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Como é a vida de uma enxadrista?

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Como é a vida de uma enxadrista?


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No último mês, o mundo se apaixonou por uma jovem jogadora de xadrez: Elizabeth Harmon, a protagonista da  série O Gambito da Rainha . Interpretada pela atriz Anya Taylor-Joy, Hamon é uma órfã que tem sua vida transformada pelo jogo de tabuleiro. A série se tornou a produção da  Netflix mais assistida no mundo todo, liderando o ranking das mais assistidas na plataforma em 63 países.Desde que a série foi ao ar, em outubro deste ano, as buscas pelo xadrez no Google cresceram 1.650%.


Assim como a protagonista, a enxadrista e professora de xadrez Juliana Ventura Pereira Seco, 34, começou a pegar gosto pelo jogo ainda criança. Ela conta que na época era muito comum que  crianças disputassem. Isso porque o xadrez era muito associado ao tempo: quanto mais velha uma pessoa fosse, supunha-se que mais conhecimentos no jogo ela teria.

juliana ao lado do pai com um troféu
Acervo pessoal

Juliana Ventura Pereira Seco aos 21 anos ao lado de seu pai e mentor, Vitor de Pádua Pereira, que lhe entregou o troféu de campeã de Jogos Abertos do Paraná

“Eu jogava bem, considerando minha idade e a falta de experiência. Era agressiva no ataque e gostava muito de inventar. Meu talento para o jogo era natural e eu era considerada como uma forte oponente”, conta a enxadrista que durante a infância e adolescência conquistou, com seu grupo de xadrez na época, seis títulos em jogos abertos em todo estado. Seus oponentes tinham quase o dobro de sua idade. Aos 13 Juliana se tornou professora e aos 21, campeã estadual.

Infelizmente a carreira da enxadrista nos torneios não foi adiante e ela se aposentou um ano após essa conquista. O motivo: a falta de projetos de incentivo e de reconhecimento do esporte. Ela nunca conseguiu disputar um torneio nacional e, fora do Paraná, competiu brevemente em São Paulo. “Eu tinha o dom e o talento, mas não tinha os recursos para viajar para outros lugares”, conta.

Questão de gênero

As irmãs húngaras Susan, Sofia e Judit Polgar quando crianças jogando xadrez
Reprodução

As irmãs húngaras Susan, Sofia e Judit Polgar, que fizeram história no xadrez

Juliana afirma que é importante que produções como O Gambito da Rainha existam para valorizar seu esporte. Ela acrescenta que a falta de oportunidades e de continuidade na carreira como enxadrista também é uma questão de gênero. Devido aos padrões sociais que moldam as mulheres , é muito mais fácil que elas deixem de se dedicar ao esporte para se voltar a outros propósitos, como a maternidade , o casamento e o ambiente domiciliar, diferente dos homens, que têm mais oportunidades e conseguem apostar mais em suas ambições como jogadores.

“É mais natural que os homens se esforcem e se tornem cada vez mais avançados. A maioria dos torneios são divididos entre feminino e masculino e, evidentemente, os homens são os que mais se destacam”, afirma. Um exemplo disso é que em 134 anos de existência do Campeonato Mundial de Xadrez, apenas três mulheres disputaram e venceram.

É o caso das irmãs Susan, Sofia e Judit Polgar, da Hungria, que conquistaram feitos históricos dentro do esporte. A caçula, por exemplo, foi a pessoa mais jovem na história se tornar uma Grande Mestre (título vitalício dado pela Federação do esporte para grandes jogadores) e detém o título de melhor enxadrista mulher de todos os tempos.

Ginástica para o cérebro

As habilidades no xadrez apresentadas pela protagonista de O Gambito da Rainha impressionaram o público. Juliana revela que várias das proezas mostradas na série são muito comuns para o enxadrista avançado e profissional, o que inclui a possibilidade de prever jogadas antes que elas aconteçam ou jogar com alguém sem visualizar um tabuleiro.

Como exemplo, ela se recorda dos seus tempos de atleta, em que compartilhava ônibus com outras duas a três dezenas de jovens que jogavam nos corredores só de falar as posições das peças — tinha até quem conseguia jogar mentalmente mais de uma partida ao mesmo tempo. “A série retrata fielmente como é o mundo do enxadrista. A gente consegue olhar o jogo dentro da nossa própria cabeça”, afirma.

Essa visualização dos movimentos, aliás, é um dos pontos cruciais para se jogar com excelência. “Todos os movimentos estão limitados, mas o jogador profissional terá uma visão que vai além daquela jogada em curso. O segredo está justamente nisso”, explica.

É tudo verdade!

Além do comportamento e da jogabilidade, ela garante que a série fez um trabalho sério ao desenhar os jogos. “Quem passou todas as jogadas para os atores foi Garry Kasparov, um gigante no mundo do xadrez.”


Aos seus alunos, Juliana diz que o xadrez nada mais é do que uma  ginástica para o cérebro e que a prática pode ajudar o jogador a desenvolver habilidades para outras situações. Algumas das capacidades que se aguçam, de acordo com ela, são a leitura, interpretação, solução de problemas e criação de estratégias; além de trazer uma nova compreensão sobre as dificuldades da vida.

“Como em outras áreas na vida, às vezes a gente tá ganhando e de repente fica em desvantagem. Aprendemos a sair dessas com calma, sempre se superando e dando o nosso melhor. É mais do que aprender um tabuleiro”, diz.


Fonte: IG Mulher

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