Para que serve cada ingrediente da composição de produtos skincare?
A rotina skincare é muito importante para garantir que o tecido cutâneo esteja saudável, bonito e protegido todos os dias. No entanto, muita gente se perde quando vai começar a fazer o tratamento por não saber qual é o produto ideal para seu tipo de pele, ainda mais com tantas composições diferentes disponíveis no mercado.
Ludmila Bonelli, cosmetóloga e CEO da marca Be Belle, diz que escolher corretamente a composição é requisito necessário para manter a saúde da pele. “Se elegermos um produto que contenha um ativo ou mais que não possuam biocompatibilidade com a pele podem ocorrer reações indesejadas ou mesmo nenhum resultado”, explica a especialista.
Para saber quais produtos você deve usar, é importante entender qual é o seu tipo de pele — o iG Delas já fez um guia capaz de te ajudar com isso . O farmacêutico e consultor em cosmetologia da Ada Tina Italy, Maurizio Pupo, afirma que usar os ingredientes incorretos no skincare pode resultar em desconfortos que vão desde o aparecimento de acne até manchas e linhas de expressão.
Para te ajudar, selecionamos alguns ingredientes bastante presentes nos cosméticos de skincare e pedimos para Bonelli e Pupo explicarem como cada um age na pele.
Ácido retinóico/Tretinoína
Pupo explica que o ácido retinóico é um medicamento e só é vendido sob prescrição médica. Ele é responsável por estimular a renovação do tecido cutâneo, além de melhorar a textura, suavizar a aparência dos poros e promover firmeza e luminosidade à pele.
É um ótimo componente para a prevenção do envelhecimento , já que ajuda na redução das rugas, linhas de expressão e manchas. Por conter o composto tretinoína, derivado da vitamina A, a produção de colágeno é estimulada, o que promove efeito anti-idade.
Além disso, o ácido tem o poder de renovar as células e eliminar células córneas, que obstruem os poros da superfície da pele. “Esta renovação celular favorece o aparecimento de uma pele mais jovem e lisa”, explica Pupo.
Por essas duas funções, o farmacêutico explica que o ácido retinóico é ideal para peles maduras, mas também pode ser utilizado por jovens que precisam de estímulos de colágeno ou antiacne. No entanto, é preciso usar uma concentração certa em peles jovens para garantir o efeito desejado.
O início do tratamento com ácido retinóico pode incomodar, já que ele causa ressecamento, o que leva à descamação, e causa vermelhidão. Por esse motivo, Pupo explica que é importante usar filtros solares com FPS e PPD e começar a aplicação apenas a cada três noites, adicionando hidratantes, regeneradores e antioxidantes na rotina.
Além disso, o agente é capaz de deixar a pele sensível ao sol. “Caso a pessoa goste de se expor ao sol, o tratamento com esse ácido é contraindicado. É interessante também suspender o uso durante o verão”, diz. Há contraindicações para grávidas e lactantes.
Ácido lático
O ácido lático é um esfoliante químico de origem animal que diminui a viscosidade entre as células da superfície. Ele promove renovação celular e remove as células córneas, deixando a pele mais lisinha e jovial. “Além disso, o ácido lático estimula a produção de ceramidas, que são essenciais para manter e restaurar a barreira cutânea, tornando-a cada vez mais forte e saudável”, diz Pupo.
O farmacêutico explica que o ácido lático é parte de um grupo de moléculas umectantes primordiais para a retenção de água e hidratação na pele, o Fator Natural de Hidratação (NMF, na sigla em inglês). Também faz parte do grupo dos alfa-hidroxiácidos (também conhecidos como AHAs), propícios para esfoliação e renovação. No entanto, alguns AHAs podem ter menor penetração do que outros, de acordo com o peso molecular de cada um.
“O ácido lático tem um peso molecular intermediário, o que significa que não penetra tão profundamente na camada da pele. Sua função é ajudar na limpeza dos poros e remover suavemente a oleosidade sem irritar. É tão suave que pode ser inclusive indicado para pele sensível”, afirma.
Pupo indica que o uso seja diário, preferencialmente no período da noite, e combinado com protetor solar. “O ativo não tem efeito cumulativo na pele e é contraindicado para gestantes e lactantes. Também deve ser evitado na pele glicada [peles impactadas pelo açúcar]”, diz.
Ácido hialurônico
Bonelli destaca que, apesar de ter o nome “ácido” em seu nome, o ácido hialurônico não é um ácido de verdade, mas sim um açúcar! “Sua molécula se assemelha a uma molécula de açúcar, pois é uma condensação entre glucurônico e a glucosamina. Assim, o ácido hialurônico é um açúcar ligado a um aminoácido, não possuindo acidez”, explica a cosmetóloga.
