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Pitbull mata? País tem menos ataques dessa raça do que de Poodles

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American Pitbull Terrier
Mike Burke/Unsplash

American Pitbull Terrier

Acidentes e mortes causados por cães da raça Pitbull são semanalmente noticiados por todo o Brasil. O potencial de sua mordida pode, realmente, ser fatal, mas qual a realidade do país e como agir para evitar situações como estas?

Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino, editora de todas as mídias sociais “Seu Buldogue Francês” e, também, criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, buscou embasamento científico para entender o contexto brasileiro. Embora existam falhas nas estatísticas, Chamone destaca um excelente levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, publicado no Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia: em um ano, foram notificadas 20 mil agressões por cães de qualquer raça, sendo que 48,4% dos acidentes vêm de cães sem raça definida (SRD); 57,6% acontecem dentro de casa e 56,2% com pessoas da própria família ou conhecidas.

Outros resultados do estudo ajudam a mapear o cenário em São Paulo: 80,4% dos ataques geraram lesões leves, a maioria das vítimas tem entre 5 e 14 anos. As lesões profundas correspondem a 19,1% e envolveram cachorros de porte médio e grande.

O levantamento aponta, ainda, a raça Pitbull como responsável por 5,8% dos acidentes, ficando atrás inclusive do Poodle, com 7,4%.

Em comparação à situação nos Estados Unidos, os dados divulgados pelo site de educação pública DogsBite nos mostram uma grande diferença. Lá, os Pitbulls são responsáveis por 72% de ataques fatais a humanos. Entre 2005 e 2020, 568 norte-americanos foram mortos por cães, sendo que Pitbulls (380) e Rottweilers (51) contribuíram para 76% (431) dessas mortes.

“A maior parte dos acidentes fatais foi causada por Pitbulls, mas a relevância estatística de cães abandonados ou considerados SRD é pequena: totalmente diferente da realidade brasileira. Existe, portanto, uma ‘americanização’ das notícias quando os acidentes são causados por Pitbull no Brasil. Quando provocados por cães SRD (algo muito mais comum), são raramente divulgados”, pontua Chamone.

Com essa análise, é possível, portanto, desmistificar o Pitbull como a raça que “mais mata” por ataques no Brasil.

A raça Pitbull é agressiva? 

“Na verdade, nenhum cachorro nasce agressivo e, independentemente de ser um Pitbull ou não, ele pode se tornar agressivo, se o ambiente onde ele vive propicia condições para que a agressividade de desenvolva. O comportamento agressivo é uma forma de autoproteção e não está relacionado à maldade ou desvio de caráter deles”, pontua.

No entanto, a lógica nos diz que o potencial de dano da mordida de um Pitbull é maior que, por exemplo, o de um Shih Tzu: e o morder, inclusive, é uma forma dos cães se defenderem por estarem estressados. Mas será que o cérebro e, consequentemente, os comportamentos dos Pitbulls, são muito diferentes dos cães menores?

Ao contrário do senso comum, que traz o temperamento da raça como um problema, a neurociência afirma que o cérebro de um Pitbull funciona exatamente da mesma maneira que o de um Shih Tzu, ou qualquer outro cachorro, de qualquer tamanho ou raça.

O grande problema é o estresse no qual os cães são submetidos, rotineiramente, sem que seus donos sequer percebam. Esse estresse traz sofrimento e, consequentemente, problemas comportamentais.

Isso geralmente ocorre quando os peludos têm uma rotina entediante: ficam trancados em casa ou no canil o dia inteiro, sem nenhuma atividade, cochilando o tempo todo, passam muito tempo sozinhos, não praticam atividade física de forma regular e são alimentados de maneira inadequada.

“Por causa desse estresse, os cães tendem a ter comportamentos compensatórios, como destruição frequente de objetos, cavar a cama constantemente e se lamber de forma compulsiva, além de latir demais, ter ações hiperativas, comer o próprio cocô, até chegarem ao ponto de redirecionarem a frustração que sentem, sob a forma de agressividade. A questão é que a mordida de um Pitbull causa muito mais estrago, na sociedade, do que a de um shih tzu, mas ambos os cachorros estão em sofrimento”, lamenta a geneticista.

