“Queria entender como as pessoas se reinventam”, diz Maria Flor sobre seu livro
Coração partido, ficar sem chão e não ter ar para respirar são apenas algumas de tantas sensações que surgem com um término de relacionamento . Junto de tudo isso, a impressão de que a vida acabou e que nada mais vai dar certo. É justamente nesse ponto tão melancólico e repleto de incertezas que se situa a narrativa de “Já não me sinto só”, primeiro livro da escritora, atriz e roteirista Maria Flor , lançado pela Editora Planeta.
“ Quando a gente encerra uma relação , a nossa vida é outra e precisamos virar uma outra pessoa, uma outra coisa que a gente não sabe muito bem o que é. Queria entender como é que as pessoas fazem para se reinventar na vida”, explica a atriz em entrevista ao iG Delas.
Para falar sobre a história central de seu livro, a atriz resgatou memórias de seu primeiro término. Ela afirma ter se lembrado de maneira vívida da sensação de deslocamento e de estar sozinha no mundo. “Foi muito forte essa sensação de transformação, de olhar para mim e dizer ‘agora tá comigo, sou só eu’”, afirma.
Essas explorações foram o que fez nascer Maria, a protagonista de “Já não me sinto só”. Além do nome, a personagem compartilha com a atriz a profissão. Maria rompe com o marido após seis anos de relacionamento , em um momento da vida em que tudo é estranho e nada faz sentido. Entre mudanças e saudades, ela é convidada para fazer um filme no Jalapão, em Tocantins , e descobre que o diretor é um homem pelo qual se atraiu no passado.
Apesar das semelhanças com a vida real, Maria Flor explica já na primeira página que todos os acontecimentos são fictícios. Usar o próprio nome na história foi um artifício da autora para bagunçar a cabeça do leitor e fazê-lo questionar sobre o que pode ser verdade ou não. “Achei que poderia ser curioso e também que poderia acontecer uma identificação maior para quem já conhece meu trabalho”, afirma.
Você viu?
A escolha do Jalapão como cenário principal dessa história também não foi coincidência. Maria Flor desenvolveu um apego emocional com o lugar depois de ter gravado “Xingu”, filme dirigido por Cao Hamburger e lançado em 2011. Durante as gravações, a atriz fez um diário em que descrevia o Jalapão, sua personagem e seus sentimentos fora do set, o que lhe foi útil na escrita.
“Apesar de ser uma ficção, tem muita coisa nessas páginas pelas quais tenho muito carinho. Acaba se tornando uma história pessoal, porque eu queria falar para as pessoas um pouco de mim, sobre como eu penso tudo isso. Essa parte é verdadeira”, explica.
Um filme que virou livro
Maria Flor começou a escrever “Já não me sinto só” em 2017 como um roteiro para o cinema. Os planos mudaram quando ela percebeu que estava gostando de escrever, como ela define, “uma narrativa inteira”.
A atriz conta que terminou de escrever o livro em só em 2020, em meio ao período de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus. Para Maria Flor, isso foi fundamental para que ela conseguisse se libertar do medo das notícias e viajar sem sair de casa. “O livro deu uma salvada como um momento de respiro, em que me concentrava em criar outro universo. Foi um objetivo muito importante também por isso”, diz.
Garota, você pode!
Além de explorar as amarguras do término , Maria Flor quer que os leitores experimentem com sua personagem, as delícias e as aventuras que podem existir depois que ele passa. Para ela, é uma chance de mostrar para quem passa por uma situação parecida que existe vida depois que um relacionamento acaba. “Por mais que seja duro e às vezes a gente não se sinta incrível, mesmo com erros, acertos, dúvidas sobre nós mesmos, buracos, felicidades e inseguranças, a gente precisa sentir que consegue dar conta”, diz.
Apesar de ser um livro destinado para pessoas de todos os gêneros, a autora espera que suas futuras leitoras se identifiquem com a jornada emocional da Maria. Outro pensamento discutido pela autora em “Já não me sinto só” é de que as mulheres precisam estar em um relacionamento para que sejam validadas ou para que suas vidas façam sentido. Por esse motivo, ela espera que os rumos tomados por sua personagem incentive mulheres a buscarem sua própria autonomia.
“Minha pretensão é que o livro estimule outras mulheres a pensar assim. Gosto de pensar que o livro tem uma mensagem de: ‘vamos lá, garota, você pode! Você pode se inventar no mundo do jeito que quiser e conseguir’”, diz. “Não temos que ser de um certo jeito ou agir de uma determinada maneira para ser feliz e encontrar nosso caminho. Se uma mulher acabar o livro e pensar ‘eu me basto, eu sou suficiente’, eu ficaria feliz”, acrescenta Maria Flor.