Vereador de Sorocaba diz que é ‘normal’ mulher ser assassinada e pede desculpas
Após afirmar, durante uma sessão na Câmara de Sorocaba (SP), que assassinato de mulher é “normal”, o vereador Cícero João (PSD) usou a tribuna na manhã desta terça-feira (21) e pediu desculpas pela fala.
O comentário sobre a normalidade do feminicídio foi feito no dia 16 de março, no momento em que era discutido um projeto de lei que leva o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 no Rio de Janeiro. A iniciativa tinha como objeto instituir o Dia Marielle Franco de combate à violência política em Sorocaba, mas foi rejeitada por 12 votos a sete.
Contrário ao projeto, Cícero havia dito: “Todo dia são assassinadas mulheres brancas, mulheres negras, normal.” Após a fala, a vereadora Iara Bernardi (PT) questionou: “Normal?”. E Cícero respondeu: “Dentro da normalidade de ser assassinada. Agora, foi assassinada, não temos que distinguir uma pessoa, que é exatamente aquela pessoa, foi por isso, por isso e por aquilo.”
Na sessão desta terça, o parlamentar decidiu pedir desculpas pelo ocorrido, dizendo que “às vezes comete erros e vai aprendendo a cada dia”. Ele ainda disse que “a fala não foi interpretada bem” e que “subestimou uma questão que o país inteiro defende”.
“Na sessão passada, tivemos um desentendimento aqui… Teve uma fala que não interpretou bem, mas, como já trabalhei aqui muitas vezes, meus projetos, conquistamos muitas coisas, também erramos, acertamos também. Quando a gente erra, é preciso refletir, reconhecer e, na quinta-feira passada (16), eu errei e me atrapalhei com uma palavra. Acabei subestimando uma questão seríssima do nosso país.”
“O assassinato de mulheres, feminicídio, não é normal. Infelizmente, os casos de feminicídio têm acontecido no Brasil, se tornando comuns, mas em hipótese nenhuma é considerado normal”, reforçou.
Cícero ainda disse que respeita todas as mulheres que vão até a Câmara e citou projetos de lei que protocolou em prol das mulheres.
“Sei que feri muitas mulheres, muitas das famílias, porque, pelo o que eu disse, nunca foi minha intenção. Pelo contrário, sempre admirei o trabalho das mulheres e sempre defendi nessa casa o trabalho de todas as mulheres.”
“Enfim, tudo o que aprendi, tudo o que ouvi nos últimos dias me fizeram refletir e querer lutar ainda mais por todas. Por isso, novamente, peço perdão a todas as mulheres, para todas as famílias pela forma como me referi a este crime horrível. A violência contra a mulher não é normal e deve ser combatida todos os dias”, completou o vereador.
Manifesto e pedido de cassação
Ainda nesta terça-feira (21), mais de 20 instituições de Sorocaba assinaram um manifesto que tem como objetivo denunciar e repudiar a violência política de gênero na Câmara Municipal. Além da fala do vereador Cícero, o documento cita um ataque à UFSCar feito por vereadores durante a sessão do dia 16 de março.
O manifesto afirma que os ataques fazem parte de um processo de violência política de gênero, que não se enquadra em qualquer direito à liberdade de expressão. “Representa mais um episódio de violência política de gênero e do descaso dos governantes de Sorocaba na defesa e respeito para com as mulheres”, diz.
O documento exigiu uma retratação pública da Câmara Municipal de Sorocaba:
“Posicionando-se contra a violência de gênero, das quais suas duas vereadoras foram vítimas, retratação diante da fala sobre a comunidade de mais de cinco mil pesquisadores, estudantes e trabalhadores do campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos e abertura do processo de cassação do vereador que realizou publicamente, com repercussão nacional, os ataques a todas as mulheres.”
Além do manifesto, um morador pediu a abertura de um processo disciplinar na comissão de ética e decoro parlamentar, a fim de cassar o mandato do vereador, por “banalizar o feminicídio e a violência política de gênero”.
Em nota, o Legislativo afirmou que não recebeu o documento citado, mas que “a opinião política individual dos vereadores não representa uma posição institucional da Casa”.
A Câmara de Sorocaba tem 20 cadeiras. Dessas, apenas duas são ocupadas por mulheres, sendo Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (PSOL).
Do G1