Eduardo Gallotti, fundador de rodas de samba do RJ, morre aos 58 anos
Morreu, na madrugada desta quinta-feira (12), o cantor e compositor Eduardo Gallotti, aos 58 anos. O músico carioca — que lutava contra um câncer nas cordas vocais — foi fundador de rodas de samba tradicionais no Rio de Janeiro, como a do Candongueiro (Niterói), do Sobrenatural (em Santa Teresa), do Severyna (em Laranjeiras) e do Mandrake (em Botafogo).
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Gallotti — ou Galo, como era apelidado pelos amigos —costumava dizer que sua “missão” era reunir pessoas para belas confraternizações musicais. Em entrevista recente ao GLOBO, publicada em novembro de 2021, o artista, que havia perdido a voz devido ao tratamento contra o câncer, ressaltou que o mais importante, para ele, era “estar vivo e continuar a missão de agregar músicos e pessoas para fazer rodas bonitas e emocionantes”.
Apesar das dificuldades físicas enfrentadas com a doença, ele seguia marcando presença em rodas de samba nos últimos meses. Foi assim em novembro de 2021, na reabertura do Trapiche Gamboa, na Zona Portuária, casa onde o músico comandava a roda do Gallotti, junto ao Grupo Centelha. Com um pano cobrindo o pescoço em razão de uma traqueostomia, o sambista empunhou seu cavaquinho e, à medida que circulava pelo salão, recebia muito carinho.
‘Samba se aprende em roda de bar’
Gallotti começou a cantar samba nos saraus do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, onde estudava. Mergulhou na obra de Cartola, Paulo da Portela, Candeia e Nelson Cavaquinho graças às fitas cassetes gravadas por seu irmão. Aprendeu a tocar cavaquinho sozinho (“samba se aprende em roda de bar, é a melhor escola”), mas fez dois anos de aula com Henrique Cazes.
Em 1984, trocou a faculdade de Biologia pela noite. Apresentou-se em bares dos bairros da Lapa e de Botafogo, no Baixo Gávea e até no posto de gasolina do Humaitá. O dinheiro que ganhava não era suficiente, mas dava para pagar o ônibus e a cerveja. Nas andanças pelo subúrbio, conheceu gente como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Beto sem Braço, Fundo de Quintal, Wilson Moreira, Walter Alfaiate, Mauro Duarte…
O músico fez parte dos grupos de pesquisa musical Diz Isso Cantando e Éramos Seis, com o qual participou da novela “Kananga do Japão”. Também integrou a Orquestra Republicana e o grupo Anjos da Lua, que comandaram bailes antológicos no Clube dos Democráticos, na Lapa, nos anos 2000.
Compôs para blocos do carnaval como “Simpatia á quase Amor”, “Suvaco do Cristo”, “Bloco da Segunda”, “Barbas”, “Meu Bem Volto Já”, “Imprensa que Eu Gamo”, entre outros. Foi jurado de bateria dos desfiles das escolas de samba. Dividiu o palco, tocando e cantando, com Elza Soares, Paulinho da Viola, Elton Medeiros no projeto “Roda de Bamba”, no Museu da Imagem e do Som do Rio.
Em 2002, lançou o disco “O samba das rodas”. Estava no auge da potência de sua voz, mesmo castigada pelo cigarro, pelas madrugadas de cerveja gelada e gogó solto — muitas vezes, sem microfone. Todo dia era essa a rotina. Até que vieram os 50 anos, e a conta da vida boêmia, como ele mesmo afirmava — levada no “samba vadio” —, chegou.
Passou a nadar para perder os quilos a mais que lhe prejudicavam a saúde (conseguiu emagrecer 45 quilos) e adotou uma alimentação mais saudável. A luz vermelha acendeu de vez quando a voz passou a não aguentar o tranco e a rouquidão virou companheira constante.
— Queria deixar a mensagem para as pessoas pegarem leve no fumo e na bebida e fazerem atividade física. Aconselho todos que usem a voz para trabalhar a procurarem um otorrino de seis em seis meses — sugeriu ele, em entrevista ao GLOBO, em novembro de 2021.