Lei transforma mestre-sala e porta-bandeira em patrimônio do Rio
Foi sancionada na última quinta-feira (13) a lei 9.588 de 2021, que garante às figuras carnavalescas do mestre-sala e da porta-bandeira o título de Patrimônio Cultural Imaterial do estado do Rio de Janeiro.
Para Vilma Nascimento, de 83 anos, a lei sancionada pelo governador Cláudio Castro é um reconhecimento à história dos símbolos do Carnaval.
A apresentação do mestre-sala e da porta-bandeira é um dos mais disputados quesitos na classificação das escolas de samba no Carnaval carioca, e pode ser determinante na avenida. As roupas luxuosas precisam estar de acordo com o enredo do ano e são preparadas especialmente para não impedir o bailado na passarela, que costuma encantar o público.
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“É uma coisa séria. Agora eles têm que se unir, para cada vez ser mais valorizado o casal. Tem que ter união, respeito absoluto. O título valorizou muito e eu estou muito contente mesmo”, disse a sambista em entrevista para a Agência Brasil.
Considerada símbolo das porta-bandeiras de escolas de samba, Vilma faz a própria história na família. A primeira vez que desfilou foi aos 7 anos, no Bloco Unidos da Dona Clara – rua de Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A estreia como porta-bandeira foi aos 13 anos na Escola de Samba União de Vaz Lobo, também na Zona Norte. Na Portela, onde se tornou destaque pelo seu bailado que envolvia a quem assistia, começou em 1957.
Os anos se passaram e na década de 1980 Vilma foi para a Tradição, uma dissidência da azul e branco de Oswaldo Cruz. Foi lá que mais uma vez fez história. Preparou o afilhado, o mestre-sala Júlio César da Conceição Nascimento, o Julinho. Emocionado, o jovem realizou o sonho de desfilar com a madrinha de batismo em plena Marquês de Sapucaí. “Eu fui orientando, botando ele do meu jeito. Fui eu que projetei ele”, contou Vilma.
Tradição de família
Ser porta-bandeira na família de Vilma é sinônimo de encontro de gerações. A filha Danielle também seguiu os passos da mãe e é porta-bandeira na União da Ilha. Ela passou a compor o casal com Julinho quando Vilma deixou a função; a neta Camyla é segunda porta-bandeira da Portela; e a bisneta Clarice, terceira da Tradição. Todos seguem os seus passos. “Para mim isso é muito gratificante e importante porque deixa uma boa lembrança para mim que já não danço mais. Eu digo, valeu a pena? Valeu”, contou.
Nos últimos anos, além de entrar na avenida como destaque no início do desfile da Portela, Vilma esteve presente ao lado da filha nas apresentações do casal. “É uma emoção forte. Muito bom ver ela dançar, porque a Danielle é incrível na avenida. Ela não gosta de quadra, ela gosta é de avenida. Igual a mim, tanto é que eu vou para a avenida. Quero ver todas as escolas de samba”, completou sorrindo, lembrando que mesmo no ano em que precisou fazer uma cirurgia na cabeça pouco tempo antes do carnaval, foi para a Passarela do Samba e desfilou na Portela e acompanhando a filha na escola Paraíso do Tuiuti. “Fui para a avenida com os pontos na cabeça. Foi muito bom. Foi emocionante”.
Atualmente Julinho forma um dos casais mais longevos na Sapucaí. A parceria com a porta-bandeira Rute começou em 2008. Já passaram pela Vila Isabel e pela Unidos da Tijuca e desde 2018 estão na Viradouro.
Espírito do Carnaval
Para o governador, a lei reconhece a importância dos casais não só para as escolas, como para a cultura fluminense. “Os mestres-salas e as porta-bandeiras são mais do que os guardiões da folia. Assim como outros elementos emblemáticos das escolas que desfilam na Sapucaí, eles também representam o espírito do Carnaval”, disse.
A nova legislação de autoria do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) prevê ainda apoio de órgãos do poder Executivo à iniciativas de valorização e divulgação deste bem imaterial.
O calendário oficial do Rio de Janeiro conta com uma data de comemoração de figuras de destaque nas agremiações. O Dia Nacional do Mestre-Sala e da Porta-Bandeira é celebrado em 24 de novembro.
Edição: Pedro Ivo de Oliveira