Análise: Faça o que quiser, desde que nos obedeça
Na semana passada publiquei um texto no meu blog sobre linguagem neutra e seu verdadeiro objetivo que, obviamente não é inclusão e tolerância, mas sim, mais exclusão e divisões estúpidas. Entre os diversos comentários sobre o texto, destaco um deles abaixo, sem edição, preservando todos os erros gramaticais:
“Não sou de esquerda, mas apoio a comunidade LGBTQ+ e eu não vim aqui para te xingar, te crucificar nem nada como você diz que aliados da comunidade fazem. (Note que não estou usando linguagem neutra) Somente explicar que o uso dessa linguagem é uma escolha sua, ninguém está impondo coisa alguma além de respeito com pessoas trans/não binaries etc. A sua verdade é acreditar que a biologia só apresenta dois gêneros e ok, é o que você acredita. E não, você não é obrigada a usar linguagem neutra, o que a galera pede é que tenham empatia e respeito com quem NÃO se identifica com nenhum dos dois gêneros. Aqui estou falando de pessoas sem especificar gênero pois aprendi um pouco sobre e isso é uma verdade pra mim pois prezo pelo respeito de todos. Não gosta da linguagem neutra, não use. Mas se alguém pedir para que você trate elu em um pronome diferente, faça ou lide com o rótulo de ser transfóbica no seu canto. Sabe, não custa nada ter empatia porque isso não muda nem um pouco em nossas vidas. Abraços e tenha um bom dia.”
A pessoa não tinha a intenção de me ofender, contrariando minha fala que dizia que quem promove a linguagem costuma ofender quem não a usa. E, para me contrariar segunda vez, diz que não pretendem que a neutralidade da fala seja uma imposição. Mas, atente para a frase: “Não gosta da linguagem neutra, não use. Mas se alguém pedir para que você trate elu em um pronome diferente, faça ou lide com o rótulo de ser transfóbica no seu canto.”
Como leitora voraz desde os quatro anos e meio de idade, se tem uma coisa que aprendi, foi ler as entrelinhas. Textos costumam falar muito mais sobre o que não está escrito, pode acreditar. E esse diz claramente: “ou usa ou vai sofrer as consequências aí no seu canto, sua transfóbica!” E quem é mandado para o canto senão o excluído, aquele que não merece conviver com os demais seres superiores? Para fechar, segue o comentário original de outra leitora que me parece tão real quanto o primeiro:
“A sensação que eu tenho é que boa parte das pessoas é controladora e autoritária.
A namorada mandona, o vizinho que sabe tudo da vida dos outros e é invejoso. A esposa que poda o marido, manipula o amor dos filhos, os semeadores da discórdia. Basta ver o prazer das pessoas nesta quarentena em ter denunciado o próprio vizinho. Ou terem transformado filhos e netos em potenciais assassinos ou genocidas. Falam com prazer que quem sai de casa é genocida e vai matar os outros. Relacionamentos abusivos na família, na vida amorosa, amizades e no trabalho. Uma geração que quer ser servida dificilmente vai entender a liberdade e a importância dela.”
A geração do cancelamento, formada por pessoas com a síndrome do imperador – que se acham acima de tudo e de todos – prega empatia, tolerância e amor, mas desde que os demais obedeçam tudo o que ditam, senão…
Clique aqui para acessar o post citado no início do texto.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.