MPPE acompanhará investigação da morte de filho de agricultor familiar
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou que irá acompanhar de perto as investigações do assassinato do menino de 9 anos, filho de de Geovane da Silva Santos, presidente de uma associação de agricultores familiares, no interior de Pernambuco. Diferentes entidades ligadas à luta pela terra levantam a hipótese de que o crime esteja associado a conflitos fundiários.
Uma investigação para identificar os autores do crime já está em andamento pela Polícia Civil. Para saber o resultado das primeiras diligências, o MP agendou para amanhã (15) uma reunião com o delegado titular de homicídios de Palmares (PE), Marcelo Queiroz, que assumiu o caso.
“Por se tratar de uma criança, a investigação corre sob sigilo, por força do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)”, informa o MP em nota.
Crime
A criança foi executada na noite de quinta-feira (10) no município de Barreiros (PE) e enterrada no dia seguinte sob protestos de familiares e moradores.
O crime ocorreu no Engenho Roncadorzinho, onde vivem centenas de pessoas. Segundo os relatos da família, sete homens encapuzados e armados invadiram a casa de Geovane por volta das 21h e dispararam contra o líder rural, que foi atingido no ombro, mas sobreviveu. Em seguida, os homens encontraram a criança escondida embaixo da cama e atiraram nela em frente à mãe.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), serviço fundado na Igreja Católica voltado para apoio à organização dos trabalhadores do campo, cobrou uma investigação que apure uma eventual ligação entre o crime e o conflito fundiário existente na região. A Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Pernambuco (Fetape) também crê nesta possibilidade. Cerca de 70 famílias vivem no local.
Antiga usina
A área pertencia a uma usina na qual trabalhavam os moradores mais velhos. Há pouco mais de duas décadas, ela faliu, levando à demissão dos empregados sem as devidas indenizações. As famílias permaneceram no local e, com o tempo, passaram a se dedicar à agricultura familiar. No entanto, há alguns anos, tramita na Justiça uma ação onde uma empresa de agropecuária, que arrendou as terras da massa falida da usina, pede o despejo dos moradores.
“É inadmissível e repugnante a invasão da casa de uma família e a execução cruel de uma criança”, disse a CPT em nota. Segundo a instituição, a possível associação entre o crime e o conflito fundiário deve ser investigada já que a comunidade tem sido alvo de ameaças, intimidações, destruição de lavouras e contaminação de fontes de água por pessoas vinculadas a empresas que exploram economicamente a área.
“A comunidade existe há 40 anos e abriga cerca de 400 trabalhadores rurais posseiros, sendo 150 delas crianças”, acrescenta a nota. A CPT também lamenta que, mesmo diante das denúncias às autoridades do estado de Pernambuco, nenhuma medida efetiva tenha sido tomada.
Governo
Em nota, a Secretaria de Defesa Social, vinculada ao governo pernambucano, classifica o crime como bárbaro e afirma que “não haverá descanso” enquanto o caso não for solucionado. Segundo a pasta, foi determinado total empenho nas investigações. “Esse é um trabalho integrado, que envolve a Polícia Militar e a Polícia Científica. Não haverá descanso até a completa elucidação desse bárbaro crime, assim como a responsabilização penal de seus autores”, diz o texto.
Edição: Lílian Beraldo