Luto: o que é certo e errado na hora de consolar alguém que perdeu um familiar
Datas especiais como o Dia dos Pais ou Mães homenageiam quem nos criou e cuidou. Mas com a pandemia de Covid-19, muitos perderam parentes para a doença. Segundo estudo da Lancet de 20 de julho, pelo menos 1,5 milhão de pessoas ficaram órfãs de pai ou mãe no mundo.
Lidar com o luto já é algo complicado normalmente. Mas com tantas mortes por perto, entender e trazer empatia a amigos e familiares pode se tornar algo complicado e até piorar a situação. Segundo o psiquiatra Victor Brandão, é necessário vivenciar a perda. “Apesar de tentar esconder, o luto não descansa enquanto não for sentido. Não há forma de passar por ele se não for vivendo-o”, disse.
Se quer saber como ajudar uma pessoa que perdeu alguém próximo, Victor indica que a empatia é o melhor caminho. “Lembrar que a pessoa não está sozinha e receberá suporte afetivo é o melhor. Legitime o período que a pessoa está vivendo. Não a cobre de estar bem, isso não cabe agora. O primeiro passo é viver a dor da perda e um dia por vez”, comenta.
Pode ocorrer da pessoa não querer falar sobre o luto. Victor diz que é preciso ajudar de outras formas. “Ofereça-se cozinhar o jantar, comprar mantimentos, cuidar das crianças por uma tarde, ou ajudar em casa. Esses gestos podem significar muito mais do que palavras para alguém que sente que seu mundo foi virado de cabeça para baixo”, disse.
Você viu?
“Diga, ‘eu estou aqui por você’. Reafirme que eles tem direito aos seus sentimentos, e que você está ali para ouvi-los de forma acolhedora. E o principal, respeite os limites de uma pessoa em luto. Ouça-os em silêncio. Basta estar presente com eles e permitir que eles chorem à sua maneira, em seu próprio tempo”, afirma.
O que nunca se deve falar para uma pessoa em luto
Evite as seguintes frases muito comuns, como: ‘talvez tenha sido melhor’, ‘siga em frente’, ‘você é muito mais forte do que eu seria’, ‘eles estão em um lugar muito melhor’, ‘eu sei como você se sente’, ‘fique bem’, ‘ela/ele não gostaria que você ficasse chorando’, ‘cumpriu sua missão'”, disse.
“Todas essas frases invalidam o luto do indivíduo que passa por ele. Não significa que o luto precisa de validação externa, mas o suporte emocional é essencial para tornar o processo menos traumático. O luto é singular. A forma que um sente a perda, não é a mesmo que o outro sente. A dor da perda e desamparo exige espaço interno para ser contextualizada”, disse.
Mas como ajudar alguém enlutado?
Victor indica que ter empatia é o melhor caminho, além de agir auxiliando o enlutado. “Perguntar ‘como posso te ajudar?’, ou expressões ‘não imagino o tamanho da sua dor, mas estou aqui com você’ te aproximam de quem passa pelo luto sem ferir ou ser invasivo”, afirma.
Terapia do luto pode ajudar
Segundo Victor, a terapia do luto pode ser algo benéfico ao enlutado. “Ela baseia-se na teoria do apego, que sustenta que os seres humanos são biologicamente programados para buscar, formar e manter relações próximas”, afirma.
“A terapia do luto consegue abordar de forma efetiva, pois inclui elementos extraídos tanto da terapia interpessoal (IPT) quanto da terapia cognitivo comportamental (TCC). Em geral, as técnicas de TCC visam os processos relacionados à perda e focam em sintomas de memórias intrusivas dolorosas e comportamentos. Os elementos do IPT se concentram na restauração, ajudando os pacientes a restabelecer relacionamento e conexão com novas metas de vida”, diz.