Gabriela Loran analisa potência como atriz: ‘Quero ser protagonista’
Interpretar Priscila em “Malhação: Vidas Brasileiras” foi apenas o início de uma jornada agitada para a carreira de Gabriela Loran. Desde então, a atriz transitou entre o cinema, teatro e séries até ser convidada por Natalia Grimberg, mesma diretora da série da Globo, para retornar à emissora em “Cara e Coragem”, nova novela das 7.
Em entrevista exclusiva ao iG Gente, a artista, natural de São Gonçalo, celebra a oportunidade de voltar para a rede nacional como Luana, secretária e braço-direito das personagens de Taís Araújo e Claudia Di Moura. Contudo, ainda que animada para a estreia da novidade em 30 de maio, Gabriela conta que deseja ir além e mostrar mais da potência como atriz.
“Eu fiquei marcada muito tempo como a primeira atriz trans de ‘Malhação’ […] Quero ser protagonista. Quero poder mostrar essa potência, essa carga dramatúrgica. Quero poder mostrar que eu sou uma boa atriz. Muitas pessoas na internet, por exemplo, não sabem que sou atriz. E sou graduada, estudei muito tempo para isso”, afirma.
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Atriz formada pela CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), Loran explica que o universo da atuação era uma realidade distante para a família na infância. No entanto, a imaginação fértil e a dedicação intensa às personagens nas brincadeiras de “faz de conta” fizeram com que o desejo de se especializar nessa área não desaparecesse.
“Fui crescendo sem poder fazer isso, mas eu sempre fui uma pessoa muito engraçada. Todo mundo falava: ‘Nossa, a Globo está te perdendo’. Escutei muito isso a minha vida toda. Até que tive a possibilidade de, quando eu comecei a trabalhar, participar do vestibular da CAL. Eu tinha o dinheiro que eu trabalhava, ajudava minha família, mas sobrava um dinheiro. E em silêncio eu fui lá, paguei, fiz o vestibular e fui aprovada”, relembra.
Loran ainda recorda a importância do teatro na vida pessoal: “Comecei minha graduação e desabrochei enquanto uma pessoa trans no teatro. O teatro foi super importante nesse processo para mim. E fui me desenvolvendo e entendendo o ofício. Foram noites traiçoeiras também, porque eu trabalhava e estudava ao mesmo tempo, então, foi muito cansativo por conta disso. Mas o meu propósito era me formar e viver de arte”.
Dando passos maiores como atriz, ela destaca o amadurecimento que já viveu desde o primeiro papel na Globo. “Desde que eu fiz ‘Malhação’, eu não parei de trabalhar como atriz […] Fui entendendo mais do ofício, porque TV é diferente do cinema, que é diferente de teatro. Cresci e amadureci muito enquanto atriz, por entender como esses veículos funcionam”, aponta Loran, que avisa querer mais.
“Sinto uma falta muito grande, quase que uma limitação, na questão dramatúrgica. Sinto que tenho potência para fazer muita coisa […] Quero ganhar o Oscar um dia, mas como, se não criam personagens para mim? Para que eu possa mostrar minha carga dramatúrgica, para mostrar todo o meu talento. O meu universo ainda está muito limitado na ‘amiga de fulano’, na ‘assistente do beltrano’, na ‘se vou usar o banheiro ou não posso usar o banheiro’. Fica muito ligado nessa temática, muito pobre em relação ao corpo trans. Nós, pessoas trans, somos tão complexas quanto qualquer ser humano. E eu quero essa complexidade”, diz.
Gabriela exemplifica por quais papéis gostaria de mostrar a potência como atriz: “Quero poder ser uma médica que nem naquela série maravilhosa com a Marjorie Estiano [‘Sob Pressão’]. Eu quero poder viver essas personagens também, assim como eu olho para atrizes fazendo grandes cenas, como Juliana Paes agora em ‘Pantanal’, fazendo aquela cena onde ela morre. E quero me orgulhar por ela. Quero poder mostrar o meu tom dramaturgo, quero também que as pessoas se emocionem com o meu atuar. Sinto que ainda fui limitada por conta disso, de que tenho muita potência, mas não tenho tanta possibilidade de mostrar”.
Loran fica feliz por se tornar uma referência entre pessoas trans que sonham em trabalhar com a atuação, mas ela ainda faz um aviso: “É muito importante ser referência, mas eu não quero ser ‘A’ referência”. “Porque penso que não tem como representar uma classe tão diversa e tão plural enquanto a sigla T. Eu não quero ser A referência de mulher trans, A mulher trans e A primeira atriz trans […] É importante ser a primeira, mas que a gente não seja só as únicas a ocupar esses espaços”.
“Que eu possa atuar com outra mulher trans, que eu possa ser dirigida por uma mulher trans, que eu possa ler o roteiro escrito por uma mulher trans. Ao mesmo tempo que somos muito singulares, somos muito plurais, a interseccionalidade está nisso. Eu sou uma mulher trans, a Lina [Linn da Quebrada] é uma travesti e nós somos completamente diferentes, apesar de habitar o mesmo universo LGBT na sigla T. Então, é importante, é lindo, maravilhoso, mas eu quero mais possibilidades”, expõe.
Ao mencionar Linn da Quebrada, Gabriela Loran também expressa a importância de ocupar um espaço na nova novela após a participação da artista no “BBB 22”. “A diretora maravilhosa Natalia Grimberg, a minha diretora em ‘Malhação’, me convidou para viver essa personagem e obviamente aceitei. Primeiro, porque ela foi a primeira diretora que me deu a oportunidade de mostrar o meu talento na TV e segundo que é eu acho que estava na hora também de voltar para a televisão. Eu penso que é importante ocupar esse espaço, tendo em vista que a Lina estava em ascensão lá no ‘Big Brother’. Eu achei: ‘Poxa, vai acabar o ‘Big Brother’ e eu já vou entrar em ‘Cara e Coragem’. Então é mais uma pessoa trans em destaque, o que eu acho importante”, conta.
Na nova novela das 7, a personagem de Gabriela não apresenta um arco histórico, o que pode mudar ao longo dos capítulos já que Luana tem uma responsabilidade na história. Isso fez com que a atriz tivesse uma rotina mais espaçada entre as gravações até o momento, fator que não limitou a empolgação de viver a experiência.
“É muito incrível. Hoje olho para o lado no camarim e eu estou com Taís Araújo, que é uma pessoa que eu vi criança na TV e hoje estou ao lado dela, atuando com ela. Ela é referência para muitas meninas pretas, muitas mulheres pretas. Hoje olho para o lado e vejo Claudia Di Moura me dando conselhos, vejo a Mel Lisboa atuando comigo também, eu atuando com Ícaro Silva… eu começo a pensar: ‘Gente, é um reconhecimento legal de poder entender que a gente está alcançando esses lugares’. E não tem preço, é muito gratificante”, compartilha.
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