‘Pantanal’: piloto de verdade, Ari da primeira versão estará no remake
Luiz Henrique Rondon Santagostino, o Lilique, teve três contratos com a TV Manchete em 1990: transporte, produção e atuação. Sem nunca ter feito curso de interpretação, o homem criado na Fazenda Rio Negro, que pertencia ao seu avô e virou cenário da casa de Zé Leôncio (Cláudio Marzo/Marcos Palmeira) ontem e hoje, em “Pantanal”, foi convidado pelo diretor Jayme Monjardim a dar vida ao piloto Ari na primeira versão da novela, escrita por Benedito Ruy Barbosa. Foi só por causa dele que o fenômeno da teledramaturgia aconteceu.
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— Eu fiz tudo na primeira “Pantanal”. Apresentei as melhores fazendas ao Jayme, tinha sete aviões envolvidos nessa missão da novela. Tudo o que ele precisava era comigo. Voei 1.300 horas em 11 meses, mais de cem por mês — contabiliza Lilique, lembrando que só Cristiana Oliveira (a primeira Juma) ele levou do interior à capital do Mato Grosso do Sul por 75 vezes: — Na época, a filhinha dela (Rafaella) tinha 2 aninhos. Eu encontrava a Krika chorando pelos cantos, de saudade. E me dispus a levá-la até Campo Grande para poder se comunicar com a menina. Ela ficava duas horas no rádio e saía toda satisfeita.
Em dezembro de 2020, Lilique reencontrou a atriz em Campo Grande, após três décadas sem contato.
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— Ela chorou de soluçar por uns cinco minutos, enquanto me abraçava. Fiquei até preocupado com tanta emoção, foi bonito perceber como ela é grata — conta, orgulhoso pelas amizades que construiu.
Carinho manuscrito
De Paulo Gorgulho, que interpretou o Zé Leôncio jovem na primeira fase da versão original e o Zé Lucas de Nada na segunda, Lilique guarda com carinho uma carta elogiosa, escrita a mão pelo ator.
— Ainda no segundo dia de Pantanal, ele bateu o olho nas minhas roupas, bombacha e faixa na cintura, e cismou que queria usá-las em cena de qualquer jeito. E assim foi, do início ao fim da novela. Teve uma gravação em que ele rolava pelado na areia com Ingra Lyberato (a Madeleine da primeira fase) e depois tinha que pegar um jacaré na unha. Eu capturei o bicho, limpei ele todinho e amarrei a boca com linha de nylon. Mesmo assim, Paulo morreu de medo de chegar perto e sugeriu que eu o dublasse nessa hora, já que éramos parecidos fisicamente. Eu falei: “Na cena com a Ingra você não quis minha ajuda, né?” (gargalhadas). Nunca mais o vi, tenho muita saudade… — desabafa por telefone o simpático senhor, que faz 80 anos em outubro: — Estou aposentado, mas voo todo dia, levando gente até o Pantanal. Aquilo é a minha vida.
As cenas em que Joventino (Marcos Winter) e Tadeu (Marcos Palmeira) pilotavam aviões monomotores, ele conta, eram reais:
— Eu decolava na direção e depois pulava para a parte de trás. Passava o ator para o assento do piloto e ficava escondido no banco para a câmera não me pegar. Marzo, que ficava no carona, suava até dentro das calças, de tanto medo. Já Winter adorava pilotar.
Acervo pessoal
As memórias não estão guardadas só na cabeça de Lilique: além da carta manuscrita por Gorgulho, o veterano guarda relíquias daquela época em forma de álbuns de fotos, recortes de jornais e revistas, quadros e um LP com a trilha sonora da novela, autografado por todo o elenco.
— Também tenho a sinopse original da novela, que Jayme me entregou assim que colocou os pés aqui em Campo Grande, recomendado por um amigo em comum do Rio. Ele estava aflito, sem saber para onde ir. Ficou hospedado num hotel da cidade durante dois dias e me ligava sem parar, ansiosíssimo. Quando o enfiei no avião e mostrei as locações no Pantanal, ele enlouqueceu.
Citado por Claudio Galvan, atual intérprete do papel que lhe foi confiado há 32 anos, em uma das cenas do remake, como uma forma de homenagem, Lilique confessa não acompanhar “Pantanal” com afinco, hoje em dia:
— Vejo uma cena ou outra. Encontrei Bruno Luperi e falei: “Você pode mandar helicóptero e até boeing pra cá, mas o que aconteceu em 1990 foi mágico, um momento iluminado por Deus, nunca vai se repetir. Nós quebramos barreiras.
Agora, Lilique aguarda ansioso pelas gravações finais da novela, em que se casarão Zé Leôncio (Marcos Palmeira) e Filó (Dira Paes), Tadeu (José Loreto) e Zefa (Paula Barbosa), e Marcelo (Lucas Leto) e Guta (Julia Dalavia) — se nada mudar em relação à trama original. Ele foi convidado para uma participação especial.
— Os casos de Covid no elenco adiaram as gravações, mas eu não vejo a hora de reencontrar meu amigo Marquinhos Palmeira! — vibra.