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Mulheres que fizeram história na Semana de Arte Moderna de 1922

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Mulheres que fizeram história na Semana de Arte Moderna de 1922


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Anita Malfatti, Guiomar Novaes e Zina Aita
Reprodução

Anita Malfatti, Guiomar Novaes e Zina Aita

A Semana de Arte Moderna completa 100 anos em 2022 . A exposição aconteceu do dia 13 a 17 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo. O evento majoritariamente dominado por artistas masculinos teve a participação de três mulheres: Anita Malfatti, Zina Aita e Guiomar Novaes. Apesar de minoria, a participação delas neste evento histórico é de suma importância, já que se trata do marco inaugural do Modernismo e de um movimento de abertura para o sexo feminino no cenário artístico nacional.

Até o final dos séculos 19 e 20, as mulheres eram proibidas de acessar aulas de nu artístico, que é uma parte fundamental da formação artística. Para isso, elas recorriam a centros não acadêmicos, como ateliês.

Além disso, conforme explica Isabela Fuchs, doutoranda em História e pesquisadora de Arte Brasileira, a Semana de 22 consolidou e ampliou questões. Artistas que já tinham tido contato com as vanguardas europeias, viajado e estudado fora tinham uma necessidade de renovação cultural radical. Deste modo, “, buscou-se celebrar os cem anos da independência do Brasil com a simbologia de uma nova independência, a da cultura”, conta. 

Fuchs explica que na época havia obstáculos institucionais e estereótipos de gênero, que faziam com que a produção artística de mulheres fosse vista como “feminina demais” e acabasse sendo colocada num limbo”. “Por mais que mais mulheres já tivessem participado de outras exposições, como no Salão Nacional de Belas Artes, onde 40% das participantes eram do sexo feminino, essa participação das artistas na exposição que marcaria a história da arte brasileira foi um grande avanço”, diz.

Talita Triozoli, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Pintura e Educação da UFU, conta que ainda que a Semana seja importante historicamente, na narrativa e história da arte brasileira ela é um evento pontual, construído como uma grande alegoria da modernização da arte brasileira.

Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Elsie Houston, Benjamin Péret e Eugênia Álvaro Moreyra em exposição de Tarsila, em 1929
Reprodução

Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Elsie Houston, Benjamin Péret e Eugênia Álvaro Moreyra em exposição de Tarsila, em 1929

Triozoli ressalta na época, era permitido às mulheres fazer o estudo da arte como uma “carta de tolerância”. As mulheres tinham muitas aulas de aquarela, de pintura, mas entravam no ateliê para serem mulheres prendadas, para transitar na alta sociedade. Se profissionalizar, contudo, era um assunto mais delicado.

Para Fabiana Faleiros, artista, crítica cultural e doutora em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ, a presença de Anita Malfatti, Zina Aita e Guiomar Novais não foi apenas uma questão de representatividade de gênero, mas tem importância pela qualidade artística das participantes e pelas questões por elas colocadas. 

“Foi a partir da crítica ferraz de Monteiro Lobato à primeira exposição de Anita Malfatti, feita em 1917, que o grupo modernista se forma em São Paulo. Di Cavalcanti e Oswald de Andrade publicaram textos em jornais que defendiam a obra da artista, e em seguida organizaram o grupo modernista junto a outros artistas, criando a Semana de Arte Moderna”, diz.

Ela também conta que em 1928, a partir do quadro Abaporu, de Tarsila de Amaral, Oswald de Andrade escreve o Manifesto Antropofágico, texto seminal para o movimento, publicado na Revista de Antropofagia. Tarsila não esteve presente na Semana de 22 por estar viajando, mas foi um dos grandes nomes — se não o maior —  do Modernismo brasileiro. 

“Porém, a narrativa construída em torno da trajetória artística das principais referências do Modernismo dos anos 20 é atrelada ao discurso de subalternidade. Como diz Simioni, Anita é retratada como uma vítima, uma mulher que não poderia se defender sozinha dos ataques de Monteiro Lobato, e Tarsila como musa e esposa de Oswald de Andrade. Uma narrativa de polaridades que reintegra clichês e esteriótipos em torno da construção do feminino”, ressalta Faleiros. 

Reconstruir narrativas 

Fuchs afirma que destacar a participação das mulheres na Semana de Arte como um exercício, uma reconstrução de uma narrativa histórica que insere as mulheres enquanto produtoras, agentes e propositoras. “É inevitável falar de mulheres e da Semana de 22, no modernismo. A questão é como vamos posicioná-las. A gente pode escrever, pensar nelas como esposas de um sujeito pensante e ativo, que no caso era o Oswaldo de Andrade, só que na realidade não. Elas eram artistas autônomas, independentes de casamento, desse lugar que era destinado às mulheres, a domesticidade, o casamento, os filhos”, diz.  

