“Sou solteira e sou feliz”: a solidão como empoderamento feminino
Foi-se a época que estar solteira no dia dos namorados era uma situação triste. Agora mulheres realizam discussões sobre como a solidão é uma ferramenta política de empoderamento feminino e cada vez mais consideram que é melhor ser feliz na própria companhia do que estar numa relação apenas por estar.
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Uma pesquisa realizada pelo aplicativo de relacionamentos Inner Circle aponta que 66% dos solteiros não ligam para a data e 79% não se sentem mais pressionados a estar em um relacionamento. Os três principais motivos pelos quais os solteiros não se importam com o Dia dos Namorados são: para 56% deles, o dia é como qualquer outro e para 34,5%, o amor não deve ser celebrado apenas em uma data específica.
Para Anna Linhares (48), cientista Social e coordenadora de um projeto sobre feminismo, mulheres estão questionando cada vez mais sobre machismo e relacionamentos abusivos, ficando cada vez mais exigentes com quem e como se relacionar.
“Historicamente mulheres sofrem por amor porque são socializadas para encontrar um príncipe encantado e os homens são socializados para eficácias; focar em suas vidas, profissionais, objetivos… a sociedade cobra que uma mulher esteja acompanhada, que mantenha a sua relação, mas aos poucos isso vem sendo combatido”, explica.
Solteira e feliz
Em sua trajetória de vida, a cientista social relata que conviveu com relacionamentos abusivos. Em um deles ela recebia questionamentos sobre a escolha das roupas que ela usava, convivia com inúmeras traições sexuais do parceiro e não conseguia expressar os seus sentimentos e pensamentos ao companheiro.
“Foi aí que eu procurei terapia, o feminismo e a psicanálise me ensinaram a problematizar esta realidade que causa violências. Hoje me sinto feliz sozinha, não quero relacionamento sério”, diz.
Lorena Muniz, psicóloga de formação, coach em relacionamento e sexualidade, explica que já sofreu muito sobre estar solteira no Dia dos Namorados, indo para terapia por 7 anos para entender porque todo mundo namorava, menos ela. “Estar solteira era uma condição que realmente me causava sofrimento, eu atribuía o status de solteira à falta de valor e uma das datas que mais me causava sofrimento era o Dia dos Namorados”, comenta Muniz.
Mas hoje a realidade de Muniz é outra: a data virou celebração pessoal. “Eu adoro o Dia dos Namorados, adoro ver o clima de amor no ar e ajudar minhas amigas a terem ideias criativas. Mas o que eu mais adoro é que eu aprendi a me namorar nessa data e em todas as outras. Aprendi a me agradar, a preparar e escolher experiências para mim como quem quer escolher o melhor presente do mundo para alguém”.
Muniz ressalta que estar em um relacionamento não significa que a solidão interna acabe, sendo preciso que as mulheres olhem para sua solidão e entendam as suas vulnerabilidades como ferramenta política.
Solteiras, elas também se autopresenteiam e realizam rituais consigo mesmas no Dia dos Namorados. “Considerando que estamos em tempos de pandemia, meu ritual esse ano será diferente. Em vez de ir a um restaurante eu vou cozinhar em casa mesmo o meu prato favorito. Eu sempre me presenteio com alguma coisa que vai me deixar feliz”, diz Muniz.