Cia da Tribo leva ao Rio de Janeiro o espetáculo teatral Água Doce
Três apresentações gratuitas do premiado espetáculo teatral Água Doce vão levar ao público conhecimentos sobre os rios brasileiros e o meio ambiente. Criada em 2018 pela Cia da Tribo, a peça entra em cartaz pela primeira vez no Rio de Janeiro, e faz alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no próximo dia 5.
As exibições estão programadas para os dias 10, às 10h, na Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre, zona norte da cidade; dia 11, às 17h e 19h, na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, zona norte do Rio; e no dia 12, às 12h30 e 14h30, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, região central da capital.
A classificação é livre e a distribuição de senhas ocorrerá uma hora antes do início da apresentação, que está sujeito à lotação dos espaços.
Cia da Tribo
A diretora da Cia da Tribo, Milene Perez, professora de teatro, informou à Agência Brasil que a companhia trabalha há 26 anos com crianças, acumulando, até o momento, um repertório de dez espetáculos ativos que têm ligação forte com a cultura popular.
A peça Água Doce surgiu de um trabalho de escuta que Milene fazia com alunos de teatro em um parque. Durante esse trabalho, uma das crianças disse estar ouvindo o som de água. Milene confirmou que o som vinha de um rio que passava embaixo do local. Ao levantarem a tampa do bueiro, aconteceu uma reflexão muito forte e a percepção de como as crianças veem os rios nas grandes cidades. “Como uma coisa que fede e que causa enchentes, por exemplo”, disse Milene.
Ela levou a conversa tida com os alunos para o grupo teatral e decidiram em conjunto elaborar uma história que tratasse dos rios. Para isso, estudaram a retificação dos rios ocorrida em São Paulo e que aconteceu em todo o país, em vez de se buscar o fortalecimento dos transportes ferroviário e fluvial, inclusive, dando preferência ao transporte rodoviário. “E os rios que serpenteavam as cidades atrapalhavam”, comentou.
Sensibilização
A questão foi trabalhada então, não de forma didática, mas lúdica, de modo a sensibilizar as crianças, seus pais e demais pessoas que assistissem o espetáculo. A companhia decidiu que uma forma de fazer isso seria através de bonecos grandes, feitos com materiais reutilizáveis. A encenação é feita na rua. O palco montado tem um rio que passa no meio e o público fica sentado dos dois lados, como se estivesse nas margens do rio, e acaba fazendo parte da história.
O espetáculo Água Doce parte da lenda da Iara como pretexto para desenvolver a questão dos rios. Iara vive exilada na pororoca, que é o encontro das correntes de um rio com as águas do oceano. Ela observa como a inveja e a ganância podem fazer mal à natureza, matando os peixes e secando os rios.
A peça utiliza figuras do folclore para conscientizar as pessoas sobre a importância dos rios que circulam por todo o Brasil e, muitas das vezes, se encontram abaixo dos nossos pés, tamponados ou encanados durante um processo de urbanização desenfreada. O diretor de teatro e ator Wanderley Piras, que assina o texto com Milene, explicou que o uso da linguagem poética possibilita ao público entender por conta própria as questões que estão sendo tratadas.
Os bonecos representam figuras folclóricas como Cabeça de Cuia, Jaguarão, Pirarucu e Cobra Grande, e foram confeccionados pelo artista plástico Adriano Castelo Branco. Como eles chamam muito a atenção dos espectadores, a companhia os deixa expostos depois das apresentações, criando uma espécie de exposição ao ar livre, informou Milene.
Ferramenta
O diretor de teatro lembrou que a água é o nosso principal recurso natural, essencial para existência da vida na Terra. Mas desastres ecológicos recentes, como o rompimento da barragem de Brumadinho, que contaminou o Rio Paraopeba; ou o derramamento de petróleo no Oceano Atlântico, danificando todo o ecossistema marinho do litoral nordestino e avançando para os rios e mangues, ratificam a necessidade de se falar sobre isso para o público em geral. A Cia da Tribo acredita que o teatro pode trazer à tona discussões importantes, como a conscientização e a preservação ambiental.
Para a diretora do grupo, o teatro é uma ferramenta para a preservação dos recursos naturais. “A experiência que a gente propõe com o teatro passa por uma expressão estética que te movimenta, te faz questionar, te sensibiliza, te faz ter um olhar para uma coisa que, talvez, no dia a dia, você passa e nem olha. Aí, depois que você tem uma vivência como essa, isso de alguma forma está tocando a tua sensibilidade, o teu olhar, e você não vai mais passar por um rio sem olhar para ele, sem pensar nele. Acho que essa é a função do teatro”. A ideia é dar voz aos rios. A gente dá voz aos rios e as pessoas da cidade se emocionam. É muito legal!, afirmou.
O espetáculo Água Doce conquistou vários prêmios, entre os quais o Prêmio APCA de Melhor Espetáculo de Rua e o Prêmio SP de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem na categoria Sustentabilidade. Foi indicado também ao 7º Prêmio Aplauso Brasil, na categoria Melhor Espetáculo Para o Público Infantil e Jovem. Somente no estado de São Paulo foram feitas apresentações da peça em 80 parques. Milene Perez disse que a ideia, se a Cia da Tribo tiver patrocínio, é levar o espetáculo para todo o país.
As apresentações da peça Água Doce são patrocinadas pelo braço social do grupo Tigre (ICRH), por intermédio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
Cia da Tribo
O grupo paulista fundado pelos artistas Milene Perez e Wanderley Piras iniciou seu trabalho de pesquisa em cultura popular em 1996. Sua linguagem cênica foi desenvolvida por meio do estudo de tradições populares, personalidades e corporeidades brasileiras. Histórias, músicas, danças e bonecos criados pelo povo em diversas regiões do país são investigados, apreendidos, recriados e trazidos à cena, construindo assim, uma teatralidade brasileira.
Edição: Maria Claudia