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Ensino à distância: “Sinto que estou negligenciando a educação dela”

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Ensino à distância: “Sinto que estou negligenciando a educação dela”


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Beatriz Garbelini e a filha Sofia
Ariane Laubin

Beatriz Garbelini e a filha Sofia


“O fato é que eu não sou professora, minha esposa também não é professora e a gente tem os nossos trabalhos. Estamos em uma rotina exaustiva de home office e como a Sofia precisa de bastante suporte para desempenhar as atividades da forma como elas vêm – porque as atividades não vêm adaptadas para ela, a gente que faz esse trabalho de adaptação -, está muito difícil fazer isso acontecer”.

O depoimento é de Bianca Garbelini (32), bancária e mãe da Sofia (13), portadora da Síndrome de Williams. As crianças portadora desta síndrome costumam apresentar problemas de coordenação e equilíbrio. Isso faz com que precisem de suporte para realizar as atividades escolares. 

Moradora de Porto Alegre (RS), Bianca é uma das tantas mães de pessoas com deficiência (PCD) que relatam problemas com o sistema de ensino remoto, especialmente o oferecido pelos estados e municípios do Brasil. A a escola de Sofia foi fechada por causa da pandemia. Com isso, além da adaptação das atividades, a mãe teve que lidar com o processo de adaptação da filha com a nova escola: nova professora, equipe pedagógica e colegas.

Cultura do fracasso escolar

Viviane Juruna (38), consultora esotérica e mãe do Raul (9) que é autista, relata uma sensação de abandono por parte do Estado. “Ano passado ele teve duas semanas de aula e foi decretado o lockdown aqui em São Paulo. Daí em diante ele passou o ano inteiro sem nenhum vínculo escolar: não colocaram em grupo de Whatsapp, não recebeu senha do Google Class, a escola não se conectou com ele e nem comigo”.

Segundo Viviane, foram necessários mais de dez e-mails para a diretoria de ensino de São Paulo, diversas reuniões com a escola e com supervisor de ensino para que o filho tivesse um pequeno acompanhamento pedagógico. Entretanto, no começo deste ano foi como se tivesse voltado à estaca zero. “Eu abri novamente um protocolo de reclamação e foi oferecido para o Raul um acompanhamento presencial com um monitor porque ele não consegue fazer de forma remota”, conta Viviane enquanto sai para buscar o tablet prometido pelo governo do estado de São Paulo e só chegou agora. 

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Rede privada

Em contrapartida, mães da rede privada de ensino contam que o diálogo entre pais, aluno PCD e escola é melhor do que a rede pública. Luciana Pereira de Lima (47), cirurgiã dentista e mãe da Luisa (13) que é portadora da Síndrome de Down, partilha que apesar das aulas on-line não terem funcionado, ela e a filha recebem um bom suporte por parte do colégio. 

“As aulas on-line são mais para a classe geral. A gente até tentou, mas não deu porque ela não consegue. Como ela sentiu dificuldade, nós entramos em um acordo com a escola para continuar com as atividades avaliativas impressas”. Desta forma, Luciana busca as atividades na escola e o que a Luisa não consegue fazer por dificuldade, uma auxiliar ajuda via vídeo pelo Whatsapp.

“Não paramos, né? É lógico que não é a mesma coisa de sala de aula, não é o mesmo conteúdo até porque eu também trabalho e não dou conta. E a Luisa sozinha não consegue (fazer) algumas coisas, precisa da minha ajuda ou da auxiliar. Mas eu vejo que a pandemia e esse distanciamento foi muito mais negativo para eles”, comenta Luciana.

Whatsapp é o mais acessível

Segundo a APAE Brasil, o método mais acessível de acesso financeiro à tecnologia é pelo aplicativo de comunicação Whatsapp. O principal motivo é que muitos não têm uma boa internet para baixar ou fazer chamadas de vídeos por outras plataformas e até no computador, então o aplicativo acaba sendo o mais usado pelas famílias.

Fabiana Maria das Graças Soares de Oliveira, coordenadora de educação e ação pedagógica da APAE Brasil, conta que assim como as famílias, eles tiveram que aprender tudo, já que o ensino remoto não fazia parte nem da rotina e nem do vocabulário. “Nós pedimos os protocolos e documentos oficiais do Ministério da Educação e Cultura (MEC), de cada estado e dos municípios para que a gente também estivesse alinhado, pois nós somos uma instituição de ensino”, relembra.

Apesar do relacionamento com as famílias ter ficado mais intenso, Fabiana pontua que é importante existir a separação de que o familiar não é professor e nem o professor é pai e mãe. “Nós temos muitos depoimentos bonitos em meio a esta pandemia, sobre mães e pais descobrindo as capacidades de aprendizado dos seus filhos. Mas também temos relatos de tristeza, desconfiança, medo desse distanciamento impedir o crescimento do filho, falta de equipamento tecnológico para permitir que o filho acompanhe. Nós vivemos os desafios juntos com as família”, conclui.

Fonte: IG Mulher

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