Para Anfavea, imposto no Brasil deveria ser equivalente ao da Europa
O mês de janeiro não foi de boas notícias para a indústria automobilística no Brasil. O anúncio de fechamento das fábricas da Ford, combinado com a queda de 29,8% nas vendas de veículos fez permanecer em alerta os fabricantes e levantou mais uma vez a questão da competitividade no setor. Para o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes , a carga tributária segue como fator-chave nessa equação.
De acordo com cálculos da Anfavea , atualmente 44% do preço de um carro no Brasil é imposto, enquanto em países como o Reino Unido e a França esse percentual é de 20%. “Se [a carga tributária] fosse equivalente ao que é na Europa, seria uma coisa razoável. Acredito que muito mais gente poderia comprar veículos. E o valor arrecadado seria maior. Outro problema é a estrutura complexa dos impostos. Se quisermos ter uma país crescendo, precisa ser mais equilibrado”, destacou Moraes, em coletiva de imprensa virtual realizada nesta quinta-feira (4).
Na ocasião, a associação que reúne os fabricantes de veículos baseados no Brasil divulgou um estudo que contesta a afirmação de alguns analistas de que a indústria automobilística receba um grande volume de subsídios sem o retorno devido à sociedade.
Feito com base em dados da própria Receita Federal , o levantamento aponta que para cada R$ 1 desonerado, a indústria automobilística arrecada R$ 11,10. Ainda segundo o estudo, programas como o Inovar-Auto e o atual Rota 2030 condicionam a desoneração a investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Movimento que fez o Brasil figurar, desde 2015, no ranking de 10 países que mais investem em desenvolvimento de inovações na área automotiva.
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“O peso da carga tributária está na indústria de transformação e especialmente no setor automotivo. Falam de incentivos fiscais, mas nunca do Custo Brasil. Se fala em abrir o mercado, mas o que não pode é abrir o país sem resolver os problemas. Temos fábricas de padrão internacional, mas é preciso melhorar o ambiente de negócios. Se não fizer isso, vamos tirar empregos do brasileiro para dar para o americano, o asiático ou o europeu. E empregos de qualidade”, completou o presidente da Anfavea.
Para Moraes, o risco imediato maior para a economia do país não está necessariamente relacionada ao fechamento de fábricas, mas ao cenário de custos e dificuldades, que não contribui para atrair investimentos. Visão que é compartilhada pelo presidente da Toyota do Brasil, Rafael Chang.
“Recentemente, vimos importantes empresas do nosso setor deixarem de produzir no Brasil. Nós reafirmamos nosso compromisso com o País, mas precisamos de condições, inclusive tributárias, mais equilibradas e justas”, afirmou o executivo, em comunicado divulgado pelo fabricante.
Demanda e estoques
A indústria automobilística fechou janeiro com um total de 171,1 mil automóveis de passeio emplacados. Retração de 29,8% para dezembro do ano passado e de 11,5% na comparação com o mesmo mês de 2020.
Apesar da persistência dos problemas de produção e na cadeia de fornecimento provocados pela pandemia , a indústria conseguiu manter em janeiro a relativa estabilidade no nível de estoques de veículos na comparação com dezembro, suficiente para atender 18 dias de vendas.
“Janeiro é um mês tradicionalmente mais fraco, mas é uma queda importante. Ainda é não é possível dizer como será o restante do ano. Mas causa preocupação a possibilidade de agravamento da pandemia, de possíveis aumentos na taxa de juros e de fornecimento de componentes e insumos”, finalizou Moraes, da Anfavea .