“Mulher tem que ganhar bem”, diz advogada de vítimas de João de Deus
Luiza Nagib Eluf não vê outra solução para o assédio e violências que as mulheres sofrem. Para a advogada, “no dia que a mulher tiver dinheiro, vai transar com o homem que ela quiser”. Ela defende as vítimas do médium João de Deus e do cardiologista Nabil Gorayeb, que cometeram crimes sexuais.
A ex-promotora afirmou à Folha de S.Paulo que depender financeiramente do homem é o pior que pode acontecer com a outra metade da população. “É preciso tomar cuidado para não acreditar no ‘eu a sustento, querida’. Mulher tem que ganhar bem, tem que ganhar muito. Não pode se satisfazer com o dinheiro que paga a manicure”, disse.
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Para ela, o aumento de denúncias mostra que as mulheres estão se intimidando menos. “Antigamente, a mulher ficava com medo. Se denunciava, sobrava para ela no fim da história. Ela sofre o assédio, o estupro, o espancamento e aí, quando vai reportar, a autoridade culpa a vítima pelo o que ela sofreu. O patriarcado é assim. Tudo errado é a mulher que faz. São seres, vamos dizer, inferiores. Em São Paulo, começamos mais nitidamente a lutar contra a conduta no caso Roger Abdelmassih”, disse.
Luiza conta que a relação de mulheres com abusadores, como João de Deus, é uma dominação extrassensorial. “Coloca a mulher em posição mais difícil. Além do sujeito ser mais forte fisicamente, ele ainda é João de Deus, ou seja, se considera Deus. Muitas das pessoas que foram a Abadiânia achavam que ele era um Deus, que curava, que tinha poderes”, disse.
Ela contou que por volta de 15 mulheres foram ao escritório dela e contavam “cenas de horror”. “Choraram demais, ele abusava de moças que estavam querendo salvar a mãe, o pai. Em geral, moças que ele estuprou não estavam lá para socorro de si. Ele se aproveitava disso. Em alguns casos repetiu o estupro uma, duas, três vezes”, conta.
Para ela, o que mais a chocou foi um caso já prescrito. “Ele [João de Deus] havia estuprado, atirado, esfaqueado e jogado a menina no rio e ela não morreu. Estupro tem que ser crime imprescritível. Isso é manobra do patriarcado. Eles querem que depois de um certo tempo não seja mais punível”, disse.