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Universitária hostilizada por ter iniciado graduação depois dos 40 anos registra BO contra estudantes

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Universitária hostilizada por ter iniciado graduação depois dos 40 anos registra BO contra estudantes

Universitária hostilizada por ter iniciado graduação depois dos 40 anos registra BO contra estudantes

Patrícia Linares, a estudante hostilizada por três colegas de turma de um centro universitário particular de Bauru (SP), registrou junto à Polícia Civil, na segunda-feira (20), um boletim de ocorrência por injúria e difamação contra as estudantes que aparecem em vídeo debochando dela pelo fato ter mais de 40 anos de idade.

No registro, Patrícia Linares Takizawa, de 45 anos, aponta que as jovens Giovana Cassalatti, Beatriz Pontes e Bárbara Calixto a trataram de forma pejorativa e discriminatória ao perguntar “como faz para desmatricular uma aluna de 40 anos” e insinuar que ela deveria estar aposentada, “porque sequer sabe mexer no Google”.

O g1 tentou contato com as jovens, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

No último dia 10, um vídeo em que outras três calouras de biomedicina debocham de Patrícia pela idade dela tomou conta da internet.

Nas imagens, uma das universitárias ironiza: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo depois, outra responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, concorda a terceira. (Veja no vídeo abaixo).

Em seguida, a estudante que grava o vídeo diz: “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”. Elas chegam a dizer que a mulher “não sabe o que é Google”.

O caso gerou repercussão em todo o Brasil, sendo comentado até mesmo pelos ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e da Educação, Camilo Santana, que repudiaram o etarismo contra Patrícia. Nas redes sociais, alunos com mais de 40 anos criaram uma corrente de apoio para a universitária.

Especialistas da área do direito já haviam alertado para a possibilidade das três alunas responderem na Justiça pelo episódio, sendo, em tese, pelos seguintes crimes:

Injúria: que é ofender a dignidade ou a honra de alguém. A pena pode ser de detenção, de um a seis meses, ou multa.
Difamação: que é ofender a reputação de alguém, mesmo que o fato seja verídico. A pena pode ser de detenção de três meses a um ano, e multa.
Violência psicológica: que é causar dano emocional à mulher mediante constrangimento e ridicularização, entre outros pontos. A pena é de reclusão de seis meses a dois anos e multa.

Após a repercussão do caso de etarismo, as três estudantes desistiram da graduação, informação que foi confirmada pela própria instituição Unisagrado no dia 16 de março.

‘Sonho de adolescência’

A caloura de biomedicina revelou que durante muito tempo adiou o sonho de cursar uma graduação, mas que, agora, finalmente conseguiu realizá-lo e não pensa em desistir.

“É um sonho de adolescência que nunca pude realizar porque tive várias interrupções de estudo. E agora também não vou desistir, o sonho não morreu dentro de mim”, afirmou ao g1.

Ao g1, Patrícia revelou que soube da hostilização na noite do dia 9 de março, dentro da sala de aula, enquanto se preparava para apresentar um trabalho, 11 dias após iniciar os estudos na instituição.

“Uma colega veio me dizer que fizeram um vídeo caçoando da minha idade, e aí ela me mostrou o vídeo. Como eu estava com muito medo do trabalho, até porque é algo novo para mim, eu comecei a chorar”, relembra.

A tristeza inicial, no entanto, logo foi substituída pela empatia gerada pela rede de apoio encontrada após a repercussão do caso. Ainda no dia 10 de março, colegas de curso encontraram Patrícia e se mostraram revoltados com a demonstração de preconceito contra ela. O grupo prestou solidariedade e entregou cartas, flores e chocolates.

Um dos apoios para a continuidade no sonho veio da idosa de Promissão (SP) que viralizou nas redes sociais ao conseguir um emprego aos 101 anos. Ela gravou um depoimento também pedindo para que Patrícia não desista dos estudos.

