Dia Internacional da Higiene Menstrual: entenda a importância do acesso a itens de higiene íntima
Falar sobre menstruação ainda é considerado tabu . Mas, o Dia Internacional da Higiene Menstrual, comemorado hoje, 28 de maio, é um sinal de que essa realidade está mudando. Ultimamente, a temática está sendo cada vez mais discutida, visando naturalizar o ciclo menstrual e a importância do acesso a produtos de higiene íntima.
Segundo Mariana Betioli, obstetriz e fundadora da marca de coletores menstruais Inciclo, a menstruação deve ser discutida por todos os setores da sociedade. “A data é muito pertinente para fazer com que se pense em ações para alcançar um ambiente mais justo no que diz respeito às questões de gênero”, aponta.
Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito das mulheres à higiene menstrual como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Porém, na prática, isso não é feito. A chamada pobreza menstrual, que denuncia a falta de acesso a produtos como absorventes e coletores menstruais , continua sendo rotina na vida de milhões de mulheres não só no Brasil, mas no mundo inteiro.
As mulheres, em média, gastam quase 9 mil reais em absorventes descartáveis ao longo da vida, o que resulta em, aproximadamente, 210 reais por ano. Diante desses números, podemos considerar como privilégio quem quem possue acesso a produtos de higiene íntima. “É triste perceber que existem mulheres que precisam escolher entre comprar comida ou absorventes. Estamos longe de uma condição de vida digna”, comenta Betioli.
Além da falta de dinheiro
A profissional ressalta uma realidade global de desigualdade social, que se traduz na dificuldade para se ter acesso à água ou até mesmo a saneamento básico. Segundo pesquisa do Trata Brasil, mais de um bilhão de pessoas no mundo não possuem acesso a um banheiro. No Brasil, apenas 51,92% da população brasileira tem acesso a saneamento.
Na pandemia, com muitas pessoas perdendo seus empregos e ficando sem renda, a falta de produtos de higiene íntima passou ser ainda mais frequente, por isso, menstruar acaba se tornando um grande fardo para milhares de mulheres.
Assim, se, durante o período menstrual, mulheres de classe média e alta se privam de algumas atividades, como à praia, fazer ginástica ou ter relações sexuais, Betioli observa que aquelas sem muitos recursos são ainda mais afetadas. “Moradoras de rua, mulheres que vivem em abrigos e ainda aquelas inseridas no sistema prisional são as mais vulneráveis a esse problema”, afirma.
Jovens em idade escolar também são intensamente afetadas pela falta de dignidade menstrual. “A insegurança de ficar com a roupa manchada e o medo de serem estigmatizadas por isso afasta as meninas da escola, podendo fazê-las perder até 25% das aulas em um ano letivo”, pontua a obstetriz. “A própria ONU estima que uma em cada dez meninas perdem aula quando estão menstruadas. Isso prejudica o rendimento, o que, por sua vez, aumenta a chance de evasão, isto é, parar de ir à escola”, acrescenta.
Você viu?
Por não terem acesso ao básico, muitas mulheres recorrem a métodos improvisados e nada seguros para reter o fluxo, como pedaços de pano, papel higiênico, papelão, jornal e até mesmo miolo de pão são usados na vagina durante o período menstrual. “Por não serem materiais apropriados para o uso íntimo, podem trazem desde simples infecções até casos mais graves de infertilidade”, finaliza a especialista.
Mudando a realidade
Junto à Inciclo, Mariana já distribuiu milhares de coletores menstruais ao redor do Brasil, educando as mulheres beneficiadas no que diz respeito à sexualidade, anatomia, saúde feminina e menstruação.
“Participamos de projetos com refugiadas, em casas de acolhimento às vítimas de violência doméstica, já entramos em comunidades ribeirinhas do Amazonas, no presídio de São José dos Campos. Também atuamos na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, em conjunto com a rede atacadista Makro”, ela lista.
Sendo assim, é fundamental garantir que a dignidade menstrual seja um direito a todas. Segundo a especialista, é preciso que os itens de higiene menstrual façam parte de cestas básicas e sejam distribuídos, por exemplo, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“No SUS, a camisinha é distribuída, mas produtos de higiene menstrual não. É como se menstruar fosse opcional”, aponta. “As políticas públicas são fundamentais para combater esse desafio. Absorventes, coletores, calcinhas menstruais não devem ser vistos como itens de luxo, e sim como necessidade básica.”
Mariana pontua que um de seus objetivos através da Inciclo é levar informação de qualidade sobre menstruação e o corpo feminino. Ajudando a quebrar esse tabu e naturalizar a menstruação para que as mulheres possam fazer as pazes com seu corpo e seu ciclo .
Consultoria: Mariana Betioli, obstetriz e fundadora da Inciclo.