O ácido hialurônico confere preenchimento à pele. O corpo possui esse tipo de ácido naturalmente, mas que vai se perdendo ao longo da vida devido ao envelhecimento e à exposição solar. O composto pode ser encontrado em gel, loção ou sérum.
Existem diversos tipos de ácido hialurônico, que conferem de 5% a 90% de penetração na pele. “Quanto maior for o grau e a profundidade de penetração, maiores serão os benefícios, como preenchimento de rugas, reposição e aumento da produção natural de ácido hialurônico, aumento do colágeno, reestruturação e regeneração da pele”, descreve a cosmetóloga. Produtos com esse ingrediente podem ser utilizados por todos os tipos de pele, em qualquer período do dia.
Ácido glicólico
O ácido glicólico também faz parte do grupo AHA e é obtido da cana de açúcar. Sua composição esfolia, remove células córneas, estimula o colágeno, reduz rugas, clareia manchas e controla a oleosidade.
“O ácido glicólico provoca vasodilatação, diminui a espessura e a compactação do estrato córneo, acelera a renovação da epiderme e estimula a síntese de colágeno. Ele também diminui a adesão entre os corneócitos, melhorando a absorção de outras substâncias associadas”, explica Pupo.
O uso do ácido glicólico é seguro, mas pode causar vermelhidão, ardência, sensação de queimação e fotossensibilidade em algumas pessoas. Por esse motivo, precisa ser sempre indicado por um profissional. Nesses casos, pode ser usado diariamente de forma preventiva ou como tratamento.
Este composto pode ser utilizado tanto de dia como de noite, mas é importante fazer o uso correto do protetor solar. “É contraindicado para peles glicadas, lactantes e gestantes. Não deve ser associado a tecnologias de aparelhos como radiofrequência, ultrassom microfocado e lasers”, diz o farmacêutico.
Ácido salicílico
Extraído da casca do salgueiro, o ácido salicílico faz parte do grupo beta-hidroxiácido, que indica os ácidos derivados de frutas e cereais. Pode ser utilizado no tratamento da acne, cravos, poros abertos e controle de oleosidade. Por esse motivo, o uso é mais indicado em peles oleosas.
“O ácido salicílico possui uma propriedade única porque é capaz de penetrar nos poros para higienizar e esfoliar, além de possuir ação anti-oleosidade e anti-idade, porque estimula a produção de colágeno”, afirma Bonelli. Este composto também tem ação de clareamento de manchas e pode conferir viço à pele. Por ser suave, pode ser aplicado na pele em qualquer período do dia por séruns e géis.
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Ácido mandélico
A composição do ácido mandélico, derivado de amêndoas amargas, concentra ações hidratantes, clareadoras, fungicida e anti-bacteriana. É recomendado para o skincare de quem tem acne ou pequenas manchas, além de ser um grande aliado para pessoas com pele sensível, já que tem uma absorção mais lenta.
O AHA é capaz de penetrar de maneira uniforme na pele e pode ser usado com segurança em peles negras , das mais claras às mais retintas. “O ativo promove e equilibra o processo de renovação epitelial, tratando o fotoenvelhecimento, a acne e a hiperpigmentação”, diz Pupo.
O farmacêutico afirma que o ácido mandélico é seguro e pode ter uso diário, principalmente no período da noite, e em qualquer idade. É estritamente proibido o uso em gestantes e lactantes e é preciso ser aplicado com cautela em peles glicadas, bronzeadas, com herpes ativa, em pessoas portadoras de diabete não controlada e depois do uso de cera depilatória.
Retinol
O retinol tem como propósito a regeneração das células, esfoliação e síntese de colágeno, mas pode ser utilizado para controle de oleosidade e acne e redução de manchas. É precursor do ácido retinóico, mas tem uma fórmula mais suave.
“A substância possui ação queratolítica, agindo na camada córnea para eliminar as células mortas e promover melhora da textura. Isto porque ela suaviza os poros dilatados, atenua rugas e permite uma penetração mais eficaz de outros ativos”, explica Pupo.
O composto também tem ação preventiva contra envelhecimento e trata flacidez. No entanto, não deve ser usado em gestantes, lactantes, pessoas com peles glicadas ou que fiquem excessivamente expostas ao sol. Peles reativas e sensíveis também precisam ter cautela. O retinol pode ser aplicado todos os dias, de preferência no período noturno.
Vitamina C
Também conhecida como ácido L-ascórbico, a vitamina C tem propriedades anti-idade e antioxidante, além de estimular o colágeno e ser fotoprotetor. O composto também é clareador e inibe a ação da tirosinase (enzima que forma melanina).