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Seguir contando a história da Semana de 22 e, principalmente, ressaltar a importância dessas participações femininas tem um peso grande ainda hoje. Faleiros explica que além de identificar que as mulheres modernistas eram burguesas e, portanto, privilegiadas, com acesso ao estudo dos movimentos da vanguarda da Europa, é importante reescrever outras histórias, revisar o cânone moderno. 

“A partir dos anos 1960, inicia-se uma narrativa curatorial e pesquisa acadêmica sobre as mulheres do modernismos brasileiro, sem a carga de estigmas femininos. As críticas de arte Aracy Amaral e Marta Rossetti Batista foram fundamentais nesse processo, escrevendo monografias sobre Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, documentando suas obras, organizaram parte de seus arquivos e realizando curadorias de várias exposições dedicadas a elas. Seus estudos deixaram muitas indicações e se mostram ainda hoje caminhos abertos para novas investigações”, diz Faleiros. 

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Anita Malfatti, pintora

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Nascida em 2 de dezembro de 1889, Anita Mafaltti era filha de imigrantes italianos e alemães e tinha uma deficiência motora no braço direito. Teve suas primeiras aulas de pintura com a mãe e com 19 anos se formou professora. Em 1910, foi estudar na Alemanha, onde se tornou presença frequente no ateliê do artista Fritz Burger. Malfatti foi aluna da Academia Real de Belas Artes de Belim, estudando pintura expressionista. Voltou ao Brasil em 1914 e apresentou seus estudos de pintura na Casa Mappim. 

Em 1917, fez uma exposição e ganhou repercussão na imprensa. Monteiro Lobato, crítico do jornal O Estado de São Paulo, escreveu o artigo “Paranoia ou Mistificação?” sobre Malfatti. Essa crítica seria o empurrão para o Movimento Modernista Brasileiro. Fez amizade com Tarsila do Amaral, artista que também foi pilar do modernismo brasileiro. Malfatti foi um grande marco na arte moderna brasileira, com suas obras mais famosas sendo “A Estudante Russa” (1915), “O Farol” (1915), “A Mulher de Cabelos Verdes” (1917) e “O Homem Amarelo” (1917). Foi nomeada presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo em 1948. A artista morreu no dia 6 de novembro de 1964, aos 74 anos.

Guiomar Novaes, pianista e compositora

Guiomar Novaes, nasceu em 28 de fevereiro de 1894, na cidade de  São João da Boa Vista, em São Paulo. Seu talento para música se mostrou desde muito cedo, aos quatro anos de idade já tocava piano e aos 15 entrou no importante Conservatório de Paris, ficando em primeiro lugar entre 388 candidatos. Em sua participação na Semana de arte Moderna de 1922 apresentou as obras “Au jardin du vieux serail`, da Suíte andrinople, de E. R. Blanchet; O ginete do pierrozinho, da coletânea Carnaval das crianças, de Villa-Lobos; La Soirée dans grenade, das Estampes, de Debussy; e Minstrels, do Livro I dos Prelúdios, de Debussy. 

Sua trajetória incluiu grande sucesso dentro e  fora do Brasil, recebendo diversas homenagens e honrarias, algumas delas sendo condecorada pelo governo francês com a Legião de Honra em 1939 e  o título de cidadã honorária do Rio de Janeiro em 1964. Faleceu no dia 7 de março de 1979, em São Paulo. Enterrada no Cemitério da Consolação, ao som da Marcha Fúnebre da Sinfonia No.3 ‘Eroica’, de Beethoven,  tocada  pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo,  regida por Eleazar de Carvalho.  

Zina Aita, pintora, ceramista e desenhista

Tereza Aita, também conhecida por seu nome artístico Zina Aita, nasceu em 1900, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. De descendência italiana, viaja ao país em 1914, especificamente para a cidade de Florença, para estudar com o artista Galileo Chini na Academia de Belas Artes de Florença, morando no continente europeu até o ano de 1918. Ao retornar ao Brasil faz amizade com Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira e Anita Malfatti. Tendo suas pinturas fortemente influenciadas pelo modernismo e o movimento italiano art nouveau, se tornado uma das pioneiras da arte moderna em Minas Gerais. 

Em 1922 participa da Semana de Arte Moderna, enquanto faz publicações de ilustrações na revista modernista paulista Klaxon. Em março do mesmo ano, ela também realiza uma mostra individual na livraria O Livro, em São Paulo, que se repete no ano seguinte no 1º Salão da Primavera, no Rio de Janeiro. Se mudando definitivamente no ano de 1924 para a Itália, na cidade de Nápoles, onde dirige uma fábrica de cerâmica ganhando fama como ceramista. Zina Aita  morreu em 1967, suas obras mais famosas incluem as pinturas a óleo o “Jardineiro” de 1945 e  “Homens Trabalhando” de 1922.

Fonte: IG Mulher

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