco anos. A última autuação é de 16 maio deste ano. Além disso, a Laço de Ouro tinha um alvará vencido desde 2015, e um pedido de 2021 para renovação, que não foi atendido.

A prefeitura informou que em casos como de 2015, “o risco de dano à saúde por falta de cuidados assistenciais adequados, ou seja, a constatação de negligência ou imperícia profissional, é competência dos conselhos que respondem pelo exercício profissional, cabendo à Vigilância Sanitária a avaliação do cumprimento das normas sanitárias de funcionamento”. O Ministério Público não respondeu se pediu o fechamento da casa de repouso ou o porquê de não tê-lo feito, apesar da denúncia. Procurada, a Polícia Civil ainda não respondeu os contatos da reportagem.

Questionado o por quê de não ter denunciado a casa de repouso anteriormente, o técnico de enfermagem Joseph Borges afirmou que presenciou uma fiscalização da área da saúde ir ao local mas não checar o estado dos pacientes. A partir disso, além de um medo dos donos do estabelecimento, ele diz ter começado a reunir provas para denunciar o caso:

“Os primeiros plantões foram tranquilo, mas os últimos se agravou a situações e resolvi acumular provas: fotos e vídeos. Vi uma fiscalização que foi ao local mas não olhou os pacientes. Por isso decidimos acumular provas. Eles tinham nossos nomes, fotos, endereços. E tem gente que precisava de dinheiro, mas há dois meses estava ali acumulando provas”, afirma Joseph. A esposa do outro técnico de enfermagem que estava na delegacia, ratificou a versão do colega do marido.

De acordo com a secretaria municipal de Saúde, o processo de regularização do estabelecimento não foi concluído no último ano e, por isso, desde janeiro a instituição estava interditada para novas admissões. A prefeitura diz que acionou outros órgão especializados para monitorar o local. A última visita de uma equipe da Clínica da Família foi há cerca de 15 dias, mas, de acordo com a SMS não foram identificadas situações de desassistência aos internos.

O técnico de enfermagem relatou ainda ao GLOBO que era comum a falta de insumos básicos, como fraldas, luvas e esparadrapos. A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) era frequente e, por causa disso, Joseph diz ter pego escabiose, popularmente conhecida como sarna.

“Era uma troca de fralda por dia. E tinha dias que não tinha nenhuma fralda para trocar. Eles alegavam que não tinha. O esparadrapo, que é algo barato, faltava ás vezes e por isso, tinha idoso que chegou a ficar quatro dias sem trocar o curativo. Faltava luva para nós e por isso eu adquiri escabiose (sarna) por não ter material suficiente de proteção. Os aparelhos de pressão e de glicose não funcionavam direito então não conseguíamos acompanhar a saúde do paciente”, conta.

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Fonte: IG Nacional

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