‘Pantanal’: Tenório da primeira versão relembra castração de Alcides
Intérprete de Tenório na primeira versão de “Pantanal”, o ator Antônio Petrin ainda guarda na memória a tensão que tomou conta do ambiente nos minutos que antecederam a gravação de uma das cenas mais emblemáticas da novela: a castração de Alcides (Ângelo Antonio), depois que vilão descobre o caso da mulher, Maria Bruaca (Ângela Leal), com o peão.
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– Saímos muito cedo da fazenda onde estávamos para andar um espaço grande até o local em que a cena seria gravada. Lembro que eu e Ângelo Antonio caminhávamos lado a lado e nem nos olhávamos, era um silêncio aterrador. Sabíamos da dificuldade que seria gravar aquela cena, carregada de emoção – conta Petrin, de 83 anos.
Quando a gravação começou, Ângelo estava deitado na rede, e a câmera captava o rosto de Petrin olhando por uma janela. Foi nessa hora que o ator avistou uma situação que o fez mergulhar numa comoção quase incontrolável, como ele diz.
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– Olhei para a cara do diretor, o (Carlos) Magalhães (diretor), e vi lágrimas saindo pelos seus olhos. Aquilo me provocou muito, redobrou a minha emoção, eu tremia. Falando disso agora parece que estou sentindo a mesma coisa – afirma. – A Ângela Leal ali ao lado, sofrendo com a cena… Foi um dos momentos mais marcantes da minha trajetória como ator em termos de emoção e de dificuldade de gravar em um lugar tão inóspito.
Na versão que foi ao ar em 1990, Tenório prende Alcides e Maria Bruaca (vivida por Isabel Teixeira atualmente). Enquanto a mulher está com as mãos amarradas, Alcides (Juliano Cazarré é o intérprete do personagem no remake) está pendurado pelos braços. O vilão, então, esquenta uma faca no fogo e direciona a arma até a genitália do peão. Após gritos de dor, Alcides desmaia. Maria Bruaca se desespera e luta contra Tenório. Apesar da castração (que depois se descobre que não deu muito certo), os dois conseguem escapar com vida.
Em recente entrevista ao GLOBO, o autor do remake, Bruno Luperi, não negou e nem afirmou que a cena estará na nova versão da novela.
Petrin se recorda do momento em que o diretor disse “corta” e todos tiveram uma reação surpreendente.
– Caímos na risada, como sempre acontecia. Fazer papel do vilão é se divertir muito. Sempre penso: “Que maldade vou fazer hoje?”. E o público morre de raiva da gente.
O ator que o diga, já que, à época, teve sua casa em Santo André, São Paulo, apedrejada. Em outra ocasião, estava em uma loja de souvenir no aeroporto de Campo Grande ( Mato Grosso do Sul) quando suas senhoras partiram para cinema dele tentando lhe dar umas bofetadas. Se não fosse Ângela Leal atriz sair em sua defesa, tinha apanhado.
O ator Antônio Petrin — Foto: Gustavo Pellizzon
Muitas outras histórias saborosas aconteceram nos bastidores da novela. Petrin lembra que o calor e os mosquitos eram motivo de sofrimento para o elenco, cujo programa preferido era mergulhar nas lagoas próximas às fazendas. A fauna era motivo de expectativa constante.
– A gente morria de medo de jacaré e onça. Teve até o caso de uma pessoa de lá que foi atacada por abelhas e, ao se jogar no rio para se salvar, acabou sendo abocanhado por um jacaré. Foi terrível. Havia esse tipo de problema, mas a gente era muito bem monitorado pelas pessoas de lá.
Petrin que não está acompanhando “Pantanal” por falta de tempo. O ator, nome bastante conceituado no teatro, está em cartaz com a peça “A pane” (Friedrich Dürrenmatt), no Teatro Faap, em São Paulo, e vai estrear outras duas montagens em julho, no Sesc: “As três irmãs” (Tchecov)) e “A semente da romã” (Luis Alberto de Abreu).
Ele, no entanto, elogia Murilo Benício, que interpreta Tenório atualmente.
– Murilo é excelente ator e um colega maravilhoso, deve estar fazendo muito bem o personagem, que é muito bem trabalhado por essa maldade que conduz a maneira como ele se relaciona com a família. É um papel interessante.
O ator faz ainda uma comparação entre os recursos de gravação daquele época e os de hoje.
– Quando gravamos a novela, não tínhamos iluminação. Era noite americana que chamávamos: acendíamos uma fogueirinha para impressionar e pronto – lembra ele, que credita do sucesso da novela ao ecossistema. – Aquele cenário nunca tinha sido explorado. O Pantanal era desconhecido e as pessoas se comoveram com aquela exuberância de aves, rios, jacarés. A história do Benedito (Ruy Barbosa, autor) batia direto com aquele panorama. O (Jaime) Monjardim (diretor) colocava os tuiuiú voando bastante tempo… E isso não era uma característica da encenação, a gente achava bonito mesmo.
O elenco não fazia ideia do sucesso que a novela conquistaria. E levou um susto quando voltou das gravações e deu de cara com uma multidão no aeroporto.
– Aquilo surpreendeu, porque não estávamos assistindo aos capítulos da novela nem acompanhando a repercussão na cidade. Eram outros tempos mesmo. A gente nunca sabe o que será sucesso e muito menos, fracasso. Esse é um dos mistérios da nossa profissão.