Camilla Camargo sobre maternidade: “Não existe rotina perfeita”
Carregando o sobrenome de uma das famílias mais conhecidas do Brasil, a discreta Camilla Camargo vai muito além do seu parentesco. Dona de um currículo que conta com uma infinidade de cursos e atuação em mais de 20 espetáculos teatrais, entre eles o sucesso ‘Zorro, O Musical’, protagonizado por ela e o ator Jarbas Homem de Melo, a artista, agora mãe de duas crianças, tem se dedicado também a abordar assuntos essenciais como maternidade real , ressaltando que ainda sente que estamos longe do ideal em matéria de acolhimento e empatia.
Prestes a completar 2 milhões de visualizações em seu novo canal no Youtube, Camilla usa a plataforma para compartilhar sátiras baseadas em cenários cotidianos, papos descontraídos e os desafios da vida de mãe. Em entrevista exclusiva à coluna, Camilla falou sobre a pressão que as mulheres, e em especial mães, sofrem na sociedade ainda patriarcal que vivemos e ressaltou também o quanto é nocivo se deixar consumir pelos sentimento de culpa e julgamento de quem tenta ditar não só como devem ser nossos corpos, mas também nossa conduta.
Sobre maternidade, tinha alguma coisa que você não sabia que pesaria tanto e que hoje sente na pele? Quais você julga serem os maiores desafios dentro desse tema?
Não achava que ia pensar tanto em muitas coisas, como no futuro dos meus filhos, no que estamos deixando para as próximas gerações, nos efeitos dos nossos atos. Acho que a maternidade é um constante aprendizado, que tem muitos desafios, mas vejo que o medo de que algo aconteça com seu filho e de saber como educar são os maiores deles.
Qual a importância, na sua opinião, do Feminismo (sororidade, empoderamento) no mundo de hoje?
Como muita gente ainda não entende o real significado, vale ressaltar que o Feminismo, entre outras coisas, representa a busca por igualdade e não colocar um gênero acima do outro. Precisamos falar sobre isso e que, por exemplo, não é mais aceitável ter mulheres recebendo menos que homens executando uma mesma função, mesmo número de horas, etc… Não é justo, não faz sentido. Eu acredito que daqui a 10 anos a maior parte da população verá a forma como tudo foi normalizado até hoje com espanto, porque de fato é espantoso. Até quando algumas pessoas acharão normal o próximo ter desvantagens na vida porque nasceu com outro sexo, cor, etc? Não é normal, e por essa e outras é tão necessário falar, e muito, sobre o assunto. Enquanto disparidades não forem resolvidas, a luta continua.
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Qual a importância também de mais mães falarem e dividirem as experiências sem filtros? Tem a ver com acolhimento?
Trazendo o feminismo para a maternidade, o feminismo tem dentro de si princípios como a sororidade, que é justamente esse acolhimento e empatia. A gente tentar, antes de fazer algum possível julgamento, se colocar no lugar e também dividir mais a realidade e não o que às vezes o patriarcado espera que seja dito. Imagine o sentimento de culpa que muitas mães tinham tempos atrás por ler muita coisa que apenas ressaltasse o lado incrível da maternidade e que fizesse com que ela achasse que suas dores, dificuldades, etc, não seriam normais? Imagina a dor de uma mãe com depressão pós-parto, que 15 anos atrás nem tinha muita referência e informações sobre esse assunto, quando ele era pouquíssimo abordado…. Nós acrescentamos umas as outras quando dividimos experiências reais com a dor e a delícia de ser mãe, que foi pra mim, por exemplo, a maior realização pessoal da minha vida, mas que nem por isso eu vá dizer que é padecer no paraíso, pois tem suas dificuldades e não são poucas. Existe um sentimento de culpa, que é difícil vencer quando você precisa, aos poucos, ter menos tempo da sua rotina dedicada ao filho. Além disso, dormir mal uma semana é ok, mas dormir meses acordando à noite e sempre em estado de alerta gera um cansaço mental… Nada disso se compara ao quão incrível é ser mãe e ao amor e alegria de ter seu filho nos braços, mas faço questão de dividir também o outro lado. Não reclamando de nada porque, como falei, é pequeno perto do resto, mas porque também é uma realidade. Não existe rotina perfeita, são fases que fazem parte da pós-gestação de quase toda mãe e tudo bem não se sentir incrível todo dia.
Nessa pandemia falamos muito sobre privilégios, como você se vê nesse momento?
Privilegiada como você mesmo disse, com certeza. Infelizmente muita gente não teve a mesma oportunidade de ficar em casa e justamente por isso era tão importante que, quem tivesse essa chance, fizesse sua parte (e ainda faça), evitando assim a disseminação do vírus. Não só os médicos e todos que estavam na linha de frente, mas até mesmo todo o pessoal que se expôs nessa pandemia pra garantir seu sustento diário, seja fazendo entregas, ou qualquer coisa do tipo. Me causa uma indignação quando vou à rua, por exemplo, e vejo pessoal sem máscara como se nada estivesse acontecendo… São mais de 500.000 mortes, não é possível.
Viver dupla jornada é uma realidade de muitas mães e provavelmente será a sua em breve, você tem pensado nisso? Se sim, isso tem causado qualquer sentimento de angústia depois de tanto tempo dedicada quase integralmente aos seus pequenos?
Eu, de uma forma geral, tento não sofrer por antecipação, mas claro que pensamentos de como será essa jornada dupla já bateram na minha porta. De qualquer forma, tenho tentado focar no quão maravilhoso será voltar ao trabalho que amo, pros palcos, gravações… e ainda ter meus pequenos em casa quando chegar pra um grande abraço. No começo sei que dará uma dorzinha no coração de saber que eles me tinham quase em tempo integral e agora terão menos tempo com a mãe, mas é um processo necessário, assim como mais pra frente quando eles forem pra escolinha e por aí vai. É um processo de socialização muito importante também eles, aos poucos, irem fazendo suas coisinhas e focando em outras possibilidades durante a nossa distância.