Nutróloga vê com preocupação divulgação sobre jejum feita por Mayra Cardi
Após divulgar que fez jejum de sete dias e iniciou fase nova de crudivorismo, a influenciadora digital e coach de emagrecimento Mayra Cardi se tornou assunto nas redes sociais e abriu debate sobre pressão estética entre os internautas, que usaram o Twitter para criticar Cardi. A divulgação de seus hábitos alimentares tem sido vista por diversas pessoas como marketing para vender produtos de emagrecimento.
De acordo com a nutróloga Marcella Garcez, as orientações de dieta e mudanças de hábitos alimentares propostos por Mayra Cardi são vistos com ressalvas por profissionais nutrólogos e de nutrição.
A médica afirma que seguir aconselhamento feito por pessoas leigas pode acarretar em riscos para a saúde, desde físicos, pela falta de nutrientes ou alimentação incorreta, até emocionais, como a possibilidade de se desencadear transtornos alimentares , depressão e ansiedade.
“Todo conteúdo postado em redes sociais por pessoas absolutamente leigas, cercadas de um cenário de glamour e sucesso, fazem orientações dietéticas sempre com a promessa de sucesso. Isso faz com que seguidores eventualmente tenham contra indicações decorridos daqueles resultados prometidos, mas que podem ser impossíveis de se alcançar para determinados perfis”, explica a médica.
Cardi foi vista fazendo propaganda de um creme que tem o propósito de eliminar gordura localizada, afinar silhueta e combater celulite. A influenciadora se retratou e afirmou que não usava o creme para auxiliar no emagrecimento, mas apenas para as celulites.
O produto q ela fez publi se chama “100 medidas”,um creme pra celulite,indicado p pessoas q tem celulite depois de perder peso rapido. Ela mostrou o produto depois de mostrar a barriga “sequinha” e com “cintura” (palavras dela). “ #xogordurinhas ” pic.twitter.com/M0OftubTws
— Laura Sabino (@mylaura_m) April 29, 2021
mayra cardi é um perigo. ela vendeu essa ideia que ia fazer um jejum de 7 dias, sem comer nadinha, pra se conectar com o espírito dela, unir corpo e alma, e agora postando stories mostrando a barriguinha chapada, as medidas que ela perdeu. fica muito nítido qual foi a razão real.
— cacá (@_cacatuita) April 28, 2021
Você viu?
mayra cardi com 6 milhões de seguidores normalizando e romantizando um comportamento anoréxico enquanto se vangloria com a magreza eita influencer bosta
— mai (@mgdamasceno) April 28, 2021
“Eu não anuncio remédio para emagrecer, chá emagrecedor ou creme que emagrece porque nada disso emagrece. E também porque eu seria uma imbecil se eu anunciasse, porque eu tenho dois programas de emagrecimento”, afirmou Mayra Cardi nos stories.
Ela ainda cita que seus programas foram responsáveis por emagrecer Anitta , Lexa, Larissa Manoela e Ludmilla. “Como vou anunciar um produto que emagrece e reduz medidas que não seja o meu? Óbvio que não”, acrescenta.
Para que serve o jejum?
Para se retratar, Mayra Cardi gravou um vídeo para as redes sociais em que fala sobre os benefícios do jejum para a saúde, motivo pelo qual ela afirmou ter optado pelo hábito. A influenciadora divulgou uma série de artigos científicos que abordavam o jejum em casos muito específicos, como em pacientes com câncer.
Garcez afirma que essa é uma linha de pesquisa muito inicial. “Apesar de muitas evidências científicas sobre os benefícios do jejum, não há quantidade suficiente de estudos científicos para confirmar os benefícios de forma robusta. Portanto, ainda não há consenso sobre o tema”, diz.
O jejum é uma prática que existe desde os primórdios da medicina. Milenar e tradicional, pode ser usado como estratégia terapêutica. Ele também é indicado por diversas vertentes religiosas, motivo que chegou a ser apontado pela influenciadora para o seu jejum.
No entanto, a prática de jejum intermitente tem se tornado mais popular nos últimos tempos e, segundo a médica, visando a perda de peso e o auxílio no controle de doenças metabólicas.
“Alguns estudos têm associado esse tipo de padrão dietético a outros benefícios para a saúde, como a redução de cardiopatias e risco de neoplasias, longevidade, doenças do envelhecimento e declínio cognitivo” explica Garcez.
Algumas estratégias usam o jejum como opção para dietas estritas e com menos impactos socioambientais. No entanto, é contraindicado que seja realizado por crianças e adolescentes, gestantes, lactantes, idosos, diabéticos e pessoas com histórico de transtornos alimentares.
Garcez explica que é ideal que mudanças na alimentação ou em hábitos alimentares sejam feitas com acompanhamento médico. “Para restringir grupos alimentares, é preciso que haja um diagnóstico médico e uma série de exames laboratoriais em relação às condições metabólicas, nutrólogas e emocionais”, diz.