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“Uma intérprete do Brasil”, diz biógrafo sobre a intelectual Beatriz Nascimento

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“Uma intérprete do Brasil”, diz biógrafo sobre a intelectual Beatriz Nascimento


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Beatriz de Nascimento foi uma intelectual negra no campo da história e das Relações Raciais
Arquivo Nacional

Beatriz de Nascimento foi uma intelectual negra no campo da história e das Relações Raciais




Maria Beatriz Nascimento foi uma historiadora, professora, roteirista, poeta e ativista que se dedicou a resgatar a história do negro no Brasil. Para Alex Ratts, autor do livro “Uma História Feita por Mãos Negras”, que reúne 24 textos de Nascimento, este resgate histórico consiste em romper com quatro séculos de invisibilização da população negra em todos os níveis da sociedade. 

“Há muitos anos eu já conhecia o trabalho da Beatriz Nascimento, conhecia pessoas da família dela também, aí fui escrevendo alguns trabalhos sobre ela e tive a oportunidade de publicá-los em uma editora”, comenta Alex. 

Nascida em Sergipe, Beatriz Nascimento migrou com a família para a cidade do Rio de Janeiro, onde formou-se em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, (UFRJ) especializou-se na Universidade Federal Fluminense (UFF) e fez parte do corpo discente do curso de mestrado em Comunicação Social da UFRJ.

Tornou-se influente nos estudos das relações raciais no Brasil após sua participação em organizações acadêmicas do movimento negro, junto com outros expoentes como Clóvis moura, Lélia Gonzaléz , Abdias de Nascimento. Suas obras mais notórias são o documentário Ori (1989) e artigos sobre o conceito de quilombo na História, raça, racismo e sexismo. 

Vida pessoal

Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju, em 1942. Seus pais eram a dona de casa Rubina Pereira do Nascimento e o pedreiro Francisco Xavier do Nascimento, que tiveram dez filhos, sendo a segunda filha mais nova. Com apenas 7 anos, migrou com a família para a cidade do Rio de Janeiro, no final de 1949. Entre 1968 e 1971, cursou História na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).  

Em 1995, aos 52 anos, a intelectual cursava mestrado em Comunicação Social também pela UFRJ. Foi neste período da pós-graduação que Beatriz acabou tendo a sua vida interrompida. Segundo informações constam, Nascimento foi vítima de feminicídio, após aconselhar uma amiga, que sofria violência doméstica, a largar seu companheiro, Antônio Amorim Viana, que viria a assassina-la com cinco tiros. Sepultada no Cemitério São João Batista, com a presença da família, amigos e militantes do movimento negro, ela deixou uma filha.


Esquecida na historiografia brasileira

Apesar de ser uma referência nos estudos da história negra, principalmente em torno da formação dos quilombos, a autora foi invisibilizada nos estudos acadêmicos da história. “Eu estudava quilombo e percebi que o nome dela não aparecia nas referências, nem mesmo seus textos. A universidade é muito eurocêntrica e segue excluindo mulheres negras das grades de ensino”, comenta Alex.

No entanto, sua produção tem sido lembrada em congressos e seminários acadêmicos justamente por pesquisadores e pesquisadoras afro-brasileiro. O livro “Uma História Feita por Mãos Negras” vem com o propósito de divulgar o trabalho intelectual da autora.

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A formação dos quilombos no Brasil

Entre 1974 e 1996, Beatriz Nascimento se dedicou ao estudo das formações dos quilombos no Brasil. Alex Ratts, autor de sua biografia intelectual, menciona que Beatriz pensava os territórios de resistência de escravizados e seus descendentes de maneira científica, mas também a partir de sua trajetória pessoal e do seu ativismo político.

Desta forma, ela criticava a falta de olhar para os quilombos como formação histórica importante e sua potência ideológica na sociedade. Ela defendia que dentro dos quilombos criaram-se formas culturais com grande impacto na formação social brasileira. Nascimento defendia o reconhecimento e a titulação das terras quilombolas, o que viria a acontecer a partir de 1995.

Relações raciais e gênero

Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento e Lélia Gonzales
Reprodução/Divulgação

Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento e Lélia Gonzales


A realidade da mulher negra no Brasil também era um dos principais temas da autora. Segundo ela, estas eram vítimas da herança do período colonial e escravocrata. As sobrevivências patriarcais na sociedade brasileira fazem com que elas ocupem e assumam empregos domésticos, em menor grau nas indústrias de transformação, nas áreas urbanas e que permaneça como trabalhadora nas rurais.

Desta forma, os escritos de Beatriz Nascimento permanecem ainda presentes na realidade brasileira, pois as mulheres negras seguem ocupando os menores cargos de chefia. Segundo pesquisa realizada pela consultoria Indique Uma Preta e pela empresa Box1824,  apenas 8% das mulheres negras brasileiras que trabalham no mercado formal ocupam cargos de gerente, diretora ou sócia proprietária de empresas.

Uma História Feita por Mãos Negras

Livro Uma História Feita por Mãos Negras
Zahar

Livro Uma História Feita por Mãos Negras


O livro “Uma História Feita por Mãos Negras” que trata sobre os escritos de Beatriz Nascimento é organizado pelo antropólogo Alex Ratts. 

São 24 textos selecionados que reafirmam os aspectos centrais de sua obra: as relações raciais e de gênero, as formulações sobre a contribuição do negro na construção da sociedade brasileira, a recusa do discurso que reduz a problemática racial a uma questão econômica e social, e, sobretudo, as pesquisas sobre os quilombos no Brasil.

Completam ainda este conjunto escritos da autora, marcados pelas transformações políticas e sociais a partir da década de 1980 como o fim dos governos militares e a vigência da nova Constituição, a “Carta de Catarina”, texto de maturidade e síntese no qual ela discorre sobre o movimento negro, a diáspora e suas poéticas.

Perguntado sobre a importância de ler Beatriz Nascimento, alex fala da expressão “intérprete do Brasil”. “Ela junto com outros intelectuais como Lélia Gonzalez, Clóvis Moura, interpretaram o Brasil a partir da questão racial e criaram um contexto novo dos movimentos sociais com o surgimento do movimento negro na década 70, precisamos dar voz à intelectualidade negra”, finaliza. 

Fonte: IG Mulher

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