Pupo afirma que, além de ser ácido, a vitamina C oxida rapidamente e perde os efeitos se entrar em contato com o ar. Assim, ela deve ser utilizada como sérum ou creme com bionanotecnologia, como microcápsulas. Dessa forma, a ação do ativo é protegida e permeia melhor na pele.
Os dermocosméticos com vitamina C são considerados como os mais importantes do dia a dia do skincare porque o colágeno depende da aplicação desse composto para ser estimulado. O uso diário previne fotoenvelhecimento e o aparecimento de rugas, além de prevenir a pele em qualquer idade. Pode ser utilizado tanto de dia como de noite por qualquer fototipo de pele.
A vitamina C é ideal para peles oleosas. Por ser um ácido, peles sensíveis ou reativas precisam ter cuidado e devem apostar nos produtos feitos com bionanotecnologia, como o ascorbosilane C. Pupo explica que não há grandes contraindicações, mas gestantes devem ser acompanhadas por um médico ao utilizarem a vitamina C.
Alfa arbutin
Este ativo é capaz de inibir a tirosinase sem reduzir a formação de melanina ou irritar o citotóxico. Assim, ele é considerado um clareador seguro e com altos índices de efetividade. “Além de ajudar a uniformizar o tom da pele, o ativo também ajuda a aumentar a degradação da melanina, o que faz com que manchas já existentes na pele sejam suavizadas”, conta Pupo.
Dessa forma, o alfa arbutin pode ser usado em quem sofre de melasma. Também é usado no tratamento de hipercromia por homogeneizar a tonalidade da pele, independente do fototipo. O farmacêutico indica que o uso seja feito à noite e diariamente.
O uso do alfa arbutin não é preventivo, mas como tratamento para peles manchadas. “O ativo não é indicado para mulheres grávidas ou lactantes e seu uso deve ser evitado em peles glicadas”, afirma.
Esqualeno
Disponível em origem vegetal e animal, o esqualeno é um ácido graxo e pertence à família dos hidratantes oleosos e lipofílicos. Bonelli explica que o corpo possui esse composto no sebo humano. “Conforme envelhecemos, produzimos cada vez menos sebo. Dessa forma, é preciso repor o esqualeno”, explica a cosmetóloga.
Bonelli afirma que esqualenos de origem vegetal têm sido alternativa para substituir os que são de silicone. Existem diversos tipos dele: mais nutritivos, mais pesados e mais leves, mas a composição tende a ser sempre oleosa, com o intuito de nutrir e repor a hidratação natural.
O esqualeno pode ser aplicado diariamente, tanto de dia como de noite. O uso do ingrediente é indicado para peles secas e ressecadas. Também é indicado para peles sensíveis, com rosácea ou danificadas. Deve ser evitado em peles mistas, oleosas e com tendência à acne porque, por funcionar como repositor de oleosidade, pode agravar esses fatores.
Resveratrol
O composto é considerado como um dos mais avançados nos cosméticos de skincare por ter múltiplas ações e ser capaz de agir diretamente na proteção do DNA. Bonelli diz que o resveratrol é um dos agentes anti-idade mais poderosos do mundo. Pode ser aplicado na pele, mas também pode ser ingerido.
A substância tem poder antioxidante muito potente, possuindo mais ativos para esse propósito que a vitamina C e a vitamina E e protegendo a pele de agentes externos como calor, frio, poluição e radiação solar. É capaz também de proteger as peles glicadas, que são envelhecidas por causa do açúcar.
O resveratrol também é anti-inflamatório e combate radicais livres, capazes de causar doenças degenerativas e morte celular. Além disso, Bonelli afirma que o agente é capaz de poupar as células da pele de danos e fazer com que pareçam mais jovens por mais tempo.
“O uso do resveratrol confere uma pele mais clara, com menos manchas, mais colágeno e, mais elastina, resultando em mais firmeza. Além disso, ele faz a reposição do ácido hialurônico, então a pele será mais preenchida”, explica a cosmetóloga.
Niacinamida
Também conhecida como vitamina B3, a niacinamida é cada vez mais usada no skincare por ser antioxidante, clareadora e antiglicante — o que beneficia quem tem diabetes ou quem consome muito doce. O composto também estimula a produção de colágeno e consegue combater os malefícios da luz azul, presente em celulares.
“A niacinamida também tem ação antiacne e de controle da oleosidade sem ressecar a pele, o que indica que também pode ser usada em peles secas”, explica Bonelli. A ação anti-inflamatória da niacinamida permite que o composto seja aplicado em peles com acne inflamada, agindo de forma mais potente que antibióticos.
A forma como a niacinamida age no corpo é similar à vitamina C, com a diferença que a vitamina C é melhor no estímulo de colágeno. No entanto, assim como o resveratrol, combate os efeitos da poluição. O agente pode ser usado em todos os tipos de pele e não possui contraindicações.