“Não desiste, não, minha filha. Vai estudar. Deus foi bom. Assim como fez na minha vida, vai fazer na sua também. Aproveite seu tempo e seja feliz”, incentiva a idosa.

Após ser vítima de falas etaristas, Patrícia retornou às aulas e pôde comemorar, inclusive, a chegada aos 45 anos na última terça-feira (14) ao lado dos colegas de turma, com direito a festa.

‘Brincadeira de mau gosto’

As três estudantes que aparecem no vídeo, Giovana Cassalatti, Beatriz Pontes e Bárbara Calixto, são todas maiores de idade, segundo a Unisagrado.

Logo depois da repercussão do caso, Bárbara disse está arrependida e que a gravação do vídeo foi “uma brincadeira de mau gosto”.

Ao g1, ela revelou que as imagens foram postadas inicialmente no “close friends” do Instagram (recurso que permite que o usuário selecione seguidores específicos), mas acabou saindo da roda de amigos e viralizou.

O fato também foi confirmado pela estudante Giovana Cassalati por meio de uma nota em suas redes sociais. No comunicado, a jovem afirmava ainda ter sofrido “ameaça de morte” e “linchamento virtual” após a repercussão do caso.

“Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse Bárbara.
Em nota divulgada no dia 16 de março, a defesa de Patrícia disse que “não concorda que tal fato seja tratado com violência”, uma vez que a atitude não condiz com a forma como a vítima “está tratando o assunto desde o primeiro instante”.

De acordo com o centro universitário, um processo disciplinar havia sido aberto para apurar a conduta das três jovens.

No entanto, durante o processo, Giovana Cassalatti, Beatriz Pontes e Bárbara Calixto solicitaram a desistência do curso de biomedicina. Ainda segundo a instituição, com a medida, “o processo perdeu o objeto e por isso foi finalizado”.

O que diz a universidade

Universitária hostilizada por ter iniciado graduação depois dos 40 anos registra BO contra estudantes

A Unisagrado publicou uma nota na rede social horas depois que o vídeo viralizou, mas sem fazer menção direta ao caso.

No comunicado, afirmou que não compactua com qualquer tipo de discriminação e que acredita que “todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia”.

A publicação também disse que “as oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”.

Nos comentários da publicação, várias pessoas cobraram medidas por parte da instituição. “Não vai ter uma retratação das queridas? Uma ação disciplinar? Por acho que só um posicionamento não haverá mudanças!!!”, disse uma mulher.

“Queremos uma ação disciplinar para que fiquem TODOS cientes que esse tipo de atitude é totalmente descabível e não venha se repetir nunca mais”, comentou outra.

À época, a assessoria da universidade disse que medidas em relação às universitárias envolvidas no caso estavam sendo tomadas. “Mas por respeito a todos os envolvidos estamos trabalhando no âmbito institucional e não divulgaremos”, pontuou.

De acordo com uma das jovens que aparece no vídeo, a faculdade orientou as estudantes e “deu a oportunidade de recomeçar e amadurecer, mudar nossos pensamentos e perceber que comentários assim, sendo brincadeira ou não, são levados muito a sério”.

Já no dia 16 de março, a Unisagrado confirmou a abertura do processo disciplinar contra as estudantes e a posterior desistência das alunas antes da conclusão da ação.

Preconceito com a idade

Etarismo é o nome dado à discriminação e ao preconceito relacionado com a idade de uma pessoa. Essa repulsa pode resultar, inclusive, em violência verbal, física ou psicológica.

No dia a dia, o etarismo pode se manifestar de diferentes maneiras: como piadas, infantilização ou atitudes que geram exclusão da vítima. No meio profissional, esse preconceito também se mostra em postagens de candidaturas de vagas de emprego com limite de idade ou em frases como “você está velho para isso”.

As denúncias de violações de direitos humanos podem ser feitas de maneira anônima pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100.

Do G1

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