Cerveja é coisa de mulher: inspire-se com histórias de mulheres cervejeiras
Tão popular quanto o café, a cerveja é um patrimônio para os brasileiros. Desde as mais econômicas até as artesanais, a bebida tem diversas formas de produção, mas ainda é vista como algo masculino, principalmente nas peças publicitárias. Tanto, que ao pesquisar, o termo “cervejeira” remete ao local de armazenamento da cerveja e “cervejeiro” remete ao homem que produz a cerveja.
Mas, na história da bebida, cerveja é coisa de mulher. A produção de cerveja vem desde 2600 antes de Cristo, feita por sumérios. A bebida era produzida por mulheres e o povo sumério cultuava Ninkasi, a deusa da cerveja.
Com o tempo a bebida acabou se tornando mais consumida pelo público masculino. Segundo o IBGE, a média de consumo dos homens em 2020 foi de 54,5 gramas por dia, contra 16,4 g consumidas pelas mulheres. Apesar disso, algumas mulheres estão reabrindo as portas para a produção feminina de cerveja.
O iG Delas conversou com mestres-cervejeiras dentro do mercado nacional de cervejas para saber como é ser uma mulher cervejeira hoje no Brasil e quais as expectativas das produtoras para o futuro.
Laura Aguiar, de 27 anos, é técnica cervejeira e mestre na produção da bebida. Gaúcha, ela trabalha há 14 anos na Ambev, maior produtora de cerveja do país.
Aguiar diz que o principal desafio de ser uma mestre cervejeira é o reconhecimento, mesmo trabalhando em uma equipe com 50% de mulheres. “Acredito que ainda há, sim, preconceito no mercado cervejeiro em relação ao trabalho desempenhado pelas mulheres. Sinto muito orgulho de estar onde estou hoje, mas gostaria que as mesmas chances que recebi ao longo da minha carreira também fossem uma realidade para todas as mulheres que amam cerveja”, diz.
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Para ela, o mercado cervejeiro reflete o machismo na sociedade. “Por ser predominantemente masculino, o grande desafio é contribuir para que as mulheres se sintam empoderadas a entrar e crescer no mercado. Vivendo em uma sociedade machista é comum que mulheres não se vejam ocupando algumas posições, precisamos apoiar e fortalecer essas mulheres para que elas vejam esse mercado como uma possibilidade”, diz.
Sybilla Geraldi, de 35 anos, é mestre-cervejeira e atuou por quase sete anos na Cervejaria Bohemia. “Não entrei como cervejeira, entrei como microbiologista e me apaixonei pela produção da cerveja. Comecei a me envolver na área e estudar sobre o tema. Sou completamente apaixonada pelo mundo cervejeiro”, afirma.
Como em outros ambientes, Sybilla diz que ainda há uma cultura machista no ramo. “Alguns hábitos, que não têm mais espaço na sociedade atual também não podem ser aceitos no ambiente profissional, mas acontecem. Como a interrupção de fala da mulher, piadas sobre o corpo ou aparência e apropriação de ideias”, conta.
A especialista continua: “A mulher precisa reforçar, constantemente, suas habilidades profissionais e provar que consegue dar conta de todas as jornadas de trabalho. Isso é ainda mais evidente após a maternidade, momento em que a capacidade profissional é sempre questionada”, afirma.
Para Geraldi, um dos passos para a mudança é recuperar a história das mulheres na criação da bebida. “A história das mulheres com a cerveja é antiga. Durante muitos séculos elas foram as únicas responsáveis pela produção de cerveja e iniciaram, inclusive, a comercialização da bebida. É uma paixão antiga!”, diz.
Gerente de processos e mestre-cervejeira na Cervejaria Agudos, Juliana Jacomin, de 46 anos, conta que no começo da carreira ela era uma das poucas mulheres na área. “Mas a sorte é que tive uma gestora que sempre me apoiou e mostrou que ser mulher não seria um obstáculo, desde que me dedicasse e acreditasse no meu potencial”, diz.
Além de gostar do trabalho e do campo, Juliana diz que um dos desafios é buscar espaço na área. “Infelizmente, o mercado cervejeiro de modo geral não evoluiu tão rápido, mas estamos buscando nosso espaço. Costumo incentivar cada vez mais as mulheres do meu time a encontrarem o seu espaço e busco ser exemplo de empoderamento e voz feminina ativa para minhas filhas e outras mulheres à minha volta”.