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Laqueadura sem filhos: “Ouvi de médicos que era louca”

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Laqueadura sem filhos: “Ouvi de médicos que era louca”


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A advogada Patricia Marx conta como conseguiu realizar o procedimento
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A advogada Patricia Marx conta como conseguiu realizar o procedimento













“Eu nunca tive vontade de ser mãe. Todas as minhas amigas queriam, mas eu não. Eu gostava de brincar com barbies, as de profissões, não as de bebês. Hoje, eu vejo que precisei de muita maturidade para perceber, porém eu já dava indícios desde aquela época”, diz a advogada Patrícia Marx, 34. 

Patrícia não desejava ser mãe e decidiu fazer uma laqueadura, cirurgia que consiste em cortar as tubas uterinas para impedir a fecundação e, consequentemente, interromper as possibilidades de engravidar. Contudo, conseguir que a cirurgia fosse realizada não foi fácil. 

A legislação brasileira dizer que é possível se submeter a cirurgias de esterilização (laqueadura e vasectomia) quando se tem dois filhos ou mais ou sendo maior de 25 anos. O método é assegurado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como determina a Agência Nacional de Saúde (ANS), desde 2008.

Apesar isso, a advogada precisou passar por vários profissionais de saúde até encontrar uma que aceitasse a fazer a operação.  Isso porque se trata de um método contraceptivo praticamente irreversível.

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Segundo Patrícia, desde a adolescência ela tinha medo de engravidar, mesmo com todos à sua volta dizendo que, por ser mulher, isso era inevitável. “Conforme eu fui envelhecendo, o medo só aumentou. Eu até evitei namorar, evitei ter relações e fiz abstinência sexual, para não correr o risco de ter uma gestação indesejada”.

Mesmo sem nunca ter tido desejo de ser mãe, a advogada diz que achava que esse sentimento acabaria surgindo em algum momento. “Eu pensava que iria querer ter filhos em algum momento da minha vida, no entanto, sempre colocava algo na frente: estudos, carreira, lazer”.

Patrícia se casou pela primeira vez 19 anos e desde o início sofreu pressões da parte dele para ter filhos. “Meu ex-marido me ameaçava, dizia que iria terminar e isso foi me cansando. Eu me culpei muito, pensava que era amarga, doente, ruim, a pior pessoa do mundo. E eu não sabia que era uma mulher normal por ter outros sonhos”, diz.

O casamento acabou por conta dessa pressão. “Como eu era obesa, precisei fazer uma cirurgia bariátrica. Meu ex-marido foi contra, sabendo que eu poderia morrer caso não fizesse. Eu escolhi a minha saúde, e nós terminamos”.

Após a separação, o assunto gravidez sempre ressurgia. Foi apenas quando sua psicóloga na época a alertou dizendo que era normal uma mulher não querer filhos, que ela descobriu que poderia fazer uma laqueadura. “Antes disso, eu só aceitava o que diziam para mim, que eu seria abandonada e ficaria sozinha. Foi aí que comecei a procurar maneiras de realizar o sonho de não ser mãe”. 

De acordo com ela, as dificuldades foram grandes. Após visitar uma série de ginecologistas e ouvir diversas recusas, ela começou a perceber que não seria simples. “Escutei de tudo. Que a lei não permitia, que eu era louca, que iria encontrar um homem rico e mudar de ideia. Também ouvi de uma médica que se eu prosseguisse com a cirurgia, perderia minha função na Terra”.

Por conta da cirurgia bariátrica, ela não poderia usar o anticoncepcional, já que a absorção do seu estômago é baixa. O DIU também seria uma opção, mas Patrícia acabou contraindo fibromialgia por conta de seu uso. 

“Como eu estava sofrendo muito com o uso do DIU, e não podia tomar anticoncepcional, a minha ginecologista me disse que o melhor seria realizar a laqueadura. Fiquei até assustada, por conta do meu histórico de recusas”. Quando estava quase desistindo, sua médica do plano de saúde concordou com o procedimento. Na época, a advogada estava com 32 anos. 



Apesar de muitas mulheres que desejam fazer a laqueadura terem dificuldades para fazer a cirurgia, é possível recorrer à justiça para garantir a realização do procedimento. Para isso, é necessário solicitar ao médico que escreva um documento explicando seus motivos para recusar e enviá-lo para a Secretária de Saúde da cidade. Também é possível fazer uma denúncia no Conselho de Medicina (CRM) de cada região. 

Dois anos depois de sua cirurgia, Patrícia tem zero arrependimentos. Hoje a advogada compartilha suas experiências nas suas  redes sociais e oferece informações sobre como realizar a esterilização, para que mais mulheres reconheçam seus direitos. “Nenhuma mulher é o que dizem por não querer filhos. Não somos ruins, doentes e muito menos egoístas”. 

Fonte: IG Mulher

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