Vida após o câncer de mama: “Me preocupei com a saúde, mas também com a vaidade”
“Me preocupei com a saúde, mas me preocupei também com a vaidade”, afirma Ana Maria de Assis, 49, que enfrentou um câncer de mama em março de 2017. Por causa da doença, além de perder cabelos, unhas e pelos, ela teve que retirar as mamas.
“Sempre fui uma pessoa extremamente vaidosa, sempre pratiquei exercícios físicos, cuidava muito da minha aparência. Minha preocupação era se eu ia ou não sofrer uma mutilação e também uma preocupação com o cabelo, embora já usasse cabelo curto. Uma coisa é você usar cabelo curto por opção, outra coisa é você não ter pelos no corpo, o que não é uma opção sua”, conta.
Foi no Instituto Amor em Mechas que Ana viu forças para enfrentar os tratamentos bastante invasivos da doença e manter sua vaidade e sua autoestima. À procura de uma peruca, a empreendedora se deparou com preços exorbitantes — que variavam, se tratando assessórios de boa qualidade, feitos com cabelo humano, de R$ 1.000 a R$ 2.500. Foi quando conheceu Débora Pieretti, 51, que também estava em tratamento oncológico e que ainda engatinhava com seu projeto.
Na época, em 2017, as doações de perucas do Instituto Amor em Mechas ainda eram feitas nas estações dos metrôs de São Paulo. Débora, que também teve câncer de mama, teve que passar pelo procedimento de quadrantectomia, que tira parte da mama doente, além da radioterapia e quimioterapia.
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Foi em um evento em um salão de cabeleireiro que as duas se conheceram e puderam compartilhar as angústias que envolviam todo o tratamento do câncer. Familiares de Ana haviam cortado seus cabelos para que ela pudesse fazer uma peruca. As texturas e cores não combinavam, por isso a ideia foi descartada. Mas as mechas não. Essas foram muito bem aproveitadas por Débora. Em troca, Ana recebeu sua peruca junto ao “kit do amor”.
No kit, além da peruca e produtos para cuidar do assessório, Débora faz questão de entregar itens para a proteção (em tempos de pandemia) e autoestima das mulheres, como álcool em gel, hidratante corporal e brincos. “Estar triste e deprimida interfere no sistema imunológico, por isso, nas nossas ações procuramos levar alegria, estimulando essa mulher em tratamento a se sentir bela”, explicou a fundadora do instituto.
Além de Débora, Ana fez outras várias “oncoamigas”, como ela chama as amizades que fez durante o tratamento para o câncer. Uma delas, Fernanda Chain, 52, também fundou um instituto, este para doar próteses mamárias para pacientes que se submeteram à mastectomia.
Fernanda teve câncer em 2016 e teve que retirar suas mamas. “Sem poder fazer a reconstrução mamária logo depois da cirurgia por causa de uma infecção na prótese, eu fiquei sem mama. Fiquei com baixa autoestima, não conseguia sair de casa, deprimida”. Foi na sala de recepção de seu médico que conheceu uma mulher que fazia próteses com meias e alpiste.
Sendo baratas, fáceis de fazer e sem contraindicação, Fernanda decidiu fabricar este tipo de próteses em larga escala para doar, nascendo assim o Mamas do Amor. O objetivo do instituto é doar as mamas feitas de alpiste para mulheres de todos os países. O processo mais caro, no entanto, é o envio dos produtos. Por isso, as doações são sempre bem-vindas e podem ser feitas através do site.
O Amor em Mechas também aceita doações de dinheiro, além de mechas de cabelos — que devem ser cortadas de acordo com a explicação do instituto e precisam ter mais de 15 centímetros. Atualmente, o instituto doa perucas para todo o Brasil e o envio é bastante caro. Por isso, Débora também aceita doações em dinheiro, além de objetos para o bazer que ela realiza no instituto.