Transformações do mercado de trabalho é tema do Caminhos da Reportagem
Há pouco mais de um ano, antes do início da pandemia de coronavírus, poucos especialistas poderiam prever que o mercado de trabalho mudaria tanto num espaço de tempo tão curto. Tendências que já haviam despontado, como a flexibilização das jornadas, a transformação digital e o trabalho no exterior, foram aceleradas pela pandemia, ampliando as fronteiras do mundo corporativo e transformando profundamente as relações de trabalho entre empresas e colaboradores. Todas estas questões – ou seja, as tendências no mercado de trabalho do futuro – serão tratadas neste domingo (30) pelo programa Caminhos da Reportagem, que vai ao ar às 22h, pela TV Brasil.
Implementação do home office
Entre as mudanças em curso, a mais significativa é a implementação do home office, graças às novas tecnologias que têm facilitado o trabalho e a interação entre as pessoas, apesar do distanciamento social. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por volta de 30 a 35% das empresas brasileiras já desenvolviam parte de suas atividades em home office e a estimativa é que, no pós-pandemia, 80% delas continuem com esse regime de trabalho pelo menos uma vez por semana.
As mudanças das mais latentes estão todas associadas ao processo de digitalização, que acabou sendo acelerado em função da pandemia.
A mais óbvia de todas é o teletrabalho, o trabalho remoto. Mais do que o home office, nesse momento é home office porque as pessoas estão ficando em casa, mas em breve vai ser algo como anywhere office. As pessoas vão trabalhar de qualquer lugar, mas vão trabalhar também dos seus escritórios – explica o pesquisador André Micelli, da FGV.
Sem fronteiras
Quando o assunto é a contratação de profissionais, os limites entre cidades e mesmo as fronteiras entre países deixaram de existir. O êxodo urbano e o aumento do número de “expatriados virtuais” – pessoas que permanecem em seu país natal, trabalhando para empresas estrangeiras – é outra tendência apontada para o futuro do mercado de trabalho. Com a possibilidade de trabalhar em home office, muitas pessoas têm aproveitado essa oportunidade para mudar de área, de cidade e, até, de vida, como fez o casal Carolina e Christian Perlingiere, ao trocar a Zona Sul carioca pela serra fluminense.
A gente hoje em dia preza muito mais por essa qualidade de vida, esse espaço; e é um movimento que a gente vê não só aqui, mas em outros países também. Muita gente saindo dos centros urbanos pra morar em cidades menores, onde conseguem alugar lugares maiores, e estão aproveitando, especialmente quem tem criança pequena – avalia Christian.
Já o CTO (chief technology officer) Gustavo Simões mudou de emprego no início da pandemia para assumir um cargo de liderança numa empresa sediada em Miami, assim como a designer Marina Leite, que resolveu investir na área de experiência do cliente e hoje trabalha com UX (user experience researcher) para uma empresa internacional.
Busca de talentos
Para a executiva de soluções de talentos, Ana Claudia Plihal, se antes já havia uma fuga de talentos para o exterior, com a expatriação virtual esse fenômeno deve se intensificar porque “hoje o contratante está em qualquer lugar do mundo e a gente vê um crescimento de 30% da diversidade geográfica na contratação de vagas remotas, o que é muito bom”.
A guerra dos talentos ela virou global, então as próprias empresas de economias mais tradicionais estão tendo que se adaptar pra buscar talentos no mundo inteiro, que trabalhem de uma maneira diferente, mais híbrida, mais remota. E aí, cada empresa está encontrando seu modelo – complementa a headhunter internacional Erica Zimmermmann Castelo.
Essa busca global por talentos aliada ao processo de transformação digital proporcionam, também, mais oportunidades de inclusão social e crescimento profissional para aquelas parcelas da população que estão fora do mercado de trabalho.
A gente acredita que o digital ele é o que manda hoje. Se a gente for olhar as oportunidades em relação às ocupações de cargos em tecnologia, nós veremos que 30% das vagas não são ocupadas. Se a gente consegue capacitar o nosso povo, que é 67% dos desempregados do país, a essas vagas que a gente não tem nem pessoas brancas capacitadas a elas, a gente consegue uma possibilidade de diferenciação pra esse jovem negro entrar nessa oportunidade – afirma Nina Silva, CEO do Movimento Black Money, um hub de iniciativas voltadas para a população negra, dentre as quais o programa Afreektech, que visa à formação de afro-empreendedores.
** A íntegra do Caminhos da Reportagem fica disponível no site do programa.
Edição: Nélio de Andrade