Após salvar uma arara, Paulo Martins fundou uma ONG e abriga mais de 100 aves
Todos os dias Paulo Roberto Martins, de 38 anos, segue praticamente a mesma rotina. Ele acorda por volta das 5h da manhã, toma café e depois prepara o dejejum para as cerca de 150 aves que abriga em sua casa. Durante a tarde, cuida das tarefas mais burocráticas relacionadas à organização Renascer ACN , que fundou 2017 e a qual se dedica integralmente.
Nem sempre a vida de Martins foi dedicada à preservação ambiental. Antes de se mudar para a cidade de Planura, no interior de Minas Gerais, ele trabalhava na empresa da família, localizada na cidade de São Paulo, e possuía apenas uma ave, um papagaio que ganhou de presente da esposa. A ideia de fundar uma organização especializada no resgate e reabilitação de animais silvestres surgiu somente após presenciar uma arara sofrendo um acidente.
“Um casal de araras estava chocando na palmeira aqui de casa. Um dia estava chovendo muito e ventando demais. A fêmea saiu para ver o que estava acontecendo, não sei se ela se assustou ou o que aconteceu, mas ela bateu em um fio de alta tensão do outro lado da casa. Para eu não entregar essa ave para a polícia, porque eu sabia que ela seria eutanasiada se fosse entregue para outro órgão, eu decidi criar uma organização”, recorda.
Martins explica que se identificou com a situação da família de araras. Ele perdeu o pai e o irmão mais velho quando tinha 25 anos e entrou em uma depressão. “Foram anos sem perspectiva nenhuma, sem vontade de viver”, fala. Tudo mudou quando viu aquela arara precisando de ajuda e sentiu que precisava fazer algo. “Foi ver a carinha dela e saber que ela tinha filhotes no ninho, porque se eu entregasse ela para polícia eu sabia que ela seria morta e consequentemente os filhos também iriam morrer”, continua.
Decido a agir, Martins entrou o contato com o irmão que é advogado e o aconselhou em como proceder para fundar a organização. Após um ano do acidente, e depois de conseguir as autorizações com a Promotoria, Ibama e Polícia Ambiental, nasceu a Renascer das Aves ACN. A última parte do nome da fundação é uma homenagem a Antônio Carlos Nunziata e Carlos Nunziata, respectivamente o pai e o irmão falecidos de Martins.
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O trabalho no dia a dia
A Renascer ACN é formada por 11 pessoas e o trabalho com os animais resgatados é feito principalmente por Paulo Roberto Martins, pela esposa dele e pela veterinária Maria Ângela Panelli Marchió. A profissional auxilia Paulo no trato dos animais e não cobra por seus serviços. A sede da organização fica na casa de seu fundador, que foi completamente adaptada para a função., com viveiros, uma estufa para os filhotes e também uma farmácia com medicamentos.
Paulo fala que abriga em sua casa cerca de 100 aves resgatadas, vindas de maus-tratos, do tráfico ou de acidentes. Ele tem outras aves que são seus animais de estimação e atualmente também está abrigando um filhote de sagui, pois sentiu a necessidade de começar a trabalhar com primatas após receber vários desses animais feridos e precisando de ajuda por conta das queimadas que ocorreram em 2020.
Para manter a organização funcionando, Marins calcula gastar R$ 4250 mensalmente com o cuidado com os animais. A maior parte desse valor é destinada à compra de alimentos para os bichos. A Prefeitura de Planura fornece R$ 10 mil por ano à Renascer ACN e a organização também recebe doações, mas Martins fala que mesmo assim precisa tirar dinheiro do próprio bolso para manter o trabalho. Ele recebe o dinheiro do aluguel de um apartamento que tem em São Paulo e a esposa trabalhava como cabeleireira até antes do início das medidas de isolamento social.
Martins não tem a conta de quantos animais já resgatou no total, mas realiza de 3 a quatro resgates por semana. Desse total, ele estima que consegue salvar a vida de 80% dos animais que chegam vítimas de acidentes e devolve para a natureza apenas 10% dos provenientes do tráfico.
O fundador da Renascer ACN explica que a limitação do espeço físico onde está a organização que o limita. Como está em um terreno pequeno, Martins não tem espaço suficiente para construir viveiros nos quais os filhotes aprendam como sobreviver na natureza. Para esse ano, ele quer adquirir um terreno maior para construir essa estrutura e poder reintroduzir mais aves na natureza, além de abrir a fundação para a visitação do público. “Do jeito que eu estou, eu estou parado no mundo. Não deixo de ajudar, se a polícia ligar aqui eu vou na hora resgatar, mas precisava urgentemente de um lugar maior. Na condição que estou hoje consigo ajudar limitado”, diz.
Passados cerca de quatro anos desde que começou a trabalhar com a preservação ambiental, Martins fala que a primeira arara resgatada transformou a vida dele. “A partir do momento em que eu peguei essa arara minha vida mudou da água para o vinho. Hoje sou dedicado aos animais 24 horas por dia. Não tenho feriado, não tenho final de semana. Foi ela quem me resgatou. Hoje eu vivo pelos animais e pela preservação”, conclui.