Comportamentos agressivos de raças de pequeno porte, inclusive, são comumente ridicularizados, pois viram até memes nas redes sociais. “Um cão pequenino e ‘fofo’, ‘engraçadinho’, ao morder algo ou alguém, está com sua saúde mental comprometida tal como um grande. Precisamos olhar para o sofrimento de todos e deixar de romantizá-lo ou torná-lo uma comédia nos pequenos”, ressalta Chamone.

Assim como Chamone, Alex Piffer, CEO do canil, hotel e marca Piffer Pit Bull e especialista na raça, ele defende que há muito pouco conhecimento sobre a raça e, sobretudo, sua genética.

Por atuar diariamente com os cães, ele explica que eles não são agressivos, e que se tornam por culpa de seus tutores que acabam negligenciando cuidados essenciais no dia a dia do pet.

“Você tem espaço e tempo para ter um Pitbull? As pessoas não levam isso em consideração. Eles são cães extremamente atléticos e precisam queimar energia. Os tutores não tomam as medidas básicas, como ter uma focinheira e uma guia curta na hora do passeio”, explica Piffer.

Desse modo, é importante entender que o cão nunca é o maior culpado por seus comportamentos disfuncionais: ocasionados, na realidade, por negligência com sua saúde física e mental. A boa notícia, no entanto, é que, ao adquirir conhecimento sobre a espécie, é possível mudar esta realidade.

Mudança cultural e ações

Para evitar situações de agressão, Chamone defende a necessidade de uma mudança cultural na sociedade, que passa por políticas públicas.

“O cachorro com grande potencial de mordida é como uma arma; pode, mesmo, matar. Neste caso, o ideal seria a proibição de sua posse a pessoas sem conhecimento do animal que levaram para a casa e que não fazem ideia de como cuidar dele”, ressalta Chamone.

Além disso, como o cérebro do Pitbull funciona de forma idêntica ao de um cachorro pequeno, as técnicas de aprendizado e educação também são as mesmas. Assim, deveria ser obrigatório entender o básico sobre comportamento canino e, com isso, saber prevenir e diferenciar comportamentos disfuncionais.

“Com qualquer cachorro, de qualquer raça ou tamanho, é essencial trabalhar intensamente os quatro pilares do bem-estar: gerenciamento das emoções, alimentação de qualidade, sono satisfatório e rotina de exercícios físicos”, relata a geneticista.

Alex Piffer também enfatiza a importância de uma boa socialização da raça desde pequenos, para que assim saibam lidar com barulhos, contextos e pessoas diferentes.

“Os nossos cães são colocados em diferentes situações para saberem lidar com isso. Por exemplo, no início, alguns tinham medos de barulho de microfonia que ocorriam nos eventos. E, por isso, começamos a levar eles desde pequenos a esses eventos para se acostumarem com esse tipo de ruído”, conta o empresário, que também pontua ainda seu orgulho de criar com seu time de funcionários e parceiros a raça Pitbull de maneira dócil para seus futuros clientes.

O que varia, claro, é a necessidade individual, de acordo com suas particularidades. Raças de trabalho, como Pitbull, Rottweiler, Dobermann, Golden Retrievier e Border Collie, por exemplo, naturalmente demandam intenso gasto de energia, por isso precisam de mais atenção nesse sentido. Interação com família e enriquecimento do ambiente também são ações importantes para a saúde física e mental dos peludos. “É preciso tempo e dedicação para assegurar o seu bem-estar”, salienta Piffer.

Assim, a educação canina responsável, sem uso de punições ou castigos, permitirá ter qualquer cão emocionalmente equilibrado e, consequentemente, evitar acidentes e danos à sociedade.

Por isso é possível criar um Pitbull ou qualquer cachorro de mordida poderosa em casa, com crianças pequenas. Entretanto, é recomendado fortemente aos tutores de cães desse porte que busquem orientação profissional antes mesmo de trazerem o cachorro para casa, para se autoeducarem e não criarem condições que favoreçam o surgimento do comportamento agressivo.

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Fonte: IG PET

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